Um dos jogos mais marcantes do futebol brasileiro foi Corinthians 1 x 0 Ponte Preta, que tirou o a equipe do Parque São Jorge de uma fila de 23 anos sem conquistar o Campeonato Paulista. Porém, exatamente antes deste longo jejum, poderíamos também dizer antes da “Era Pelé”, o Corinthians contava com o que foi, para muitos, o maior time de sua história.
Na primeira metade da década de 50, mais do que nunca o Corinthians merecia ser chamado de Timão. A equipe alvi-negra conquistara, naquele início de década, 3 Campeonatos Paulistas (1951, 1952 e 1954) e 3 Torneios Rio-São Paulo (1950, 1953 e 1954). Foi também nesta época que o Corinthians conseguiu seu primeiro título internacional, a Pequena Copa do Mundo de Caracas.
O torneio contaria com 4 equipes: Barcelona, Roma, Seleção de Caracas e Corinthians. Vamos falar um pouco sobre os adversários da equipe brasileira.
Barcelona: O atual Campeão Espanhol era o favorito ao título e contava com Lazslo Kubala. Muito pouco comentado atualmente, Kubala foi um dos maiores jogadores da década de 50, tendo marcado em sua passagem pelo clube catalão 249 gols em 329 partidas (0,75 gols por jogo). No “Guia dos Craques” lançado pela Revista Placar, ele está selecionado como um dos 100 maiores jogadores de todos os tempos. Um verdadeiro gênio da bola.
Roma: Se existia um time que faria o Corinthians tremer, este era a Roma. O motivo? A equipe romana contava em seu ataque com ninguém menos que Alcides Gighia. Todos conhecem a história da Copa do Mundo de 1950, quando o Brasil perdeu por 2 a 1 para o Uruguai e deixou escapar o título mundial. Então... O homem que calou o Maracanã ao marcar o gol da vitória uruguaia foi Gighia.
Seleção de Caracas: A Pequena Copa do Mundo de Caracas havia sido criada para popularizar o futebol na Venezuela, portanto era lógico haver uma equipe local no torneio. Os anfitriões seriam representados por um selecionado de Caracas, que contava com Luís Borracha, lendário goleiro do Flamengo na década de 40, apelidado assim por sua grande elasticidade.
Podia se falar que o Coringão em 1953 era um time completo. Eram tantos excelentes jogadores que quem vestia a camisa 1 não possuía a vaga garantida. Ora jogava Cabeção, ora jogava Gilmar. Durante o torneio na Venezuela Cabeção foi o escolhido para a posição. Suas atuações eram tão seguras que ele chegou a ser convocado para disputar a Copa do Mundo de 1954, sendo o reserva de Castilho. Mais tarde Gilmar assumiria a vaga de titular de vez e teria passagem marcante pela Seleção Brasileira, se sagrando Bi-campeão Mundial em 1958 e 1962.
As grandes atuações dos goleiros alvi-negros se deviam muito à qualidade dos jogadores que os protegiam. O zagueiro-central Olavo era a seriedade e firmeza em pessoa e o lateral-direito Idário era um dos grandes ídolos da torcida corintiana, tamanha raça que demostrava em campo. Estes dois defensores, juntos, possuem nada menos que 989 jogos pelo Timão. Na frente da linha defensiva alvi-negra, podia-se encontrar um jogador que era sinônimo de classe, elegância e categoria. Vocês podem até achar estranho estes atributos em um volante, porém Roberto Belangero não era um volante qualquer. Além de um exímio marcador, possuía todos os requisitos necessários para levar sua equipe ao ataque.
Se o sistema defensivo do Corinthians se saía muito bem, o ofensivo era espetacular. Só para se ter uma idéia, durante a campanha do título do Campeonato Paulista de 1951 a equipe foi a primeira, da história do futebol profissional no Brasil, à ultrapassar a marca dos 100 gols no torneio paulista (o Santos havia conseguido este feito na era amadora, em 1927). Foram nada menos que 103 gols em 28 jogos (3,67 gos por jogo) sendo que a maioria deles contou com a participação do trio Cláudio, Luizinho e Baltazar.
O ponta-direita Cláudio possuía um chute tão perfeito que se tornou simplesmente o maior artilheiro da história do Corinthians com 306 gols. Além de ótimo finalizador, sua capacidade de organizar e liderar a equipe lhe renderam o apelido de “Gerente”. Além de Cláudio, Baltazar também sabia, como poucos, balançar as redes adversárias. Se Cláudio dominava com perfeição os chutes, Baltazar era mestre nas cabeçadas. Marcou tantos gols de cabeça (71 dos 267 marcados pelo Corinthians) que ficou conhecido como “Cabecinha de Ouro”. Para completar o trio, o jogador que era a verdadeira diversão da torcida: Luizinho, o “Pequeno Polegar”. Seu pequeno tamanho e gigante talento, o faziam ser imarcável dentro de campo. A cada drible aplicado nos altos e largos zagueiros adversários, a galera corintiana ia ao delírio. Foi um jogador tão querido da torcida corintiana, que um dia o presidente Alfredo Ignácio Trindade respondeu, uma proposta para negociá-lo, da seguinte maneira: “Se vendê-lo, a torcida me mata e incendeia o Parque São Jorge.”*.
Iniciado o torneio, o Timão deu um show atrás do outro. A princípio a disputa seria em turno único, com todos os participantes se enfrentando. O Corinthians estreou no dia 14 de julho de 1953 vencendo a Roma por 1 a 0, com gol de Luizinho. Logo depois, um disputadíssimo jogo contra o Barcelona e outra vitória do Timão, desta vez por 3 a 2, com dois gols de Luizinho e um de Carbone. O jogo que fecharia o torneio para a equipe brasileira foi mais um triunfo, sobre a Seleção de Caracas, por 2 a 1, gols de Cláudio e Carbone. Porém, o torneio não terminou. Houve uma mudança no regulamento e criaram um segundo turno. Sem problemas para o Coringão. Foram, acreditem, mais 3 vitórias. A primeira delas conta o Barcelona por 1 a 0, gol de Goiano. Esta vitória deu o título ao Corinthians, que com 4 jogos e 4 vitórias, não poderia mais ser alcançado. Mesmo que os dois últimos jogos tenham sido para cumprir tabela, a aula de futebol continuou. 2 a 0 contra a Seleção de Caracas (gols de Cláudio) e 3 a 1 contra a Roma (um gol de Cláudio e dois de Luizinho).
Ao final do torneio, o Corinthians levantou seu primeiro troféu internacional com uma campanha incrível: 6 jogos, 6 vitórias, 12 gols marcados, 4 gols sofridos e Luizinho sagrando-se artilheiro da competição com 5 gols. O que ficou, porém, na memória dos torcedores venezuelanos não pode ser medido. Os dribles de Luizinho, os chutes perfeitos de Cláudio, as defesas de Cabeção, a classe de Roberto, a raça de Idário...
Equipe-base: Cabeção; Homero e Olavo; Idário, Goiano e Roberto; Cláudio, Luizinho, Vermelho, Carbone e Mário. Técnico: Rato
Também atuaram: Sula, Julião, Baltazar, Nardo e Souzinha.
*http://pt.wikipedia.org/wiki/Lu%C3%ADs_Trochillo
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