Botafogo e São Paulo estão crescendo a cada rodada no Brasileirão deste ano. Quando estes dois gigantes do nosso futebol se encontraram em 1981, o que estava em jogo era uma vaga na finalíssima do Brasileiro. A partida foi digna de um Campeonato que contava com grandes estrelas do futebol mundial, com emoção do início ao fim. Vamos ver como foi este jogão de bola.
No início da década de 80, uma geração de grandes craques começava a se consolidar no Brasil. Era uma época onde as nossas estrelas desfilavam seus talentos em gramdos nacionais. Raros eram os jogadores que tinham sua qualidade reconhecida no exterior e atuavam fora do país, afinal as informações “viajavam” em uma velocidade muito menor do que hoje em dia. Sorte nossa. No Campeontato Brasileiro de 1981, eram tantos times fortes que seria impossível apontar somente um único favorito.
Para se ter um idéia do quão disputado era o Brasileirão, imaginem a seguinte equipe: Paulo Vítor (Fluminense); Zé Maria (Corinthians), Luisinho (Atlético Mineiro), Edinho (Fluminense) e Wladimir (Corinthians); Delei (Fluminense), Toninho Cerezo (Atlético Mineiro) e Sócrates (Corinthians); Éder (Atlético Mineiro), Reinaldo (Atlético Mineiro) e Cláudio Adão (Fluminense), treinada pelo lendário Oswaldo Brandão (Corinthians). Esta é uma equipe tão forte, que poderia sem problema algum vestir a camisa da Seleção Brasileira, porém nem Fluminense, nem Corinthians, nem Atlético Mineiro, conseguiram alcançar a fase quartas-de-final do Brasileiro de 1981, tamanha a dificuldade do torneio.
No meio de equipes que se destacavam pela técnica, uma se sobressaía pela obediência tática. O Botafogo, treinado pelo Paulinho de Almeida, que é eleito constantemente e por diferentes fontes como o maior lateral-direito do Internacional em todos os tempos, era uma equipe que tinha como pontos fortes a boa postura em campo e um mortal contra-ataque. Pode-se dizer que o Fogão era um time de operários que sabiam muito bem o que fazer dentro das quatro-linhas. Talvez em nenhum momento da história alvi-negra o apelido de “Estrela Solitária” tenha caído tão bem, pois toda a categoria presente na equipe botafoguense estava nos pés do meia Mendonça. O jornalista Roberto Porto, um ilustre alvi-negro, mediu assim a qualidade técnica do camisa 8: “Um craque certo num momento errado, porque aquele Botafogo não estava à altura do Mendonça.”*. Sobre o momento que vivia o Fogão, vale ressaltar que a equipe não conquistava um título desde o Campeonato Carioca de 1968.
O Botafogo começou muito mal o Brasileirão de 1981. Derrotas para a Portuguesa, o Goiás e o Galícia (BA), quase eliminaram o Bota ainda na fase inicial do torneio. Já na etapa seguinte, a equipe mostrou evolução e, em um grupo que contava com Santos Bangu e Mixto(MT), conquistou 3 vitórias e 3 empates se classificando de maneira invicta. Porém, foi somente na fase final daquele Brasileiro que o Fogão mostrou que a conquista do título poderia ser real. Nas oitavas-de-final, a equipe passou com tranquilidade pelo CSA, garantindo a vaga para enfrentar o Flamengo. O ano de 1981 se tornaria o mais importante da história rubro-negra, após a conquista do Carioca, da Libertadores e do Mundial de Clubes, entretanto, o Bi-campeonato Brasileiro do Mengão teria que esperar mais um pouco. Com vitórias em ambos os duelos, o Botafogo eliminou o favorito Flamengo, de Zico e companhia, de maneira sensacional. Após vencer a primeira partida por 1 a 0, o Fogão deu um verdadeiro show no jogo de volta, vencendo por 3 a 1, com uma atuação inesquecível de Mendonça. O Flamengo havia saído na frente, com um gol de Zico, aos 4 minutos, mas Mendonça empatou a partida logo antes do intervalo, tranquilizando a torcida alvi-negra. Com o andamento do 2º tempo, o Flamengo se abria cada vez mais em busca da classificação, cedendo espaços para o forte contra-ataque botafoguense. Aos 40 minutos, o atacante Jérson praticamente fechou o caixão do Flamengo, após passe de Mendonça, e aos 43, todos os mais de 130 mil torcedores presentes ao Maracanã deveriam comprar outro ingresso. Após cruzamento de Édson da direita, Mendonça, dentro da área, mata a bola no peito. O lateral da Seleção Brasileira, Júnior, vem sedento em sua marcação e o alvi-negro dá um toque de letra na pelota para trás e em seguida, com uma velocidade impressionante, a puxa para frente, deixando o “Capacete” perdido. O gol em seguida foi um simples detalhe, diante de um drible tão espetacular. No hall dos elevadores do Maracanã, havia um pôster mostrando este drible, porém os torcedores do Botafogo, não se sabe ainda o motivo, não podem mais se deliciar com a homenagem ao Mendonça, pois a imagem foi retirada do local.
O adversário do Botafogo na semi-final seria o São Paulo, uma verdadeira Seleção. Começando pelo goleiro Waldir Perez, que já conquistara um Brasileirão com o São Paulo, em 1977. Mesmo considerado inseguro por alguns torcedores, principalmente os rivais, Waldir contava com a confiança do treinador da Seleção Brasileira, Telê Santana, e foi o dono da posição na Copa do Mundo de 1982. A dupla de zaga do São Paulo foi uma das maiores da história do clube. Oscar e Daryo Pereira davam toda a segurança necessária para o Tricolor mostrar seu futebol esbelto e ofensivo. Toda a imponência e seriedade de Oscar também estiveram a serviço da Seleção, nas Copas de 1978 e 1982. Já Darío Pereyra, não podia servir o Brasil. Mas não pensem que foi por falta de qualidade, afinal Darío foi um dos raros zagueiros que conseguiu aliar raça e técnica em altíssimo nível. É que o craque era uruguaio.
Como citei anteriormente, o São Paulo era uma equipe muito ofensiva. O lateral-esquerdo, Marinho Chagas, por exemplo, era incisivo não só pelos lados do campo, mas também pela faixa central. Se hoje é normal os laterais centralizarem as jogadas, na época era um inferno para o sistema defensivo adversário quando um lateral, ainda mais da qualidade de Marinho, saía de sua posição para organizar jogadas pela meiúca. Meiúca esta que contava com o excelente Renato “Pé Murcho”, um dos pilares do Guarani, Campeão Brasileiro de 1978 e reserva imediato de Zico na Copa do Mundo de 1982. Renato possuía este apelido pois seu chute era muito fraquinho, porém esta deficiência era compensada pela habilidade e inteligência que ele demostrava no meio-campo.
Como se não bastasse um lateral perigosíssimo e um meia que deixava qualquer defesa de cabelo em pé, o São paulo ainda contava com um ataque de encher os olhos. Pela ponta-direita, Paulo César dava tanto trabalho aos adversários que era conhecido como “Capeta”. Já pelo outro lado, era Zé Sérgio quem criava as jogadas tricolores. Aliando grande velocidade e facilidade para driblar, Zé Sérgio só era parado na base da pancada, o que lhe deixou por muitas vezes no departamento médico. O jogador que tinha a responsabilidade de aproveitar as inúmeras oportunidades de gols criadas pela impetuosa dupla de pontas era o catimbeiro Serginho. Amigos, o “Chulapa”, como era conhecido por seus pés grandes, balançou tantas redes que até hoje é o maior artilheiro da história do São Paulo, com 242 gols marcados.
O retrospecto do São Paulo, até a semi-final do Brasileirão, foi muito mais animador do que o de seu rival, o Botafogo. Nos 15 jogos envolvendo as duas primeiras fases, foram 8 vitórias e apenas 1 derrota. E tem mais! Se o Botafogo havia ganhado moral ao eliminar o poderoso time do Flamengo, a vida do São Paulo também não tinha sido nada fácil. Nas oitavas o Tricolor eliminou o Santos e nas quartas, o forte Internacional de Benítez, Mauro Galvão e Rúben Paz. Somando os 4 duelos desta fase decisiva, contra Santos e Inter, o Sampa havia conseguido nada menos do que 4 vitórias. Se o São Paulo era considerado favorito pelo retrospecto e pelos craques, a situação ficou mais complicada para o Tricolor, após perder o primeiro jogo, por 1 a 0, no Maracanã. Sendo assim, na partida de volta, qualquer vitória simples classificaria o estrelado time do São Paulo, já um empate era o suficiente para o inteligente Botafogo avançar a finalíssima.
Dia 26 de abril de 1981, o Morumbi estava completamente lotado para o duelo que iria decidir quem continuaria na briga pelo título de melhor equipe do país. O torcedor tricolor estava esperançoso, afinal torcia para uma equipe de craques e precisava de uma simples vitória. Pelo outro lado, o Botafogo poderia colocar em pratica a sua maior arma, o contra-ataque, já que o São Paulo teria que sair para o jogo. O que surpreendeu na equipe botafoguense, entretanto, foi a tranquilidade mostrada no início da partida, quando se esperava um São Paulo colocando fogo no jogo. O Fogão estava organizado defensivamente, tocava bem a bola e gastava bastante tempo em cada defesa do goleirão Paulo Sérgio. Foi neste tom que o lado-esquerdo alvi-negro encontrou uma brecha no sistema defensivo paulista, quando os atacantes Jérson e Marcelo tabelaram com muita qualidade, logo aos 10 minutos de jogo, e Jérson colocou a pelota no fundo das redes.
O torcedor tricolor ficou atortoado. O time, mais ainda. Tentando buscar a vitória de maneira afoita, o Sampa deixava buracos atrás que não deveria. Aos 19 minutos, o lateral-direito botafoguense Perivaldo, que diga-se de passagem jogou uma barbaridade neste Brasileiro, sendo eleito o melhor do torneio em sua posição, puxou um rápido ataque e Mendonça, o craque alvi-negro, completou a jogada com a maestria de sempre. 2 a 0 Fogão. Era possível escutar o zumbido de uma mosca, tamanho o silêncio que assolava o Morumbi. Em 20 minutos o Botafogo mostrou uma consciência tática de fazer inveja à muitas equipes representantes do tão badalado “Futebol Total”.
Buscando modificar o panorama do jogo, o São Paulo havia substituído o meia Heriberto pelo Éverton, mais ofensivo e, principalmente, que chutava muito bem. Entretanto, o dia parecia ser mesmo alvi-negro. Jogada de Paulo César pela esquerda, cabeçada de Serginho e defesaça de Paulo Sérgio. Outra boa jogada do “Capeta”, Serginho perde a disputa na área e Éverton, já mostrando o motivo de sua entrada, manda um petardo para outra bela defesa do goleirão do Botafogo. Mostrando que o São Paulo realmente estava mais solto em campo, Marinho Chagas aparece pelo meio organizando uma jogada e a finalizando de chute longo, também defendido por Paulo Sérgio. Somente aos 44 minutos, após um pênalti muito discutível do zagueiro Gaúcho, em Serginho Chulapa, a muralha Paulo Sérgio foi perfurada, pelo próprio atacante tricolor. Este gol animou, e muito, o São Paulo, pois se a equipe fosse para o vestiário perdendo por 2 gols, retornaria para a 2ª etapa somente para fazer número.
O intervalo da partida foi uma verdadeira loucura. Jogadores botafoguenses foram ameaçados por seguranças locais e muitos dizem que até o trio de arbitragem foi muito pressionado. Em um determinado momento, no vestiário do Botafogo, decidiu-se que a equipe não retornaria ao gramado, porém o Presidente da FERJ (Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro), Octávio Pinto Guimarães, demoveu todos desta idéia. O intervalo durou nada menos que 28 minutos e o Botafogo voltou para a partida completamente perdido. Também pudera, ao invés de tentar aparar as arestas da equipe, que fizera um bom 1º tempo, a conversa no vestiário foi sobre voltar, ou não, para o gramado.
O São Paulo se aproveitava do estado de espírito botafoguense e pressionava. Muito forte ofensivamente, o Tricolor se utilizava de suas já conhecidas armas. Novamente Serginho cabeceia uma bola, desta vez cruzada por Zé Sérgio, para sensacional defesa de Paulo Sérgio. Marinho Chagas também repetiu a dose da 1ª etapa e mandou uma bomba que passou raspando a trave. O Botafogo até conseguiu escapulir em um contra-ataque, desperdiçado pelo Ziza, porém a equipe carioca era só chutão para onde o nariz apontava. Aos 21 minutos, um dos momentos mais belos já presenciados no Morumbi. Após escanteio cobrado por Zé Sérgio, o volante alvi-negro Rocha tira a pelota para a entrada da área. Neste momento aparece o meia Éverton, o mesmo que a torcida pedira a entrada após o segundo gol do Botafogo, acertando uma bomba de primeira, sem deixar a bola quicar, no ângulo. Indefensável. Inacreditável. 2 a 2 no placar e o Morumbi voltava a tremer. As palavras do arqueiro botafoguense, Paulo Sérgio, são perfeitas para explicar como o Botafogo absorveu o golpe: “2 a 2 e a casa caiu. Ali a gente já sabia que não dava mais pra segurar. Enfim, já tinha ido pro espaço.”**
Se a virada tricolor parecia mesmo ser uma questão de tempo, aos 26 minutos, com a expulsão do defensor botafoguense, Gaúcho Lima, ela se tornou inevitável. Logo após ficar com um homem a mais em campo, o herói da partida, Éverton, aproveita um passe de Darío Pereyra, de cabeça, mal dominado por Serginho, para desempatar a partida. Não era dia do Botafogo. De maneira inexplicável, o Fogão quase empatou a partida, primeiro com Perivaldo cobrando falta no travessão e, em seguida, com o tricolor Assis obrigando Waldir Perez a evitar um golaço contra. Porém, o dia era do São Paulo. Era de Éverton.
Passado estes dois sustos, o Tricolor apenas administrou o resultado para garantir a vaga na finálissima do Brasileirão de 1981. O apito final do árbitro Bráulio Zanotto fez o Morumbi explodir como se fosse a comemoração de um campeonato. Mais de 100 mil torcedores comemoravam uma vitória histórica, que ainda veio recheada com um dos gols mais bonitos do nosso futebol. Na Entretanto, o título só seria disputado na semana seguinte, contra o Grêmio. Mas aí meus amigos, já é outra história...
São Paulo 3 x 2 Botafogo
26 de abril de 1981
Morumbi – 98650 pagantes
Gols: 1º tempo: Jérson (Bot) aos 10´, Mendonça (Bot) aos 19´ e Serginho (SPa) aos 44´; 2º tempo: Éverton (SPa) aos 21´ e Éverton (SPa) aos 32´.
São Paulo: Waldir Peres; Getúlio, Oscar, Darío pereyra e Marinho Chagas; Almir, Heriberto (Éverton) e Renato (Assis); Paulo César, Serginho e Zé Sérgio. Técnico Carlos Alberto Silva
Botafogo: Paulo Sérgio; Perivaldo, Gaúcho, Zé Eduardo e Gaúcho Lima; Rocha, Ademir Lobo e Mendonça (Gilmar); Ziza (Édson), Marcelo e Jérson. Técnico: Paulinho de Almeida.
*http://portoroberto.blog.uol.com.br/arch2008-08-10_2008-08-16.html
** Programa Jogos para Sempre – Canal SporTV
Diano velho de guerra!!!
ResponderExcluirEu vi esse jogo no Programa "Jogos para sempre" e fico com essa idéia de que os jogadores do Botafogo e trio de arbitragem foram ameaçados pelos seguranças do São Paulo. Senão o intervalo não teria durado 28 minutos e com isso o time alvinegro foi desmotivado para o 2º tempo que culminou a virada tricolor
Foi uma roubalheira histórica, isso sim. Um dos maiores escândalos de arbitragem da história do futebol brasileiro.
ExcluirPrimeiramente, muito bom o blog. Vou visitar sempre.
ResponderExcluirBotafogo vs São Paulo é sempre um clássico importante e bom jogo.
Nessa derrota do Botafogo por 3x1 para o São Paulo. O Botafogo jogou bem melhor o primeiro tempo e quando levou um gol de pênalti que não foi, o time se entregou de vez no segundo tempo e isso que não entendo no Botafogo.
Em vez de lutar para tentar pelo menos consegui um empate, o time se entrega quando leva o gol.
Dêus colocou o seu artilheiro(Baltazar), para fazer justiça!!!!
ResponderExcluirEste comentário foi removido por um administrador do blog.
ResponderExcluirnão entendo porque o São Paulo ficou com a vaga se foi uma vitória para cada um.
ResponderExcluireu também não entendi, pois aqui no Maraca foi 1x0 Bota e lá foi 3x2 Sampa! Qual era o critério pra classificação?? Gols fora de casa? Melhor campanha?
ResponderExcluirSP tinha a vantagem do empate. Melhor campanha.
ExcluirCritério de melhor campanha, melhores gandulas praticantes de MMA, melhores seguranças trogloditas, melhor trio de arbitragem com diarreia e melhor adversário desnorteado. Lamentavelmente, isso tudo.
ResponderExcluirSim, eu vi esse jogo, o pênalti contra o Fogão foi uma vergonha, agora ninguém entende porque o Paulinho de Almeida tirou o Mendonça
ResponderExcluirCADÊ O NOME DO JUIZ LADRÃO E MEDROSO? SE O SÃO PAULO NÃO SAISSE COM A VITÓRIA, OS JOGADORES DO BOTAFOTO CORRIAM RISCO DE VIDA! VERGONHA!O AGORA O NOME DO CAFAJESTE DO JUIZ E ATÉ JÁ MORREU, TOMARA QUE ESTEJA NO INFERNO: Bráulio ZONOTTO, DO PR!
ResponderExcluir