Grandes Clássicos - São Paulo x Palmeiras 1971
Olá amigos do FUTEBOLA!
O Brasileirão ainda não começou a pegar fogo, até por causa da Copa do Brasil e da Libertadores, porém, clássico é clássico e neste domingo teremos São Paulo x Palmeiras. Se hoje os dois times são fortes, em 1971 eles eram verdadeiras Seleções numa época em que o nosso futebol era o maior do planeta. Neste ano, o Verdão e o Tricolor decidiram o Paulistão em uma final emocionante que agora lhes conto como foi.
No início da década de 1970, não seria nenhum exagero afirmar que os maiores jogadores do mundo se encontravam em São Paulo. Só para citar exemplos pontuais, tínhamos Pelé (Santos), Rivelino (Corinthians), Gérson (São Paulo) e Ademir da Guia (Palmeiras). Com exceção do alvi-verde Ademir, o que por sinal muitos consideram sua ausência na Seleção uma grande injustiça, os outro craques haviam sido pilares da conquista do Brasil na Copa do Mundo de 1970. Não só o futebol paulista, mas o brasileiro em geral, estava vivendo sua época de ouro. Grandes craques internacionais como os zagueiros Ancheta, uruguaio, e Figueroa, chileno, dois dos melhores em suas posições, optaram por vir jogar no Brasil, respectivamente no Grêmio e Internacional, tamanho alto nível do nosso futebol. Se aproveitando desta época gloriosa, onde em nossos gramados se jogava o melhor futebol do mundo, o São Paulo foi em busca de uma contratação qua abalaria o futebol brasileiro.
Na década de 60, o Peñarol era sem sombras de dúvidas um dos maiores times do planeta. A equipe uruguaia havia conquistado a Taça Libertadores em 1960, 1961 e 1966, sendo que após as duas últimas, também conquistou o Mundial de Clubes. Some a estas conquistas continentais, nada menos do que 7 Campeonatos Uruguaios e está colocada em números a força do Peñarol. Um dos maiores jogadores uruguaios, talvez o maior, nesta época, era o meia Pedro Rocha, que em 1970 disputou sua terceira Copa do Mundo. Todos os apreciadores do bom futebol esperavam muito de Pedro Rocha na Copa do México, porém uma contusão, logo na estréia, não os permitiu ver toda a magia do uruguaio. Para se ter uma idéia da qualidade de Pedro Rocha, no final da década de 60, mais exatamente em 1968, a FIFA convocou uma Seleção com os melhores jogadores do mundo e ele estava presente. Juntamente com a convocação, veio uma lista de Pelé com os cinco maiores jogadores do mundo na opinião do rei e Pedro Rocha também estava nela. Pois é, foi este craque que o São Paulo foi buscar para fortalecer a equipe na busca pelo Bi-Campeonato Paulista, em 1971.
Reza a lenda, que Pedro Rocha demorou a se adaptar ao futebol brasileiro por ser boicotado pelos seus companheiros de time. O São Paulo contava com muitos cobras, o que poderia ter gerado um certo ciúme do uruguaio, e um outro ponto de insatisfação teria sido a mudança na organização da equipe, já que Pedro Rocha jogava na mesma posição de Gérson. O “Canhotinha de Ouro” já era um jogador consagrado no Brasil e, logo após sua chegada ao São Paulo, ele ajudou a equipe a sair de um jejum de 13 anos sem o título paulista, com o título estadual de 1970, se tornando um grande ídolo tricolor. Um outro fator que também desestabilizou a cabeça dos atletas são-paulinos, foi um problema cardíaco que atingiu o líder da equipe Roberto Dias. Maior jogador tricolor na sofrida década de 60, onde todos os esforços da diretoria eram investidos na construção do Morumbi, o zagueiro Roberto era um verdadeiro símbolo do São Paulo, que agora não poderia mais estar nos campos. Porém, com o tempo e a competência do lendário treinador Osvaldo Brandão, para a felicidade dos torcedores tricolores, Pedro Rocha conseguiu se encaixar com seus companheiros e com o sistema da equipe. A primeira mostra da genialidade do uruguaio veio na 4ª rodada do Paulistão de 1971. O São Paulo iria enfrentar o Palmeiras, que havia vencido os seus três primeiros jogos da competição, logo após ser derrotado pela Portuguesa. Um novo revés poderia ser o início de um período ruim para o Tricolor e, para assustar mais ainda, o Palmeiras saiu na frente na partida. Foi aí que Pedro Rocha começou a entrar para a galeria de ídolos do São Paulo, ao marcar os dois gols da virada e evitar que o Palmeiras disparasse na ponta da tabela.
Esta vitória se tornou ainda mais importante com o desenrolar do torneio, que a cada rodada que passava mostrava que a briga pelo título seria mesmo entre Palmeiras e São Paulo. Impressionante que estes dois times tenham mantido um rendimento tão alto, retirando o Santos de Pelé e o Corinthians de Rivelino da disputa pelo caneco. Assim como o São Paulo, o Palmeiras era uma equipe sensacional. Do goleiro ao ponta-esquerda, o Verdão possuía uma penca de craques: o grande e seguro goleiro Leão, o técnico e raçudo zagueiro Luís Pereira, o guerreiro clássico Dudu e o rápido e mortal Leivinha. Todas as estrelas girando ao redor do sol alvi-verde, chamado de Ademir da Guia.
O “Divino”, como era conhecido Ademir, era um daqueles jogadores geniais dentro e fora de campo. Mesmo sua aparência tímida e tranquila não o impedia de liderar uma equipe recheada de craques, pois todos os jogadores viam o exemplo de atleta que era. Jogador de técnica rara, até mesmo para os padrões da época, era Ademir quem fazia o Palmeiras jogar. Com passes e lançamentos precisos e preciosos, Ademir possuía a incrível capacidade de iniciar uma jogada e ele mesmo concuí-la. Um fato interessante de se perceber é que, neste início dos anos 70, muitas equipes brasileiras começavam a se organizar em campo com um atacante mais recuado, ficando com três homens na linha de meio-campo. Um exemplo disto era o próprio São Paulo, com um trio formado por Édson/Gérson/Pedro Rocha que para muitos é o maior meio-de-campo da história tricolor. O Palmeiras, entretanto, permanecia com seus 4 atacantes e Dudu e Ademir tomando conta do meio. Dudu defendia contando com a ajuda de Ademir e Ademir atacava contando com a ajuda de Dudu. Talvez somente Pelé e Coutinho, no início dos anos 60, se entendessem tão bem quanto a dupla de meias do Verdão.
Como havia citado anteriormente, com o caminhar do 1º turno, a briga pelo título foi se polarizando entre São Paulo e Palmeiras. A última rodada deste turno foi simplesmente espetacular. Palmeiras e São Paulo encontravam-se empatados na tabela de classificação. Os jogos seriam Palmeiras x Corinthians e Guarani x São Paulo. Enquanto o Palmeiras abria 2 a 0 no Timão, com 8 minutos de jogo, o Canhotinha Gérson era expulso no jogo em Campinas. O torcedor tricolor não teve como não se desesperar. Porém, o incrível aconteceu. Em uma das maiores viradas do futebol brasileiro, o Corinthians bateu o Palmeiras por 4 a 3 e o Tricolor venceu heroicamente o Bugre por 1 a 0. Mantendo o ritmo do 1º turno, São Paulo e Palmeiras não deram chances aos seus rivais e chegaram a última rodada do torneio com apenas 1 ponto os separando. Este ponto a mais pertencia ao São Paulo que teria a vantagem de empatar a partida derradeira contra o... Palmeiras. Isso mesmo. O título de Campeão Paulista de 1971 seria decidido em um único jogo. Leão, Luís Pereira, Dudu, Gérson, Pedro Rocha, Ademir da Guia, Leivinha, Toninho Guerreiro... Em nenhum lugar do mundo se jogava um futebol como o que iria se jogar no Morumbi naquela tarde de junho de 1971.
Não é necessário falar que a cidade de São Paulo parou no dia 27 de junho. O público presente no Morumbi ultrapassava 110 mil torcedores e, tenho certeza, nenhum deles saiu do estádio com as unhas inteiras. O jogo foi de uma intensidade comum as grandes decisões e tudo podia se esperar desde o primeiro ao último minuto. Logo no início da partida, 5 minutos após o apito do árbitro Armando Marques, o zagueiro alvi-verde Minuca escorou mal um cruzamento do ponta tricolor Paraná e a bola sobrou nos pés de Toninho Guerreiro. Não tinha outra alternativa para a pelota a não ser parar no fundo da rede. A grandiosidade de craques produzidos no nosso país, faz com que alguns deles recebam menos méritos do que merecem e Toninho Guerreiro é um exemplo deste caso. No final da década de 60, Toninho fazia parte do segundo esquadrão do Santos que foi Tri-Campeão em 67/68/69 e marcou quase 300 gols pelo Peixe, se sagrando ainda artilheiro do Paulistão de 1966. Após ser contratado pelo São Paulo, logo no primeiro Campeonato Paulista disputado, em 1970, também terminou no topo da artilharia sendo muito importante na conquista tricolor. Agora, nesta decisão contra o Palmeiras, Toninho escrevia mais uma página de sua gloriosa história ao marcar este gol logo aos 5 minutos de jogo.
Após o gol sofrido, o Palmeiras acusou o golpe. Mesmo precisando somente do empate para levantar a taça, o São Paulo, percebendo que o Verdão estava abalado, partiu para cima e levou muito perigo à meta defendida por Leão. Os meias tricolores, e até Toninho Guerreiro, exploravam a velocidade dos pontas Paraná ,“um trator pela ponta-esquerda”*, e Terto que “era um foguete”*. Até o fim da 1ª etapa, o jogo permaneceu desta maneira. O São Paulo pressionando e o Palmeiras pouco conseguindo produzir. Manter a postura seria o ideal para o Tricolor no 2º tempo, mas não foi o que ocorreu. Talvez por relaxamento, talvez por cansaço, o São Paulo decidiu recuar e, claro, o Palmeiras foi pra cima. Aos 22 minutos, o lance que entraria para a história. Em um dos lances em que a equipe alvi-verde abafava o São Paulo, a bola sobra na direita para o lateral Eurico que cruza na cabeça de Leivinha. Exímio cabeceador, Leivinha escora a bola para o fundo das redes. Era o gol da esperança palmeirense. Com mais de 20 minutos de jogo pela frente, seria difícil o Tricolor segurar o forte ataque verde. Porém, Armando Marques anulou o gol por acreditar ter sido marcado com a mão. Até hoje, os jogadores do Verdão que estavam em campo reclamam deste lance. Os torcedores então, afirmam que se o gol tivesse sido validado, a taça seria do Palmeiras. O fato é que após o gol anulado, o Verdão perdeu o controle do jogo e dos nervos, como ilustram as expulsões de Eurico e Fedato, e não teve força para buscar a virada.
O apito final colocou na história um dos maiores times que o São Paulo já possuiu, consagrando um trio de meias, Édson, Gérson e Pedro Rocha, que quem viu nunca vai esquecer. Quem também entrou para a história com esta conquista, foi Toninho Guerreiro. Após o Tri paulista de 67/68/69, com o Santos, Toninho agora era bi com o São Paulo, conseguindo a façanha de vencer 5 Campeonatos Paulistas seguidos, sendo o único, até hoje, a conseguir este feito.
São Paulo 1 x 0 Palmeiras
27 de junho de 1971
Morumbi – Público: 103887 pagantes
Gol: Toninho Guerreiro (SPa) aos 5´ do 1º tempo
São Paulo: Sérgio; Forlan, Jurandir, Arlindo e Gilberto Sorriso; Édson, Gérson e Pedro Rocha (Carlos Alberto); Terto, Toninho Guerreiro e Paraná. Técnico: Osvaldo Brandão
Palmeiras: Leão; Eurico, Luís Pereira, Minuca e Dé; Dudu e Ademir da Guia; Edu, Leivinha, César e Pio (Fedato). Técnico: Mário Travaglini.
*Mini-Enciclopédia do Futebol Brasileiro – Lance!
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