Um dos debates mais agradáveis do nosso futebol é aquele que coloca
na balança as vantagens e as desvantagens de se ter um Brasileirão por pontos
corridos ou realizado no formato que engloba uma fase inicial classificatória
para um mata-mata. E este campeonato de 2014, que caminha para seu último
terço, apresenta um dado interessantíssimo para se discutir tal assunto: líder
absoluto desde a sexta rodada, o Cruzeiro possui um desempenho pífio quando
enfrenta as equipes que brigam para terminar entre as quatro melhores.
Até o momento, o Cruzeiro disputou oito partidas contra Internacional,
São Paulo, Atlético Mineiro, Grêmio, Fluminense e Corinthians, os seis clubes
que, nesta ordem, o seguem na tabela de classificação. Destes oito embates, a
Raposa venceu apenas dois, empatou outros dois e perdeu quatro, retrospecto que
resulta em um aproveitamento de 33,3%, o mesmo que hoje possui o Palmeiras, primeiro
time na zona de rebaixamento.
Como possui uma campanha magnífica diante dos adversários que
se encontram abaixo da sétima colocação (14 vitórias, 3 empates, nenhuma
derrota e 88,2% de aproveitamento), o Cruzeiro se dá ao luxo de não precisar
encarar os jogos mais encardidos como se fossem de vida ou morte. E pode-se
dizer que muito da liderança da Raposa se dá por ter entendido que, num
campeonato por pontos corridos, um jogo contra o lanterna vale os mesmos três
pontos que um jogo contra o vice-líder.
É neste ponto que a discussão se torna ainda mais
interessante, pois começamos a perceber que o conceito de justiça não tem nada
de absoluto. Enquanto os que preferem os pontos corridos bradam que esta é a
forma mais justa de disputa, pois todos os times recebem e visitam os mesmos
adversários, os amantes do mata-mata não veem um pingo de justiça na
possibilidade de um campeão não precisar mostrar seu valor contra os rivais mais
fortes.
No próximo sábado, o Cruzeiro enfrenta o Internacional, vice-líder,
e uma vitória colorada poria não só mais fogo no torneio como também neste interminável e prazeroso debate.