Campeão do Mundo e Europeu, Bola
de Prata em 1981, época onde nossos maiores craques ainda jogavam por aqui,
integrante de times inesquecíveis do América e do Ceará, passagens por gigantes
como Botafogo, Fluminense, Vasco, Internacional, Santos. Este é o craque Elói, que
nas linhas abaixo conta sua trajetória no futebol para os amigos leitores do
FUTEBOLA.
1) Primeiramente, você poderia contar como foi sua passagem pelas
categorias de base, até estrear no profissional do Juventus-SP? Participou de
muitos testes em outros times até chegar ao "Moleque Travesso"?
Quando teve a certeza de que seria jogador de futebol?
Eu comecei a jogar futebol em
Andradina (SP). Na época, não tinha jogos ao vivo na TV e era quase impossível
acompanhar um ídolo. Tinha o Rivelino como referência, pois meu pai era
corintiano, e na Copa do Mundo de 70, a primeira ao vivo, me apaixonei definitivamente
pelo futebol e a sonhar em jogar num time grande do Brasil. Andradina disputava
a 3ª Divisão de São Paulo, mas por um amigo, Wilson Periquito, que jogava no
Araçatuba, fui indicado para jogar no AEA. Aí, quando o Juventus foi fazer uma
partida amistosa contra o AEA, eu joguei muito bem e o treinador Milton Buzzeto
me levou para o “Moleque Travesso”. Fui ter a certeza de que seria um jogador
conhecido quando comecei a sonhar com situações na carreira como: jogar no
Maracanã, receber um prêmio, o Motorádio, que era dado na década de 70 para o
melhor jogador em campo, receber a Bola de Prata. E devido a minha aplicação
nos treinamentos e com a graça de Deus, consegui uma carreira que para mim foi
quase perfeita.
2) Depois de um tempinho na Portuguesa, você chegou ao
Internacional de Limeira e, no Brasileiro de 1981, apesar de sua equipe não ter
realizado um grande Campeonato, você conquistou o prêmio Bola de Prata da
Revista Placar. Quais foram os principais motivos para você ter se destacado
tanto neste Brasileirão?
O Inter de Limeira tinha um bom
time e contava com um dos melhores meias com quem já joguei, chamado Toinzinho
(ex-jogador do Santos). Como eu morava do lado do campo ficava praticando mesmo
depois dos treinos acabarem, e este foi o grande segredo.
3) Em 1982, ao lado de grandes nomes como o zagueiro Duílio e o
centroavante Luisinho Guerreiro, você conquistou a Torneio dos Campeões e a
Taça Rio com o América. Como foi fazer parte de um dos maiores times da
história do Ameriquinha?
Era o capitão do Santos e gozava
de prestígio no clube e, por isso, me acharam louco quando optei pelo América.
Porém, tinha um sonho de jogar no Maracanã e esta era a primeira oportunidade
do sonho se realizar. Por sorte minha foi o time mais família que joguei na
vida, jogadores sempre juntos com as esposas, com a família, e isso ajudou a
ser uma equipe muito unida. Ter sido Campeão em dois campeonatos pelo América
foi muito gratificante, pois ficamos na história do clube, além de eu ter sido
o capitão e o artilheiro nas competições.
4) O bom futebol do América continuou no Vasco da Gama, onde você
atuou por apenas seis meses. Tempo suficiente para realizar um ótimo
Brasileirão de 1983 e chamar a atenção do Genoa (ITA). Como foi o curto período
no Vasco, ao lado do Roberto Dinamite, e o que faltou para você conseguir
desenvolver seu grande futebol na Itália?
Foi um grande orgulho ter jogado
no Vasco com um ídolo como o Roberto Dinamite. O presidente, Antônio Soares
Calçada, não queria me vender para Itália, mas me falou que seria injusto me
segurar, já que os valores, na época, eram insuperáveis para o Brasil. Quando
fui para a Itália, iria para o Milan, pois havia feito um torneio espetacular
com o Santos, em Milão, contra o próprio Milan, Internazionale, Peñarol... Fiz
um gol antológico que deixou o estádio de pé, aplaudindo. Porém, veio uma
pedida muito alta do Santos e acabei não vendido na janela seguinte. Aí veio o
Genoa, que eu não sabia que era uma equipe que lutava para não cair. Por isso a
minha dificuldade de jogar num time sem objetivo nenhum, com jogadores velhos e
desinteressados, e o pouco sucesso. Fiz muitos gols por lá, mas, infelizmente,
o objetivo não foi alcançado.
5) Em Portugal, com a camisa do Porto, apesar de não ter sido
titular absoluto, você conquistou os títulos mais renomados de sua carreira: a
Copa dos Campeões da Europa e o Mundial Interclubes de 1987. O que tem para
dizer sobre tão importantes conquistas?
O Porto fez um time igual ao
Barcelona atual, com a contratação de dois grandes jogadores para cada posição.
Foi o melhor time que fiz parte dos 20 clubes que eu tive o prazer de jogar.
Era indiscutivelmente superior a todos na época. Acredito que jogamos 65 jogos
no ano e perdemos quatro ou cinco. Quanto a não ser titular em todos os jogos,
isto é natural na Europa. No Barcelona, por exemplo, três ou quatro jogam
sempre e o resto faz um rodízio, coisa que brasileiros não gostam. Brasileiro é
fominha e quer jogar todas. Voltei por isso e me arrependi depois, mas valeu.
6) Antes de ir para Portugal, em 1985, você vestiu a camisa do
Botafogo. Depois que voltou, já em 1992, atuou pelo Fluminense. Como foram as
passagens por estes dois gigantes cariocas?
Por Botafogo e Fluminense tenho
lembranças de grandes clássicos no Maracanã e belos gols por ambas as equipes.
E jogar no Fluminense me fez acreditar que nunca é tarde para sonhar, pois
joguei no Tricolor Carioca com 38 anos.
7) Com quase 40 anos, em 1994, você esteve em campo em todas as
partidas da grande campanha vice-campeã do Ceará na Copa do Brasil, onde o
"Vovô" eliminou o Palmeiras e o Internacional e vendeu caro a derrota
na decisão para o Grêmio. Conte um pouquinho deste inesquecível momento vivido
no Ceará e qual o segredo para jogar em alto nível até os 40 anos.
No Ceará vivi uma experiência
muito boa, pois antes eu tinha sido artilheiro cearense jogando pelo Fortaleza,
com gols espetaculares no Castelão. Pelo Ceará, só não fomos Campeões da Copa
do Brasil porque a diretoria era muito amadora e não quis me ouvir. Antes do
primeiro jogo decisivo contra o Grêmio, no Castelão, uma quarta-feira,
jogaríamos contra o Fortaleza no domingo. Era um jogo importante para o
Fortaleza, mas não para nós, e pedi para eles deixarem o time descansar para
enfrentar o Grêmio. Resultado: o jogo contra o Fortaleza foi duríssimo, teve
quatro expulsões, o Ceará ficou muito desgastado e só conseguiu um empate por 0
a 0 contra o Grêmio, em casa.
8) Por último, se pudesse
escolher um ano como o melhor de sua carreira, qual seria? E por qual motivo?
Na minha vida profissional e
amadora no futebol seria injusto escolher um ano de destaque. Todos os meus
anos de carreira foram de muita alegria e prazer. Agradeço a Deus por todos os
anos da minha vida como jogador de futebol.