Em um intervalo de dias que quase podemos contar nos dedos, os nomes dos dois maiores goleiros do futebol brasileiro desde a aposentadoria do Taffarel começaram a aparecer acompanhados da pequena, mas tenebrosa, palavra “dor”. A do palmeirense Marcos, nos joelhos, o fez pendurar as luvas, enquanto a do tricolor Rogério Ceni, no ombro, o deixará alguns meses fora dos gramados.
Coincidentemente juntas no tempo, as dores de Marcos e Ceni não são as primeiras nem serão as últimas sentidas por aqueles que vestem a camisa número um. Dois casos de contusões de goleiros, porém, chamam a atenção pelo amor ao trabalho e pela total falta de vaidade, no sentido ruim da palavra, dos seus protagonistas. E que protagonistas! Falo de Castilho e Manga, nomes obrigatórios em qualquer eleição que pretende apontar o maior arqueiro de nossa história.
Por ordem cronológica, comecemos por Castilho, goleiro de imensurável qualidade debaixo das traves e que sempre tinha a sorte ao seu lado, o que lhe rendeu o apelido de “Leiteria”. Corria o ano de 1957 e Castilho, já um verdadeiro símbolo tricolor, sofria com repetidas contusões no dedo mindinho da mão esquerda. Os médicos responsáveis por dar um fim ao incômodo problema, os doutores Paes Barreto e Dourado Lopes, chegaram à conclusão de que enxerto ou correção seriam as medidas mais adequadas. No entanto, o tempo em que ficaria fora dos gramados, sem poder defender as cores do seu amado Fluminense, e a falta de confiança na melhora integral do dedinho fizeram Castilho tomar uma decisão inimaginável: amputar o pedaço do dedo que tanto lhe atormentava. (http://www.futebolarj.blogspot.com/2012/01/uma-imagem_12.html)
Manga foi um goleiro tão especial que no dia 26 de abril, data de seu nascimento, comemora-se o “Dia do Goleiro”. Se apenas um clube pudesse escolher o Manga para ser o melhor goleiro de sua história, haveria uma verdadeira guerra entre Sport, Botafogo, Internacional e o uruguaio Nacional. Manga, diferente de Castilho, enfrentou problema não com um, mas com os dois dedinhos. Seus dedos mínimos eram tão tortos, mas tão tortos, que quem não o conhecesse não acreditaria que ele ganhava a vida agarrando bolas. Os motivos para estas deformações? O arrojo de Manga. Foi em duas saídas nos pés dos atacantes adversários, uma em 1965, contra o São Cristóvão, e outra em 1967, diante do Flamengo, ambas com a camisa do Botafogo, que o goleiro fraturou os dedinhos. O detalhe é que o Botafogo já estava com a vitória encaminhada nas duas partidas e, mesmo assim, Manga continuou defendendo a meta como se fosse sua casa. Tanto em 1965 quanto em 1967, Manga retirou o gesso do dedinho antes do tempo determinado pelo médico Lídio Toledo para, assim, voltar mais rápido a salvar o Botafogo, atitude que lhe causou as deformações. (http://www.futebolarj.blogspot.com/2012/01/uma-imagem_30.html)
Quando o amigo escutar que a vida de goleiro exige sacrifícios, não deixe de lembrar destas duas legendas do nosso futebol: Castilho e Manga.
Nota: os links acima mostram imagens de Castilho e Manga, destacando os problemas que tiveram com seus dedinhos.