sábado, 31 de maio de 2014

JOGOS INESQUECÍVEIS DO BRASILEIRÃO - ATLÉTICO MINEIRO X SÃO PAULO - 1977

Atlético Mineiro 0 (2) x (3) 0 São Paulo

Campeonato Brasileiro de 1977 – Final

Mineirão, Belo Horizonte (MG)

05 de março de 1978

Público: 102.974

São Paulo: Waldir Peres; Getúlio, Tecão, Bezerra e Antenor; Chicão, Teodoro (Peres) e Darío Pereyra; Viana (Neca), Mirandinha e Zé Sergio. Técnico: Rubens Minelli.

Atlético Mineiro: João Leite, Alves, Márcio, Vantuir e Valdemir, Toninho Cerezo, Ângelo e Marcelo (Paulo Isidoro), Serginho, Caio (Joãozinho Paulista) e Ziza. Técnico: Barbatana.

O Brasileirão de 1977 seria decidido em jogo único. Para o famoso “torcedor de tabela”, aquele que baseia suas mais profundas análises na tábua de classificação, o Atlético Mineiro era grande favorito ao título, já que chegava invicto à final contra o São Paulo, tendo liderado todos os seus grupos nas três fases anteriores. No entanto, desde um certo 16 de julho de 1950, nós, brasileiros, sabemos que não se deve apontar favoritismo em um jogo decisivo entre dois gigantes.

Se o Atlético tinha o goleirão João Leite, o São Paulo tinha o goleiraço Waldir Peres. Se o Atlético tinha a categoria de Toninho Cerezo, o São Paulo tinha a classe de Darío Pereyra. Se o Atlético podia apostar na impetuosidade do garoto Paulo Isidoro, o São Paulo tinha os dribles incandescentes do jovem Zé Sérgio. E se o Atlético não iria poder contar com o imparável Reinado, artilheiro do torneio com 28 gols, o São Paulo também não teria na sua escalação o matador Serginho Chulapa, vice-artilheiro, com 18 tentos.

Ambos os atacantes estavam suspensos, e não seria exagero colocar a maior parte da culpa da falta de bolas no barbante durante os 120 minutos do confronto (tempo normal e prorrogação) na conta das ausências de Reinaldo e Serginho. O empate mudo levou a decisão para a disputa de pênaltis. João Leite defendeu as duas primeiras cobranças tricolores (Getúlio e Chicão) e colocou o Galo à frente, mesmo com o desperdício de Toninho Cerezo, pois Ziza convertera o seu. O são paulino Peres e o atleticano Alves também foram às redes. Os mineiros estavam ainda mais próximos do caneco.


Foi aí que veio a reviravolta. Enquanto Antenor e Bezerra transformaram em gols para o Sampa as suas batidas, Joãozinho Paulista e Márcio mandaram as suas por cima da meta. Fim de papo. A histórica campanha invicta e o Mineirão com mais de 100 presentes não foram suficientes para deixar a taça em BH. Ela pegaria o avião para o Morumbi, paparicada pelos grandes campeões de 1977.

quinta-feira, 29 de maio de 2014

CAMPEONATO BRASILEIRO 2014 – 8ª RODADA – PALMEIRAS X BOTAFOGO


Palmeiras 0 x 2 Botafogo – Prudentão, Presidente Prudente (SP)

Apesar de pouco criativo, Botafogo mostra eficiência, bate o Palmeiras por 2 a 0 e se livra da zona de rebaixamento.

No Palmeiras, Felipe Menezes era o meia com maior responsabilidade de organização ofensiva. No Botafogo, era o improvisado Edilson quem tinha este papel. No entanto, principalmente na etapa inicial, nenhum dos dois esteve perto de cumprir sua missão. Sendo assim, a que se deveu a superioridade palmeirense nos primeiros 45 minutos? Justamente ao fato de ter encontrado alternativas para o apagão de seu meia, enquanto o Bota, não.

O grande nome alviverde (até bobear e ser expulso) foi o volante Wesley, que distribuiu bons passes e se aproximou constantemente da área adversária. Pelos lados do campo, Diogo e Marquinhos Gabriel também se mostraram incisivos e fizeram muita fumaça na retaguarda botafoguense. Comandados por estes três, o Palmeiras criou quatro claras oportunidades de abrir o placar, mas pecou ao não convertê-las. E o Botafogo? Perdido em campo, viu Emerson se matar no ataque para tentar construir algo que pudesse entrar nos melhores momentos televisivos.

Os primeiros minutos da etapa final apontavam para um cenário idêntico ao da inicial, com um venenoso arremate do Wesley quase inaugurando o placar. Repleto de dificuldades para tramar jogadas ofensivas e com muito esforço para se defender, o Botafogo se encontrava em situação delicada. Foi então que Bolatti, aos 16, quando menos se esperava, acertou lindo chute de fora da área e castigou o Palmeiras por pecar nas finalizações.

Tão bom para o Bota quanto o gol foi a expulsão de Wesley, aos 25, pouco depois de Felipe Menezes quase empatar para o Alviverde em cabeçada na pequena área. O gol perdido por Zeballos, após driblar o goleiro Fabio, deu indícios de que o Bota poderia, enfim, tomar a iniciativa de atacar. Que nada. Mesmo com dez jogadores, o Palmeiras seguiu na busca pela igualdade, busca esta que só teve fim quando o mesmo Zeballos, nos acréscimos, arrancou de seu próprio campo, marcou o segundo e confirmou a importante vitória botafoguense.

Palmeiras: Fabio; Wendel (Rodolfo), Lúcio, Marcelo Oliveira e William Matheus; Wesley e Renato; Diogo, Felipe Menezes (Bernardo) e Marquinhos Gabriel (Chico); Henrique. Técnico: Alberto Valentim.

Botafogo: Renan; Lucas, Bolívar, André Bahia e Junior Cesar (Julio Cesar); Airton e Bolatti (Rodrigo Souto); Zeballos, Edilson e Wallyson (Jorge Wagner); Emerson. Técnico: Vagner Mancini.


quarta-feira, 28 de maio de 2014

JOGOS INESQUECÍVEIS DO BRASILEIRÃO - CORINTHIANS X CRUZEIRO - 2010


Corinthians 1 x 0 Cruzeiro

Campeonato Brasileiro 2011 – 35ª rodada

Estádio do Pacaembu, São Paulo (SP)

Público pagante: 35.935

13 de Novembro de 2010

Corinthians: Julio Cesar; Alessandro, Chicão, William e Roberto Carlos (Leandro Castán); Ralf, Jucilei, Elias e Bruno César (Jorge Henrique); Dentinho  (Danilo) e Ronaldo. Técnico: Tite.

Cruzeiro: Fábio; Jonathan, Léo, Gil e Gilberto ; Fabrício  (Wallyson), Henrique, Marquinhos Paraná e Montillo (Roger); Wellington Paulista (Farias) e Thiago Ribeiro . Técnico: Cuca.

Gol: Ronaldo (Corinthians), aos 43’ do segundo tempo

Aqueles que são contra a implantação de um maior grau de tecnologia (bola com chip, replay televisivo) para auxiliar os juízes e bandeirinhas têm como principal argumento que isto traria fim às interessantes discussões sobre a arbitragem. “O que seriam interessantes discussões sobre arbitragem?” – o amigo poderia perguntar. Pois bem, seriam aquelas relacionadas com a interpretação do juiz, pois não existe nada de interessante, por exemplo, em debater sobre um impedimento não marcado que a TV mostra constantemente que deveria ter sido.

E é justamente um lance que gerou, gera e ainda gerará muitas interessantes discussões de interpretação que colocou o confronto entre Corinthians e Cruzeiro válido pela 35ª rodada do Brasileiro de 2010 na história. Com quatro rodadas por jogar, o campeonato já se encontrava em seu momento decisivo, e a luta pelo título envolvia, além de alvinegros paulistas e azuis mineiros (ambos empatados na segunda colocação com 60 pontos), o líder Fluminense (61). Ou seja, não era uma lutinha qualquer, amigos, e sim uma guerra na qual um simples deslize poderia custar o caneco.

Este cenário decisivo fazia da tensão um protagonista no Pacaembu, e a cada lance de ataque – e não foram poucos – ela ganhava ainda mais força, à medida que as unhas perdiam em tamanho. Comandada por Montillo e Thiago Ribeiro, a Raposa não dava descanso ao arqueiro Julio Cesar, enquanto Ronaldo, pelo Timão, era o perigo de sempre. E foi o próprio Ronaldo que, pertinho do apito final, recebeu um encontrão do zagueiro Gil dentro da área e caiu no chão.

Para muitos foi contato de jogo. Para outros tantos, falta clara. O árbitro Sandro Meira Ricci compartilhou com a opinião do segundo grupo, assinalou pênalti e o Fenômeno decretou a vitória corintiana. Este, sim, amigos, um dos raros lances de arbitragem que vale a pena ser discutido. 

segunda-feira, 26 de maio de 2014

BATENDO BAFO - ALEMANHA OCIDENTAL 1974





















Beckenbauer (que não precisa de apresentações), Maier, Müller, Breitner, Schwarzenbeck e Hoeness fizeram do Bayern de Munique de meados da década de 70 um dos maiores esquadrões que o mundo já viu. Vogts, Wimmer e Netzer formam o trio lendário da história do Borussia Mönchengladbach  e estão eternizados em um monumento na cidade. A alegria que Hölzenbein (que não está no álbum) e Grabowski deram aos torcedores do Eintracht Frankfurt pode ser medida pelo fato de que eles são, respectivamente, o primeiro e o terceiro maiores artilheiros do clube em todos os tempos. Overath, que disputou três edições da Copa do Mundo e nunca ficou abaixo da terceira colocação, é ídolo eterno do Colônia. Amigos, o encantamento que a inesquecível Holanda de Cruyff promoveu no Mundial de 1974 é mais do que compreensível, mas dizer que a vitória desta magnífica Alemanha na decisão foi uma zebra é um dos maiores enganos que se pode cometer.

domingo, 25 de maio de 2014

CAMPEONATO BRASILEIRO 2014 – 7ª RODADA – INTERNACIONAL X CRUZEIRO


Internacional 1 x 3 Cruzeiro – Estádio Centenário,

Cruzeiro mostra porque é o atual campeão brasileiro, põe fim à invencibilidade do Internacional e termina a rodada como líder isolado.

O primeiro tempo teve um Inter com mais iniciativa, um Cruzeiro mais recuado e quase nenhum espaço. Esta falta de espaços pode ser colocada na conta da boa organização defensiva e na pouca mobilidade ofensiva de ambos os lados. Os colorados dependiam muito do D’Alessandro (que acertou um balaço no travessão, aos 25) e conseguiram apenas uma trama ofensiva imprevisível no primeiro tempo, justamente a que abriu o placar, aos 38: D’Ale para Otávio para Diogo para Wellington para o gol. O Cruzeiro, que não avançou os laterais, não criou com seus meias e não acionou o centroavante Marcelo Moreno, chegou ao empate aos 42 através de uma bola parada confusa que Ricardo Goulart cabeceou, sabe-se lá como, para o fundo do barbante.

O gol e a entrada de Willian fizeram um bem enorme aos mineiros, que voltaram mais confiantes e envolventes do intervalo. O Internacional, porém, nem de longe estava acanhado e encolhido, e se Willian quase virou para a Raposa, Otávio, Juan e D’Alessandro estiveram bem próximos de recolocar os vermelhos em vantagem. O embate chegava muito disputado à sua reta decisiva, e foi exatamente aí que o Cruzeiro foi mais forte. Foi mais forte quando Éverton Ribeiro deu linda assistência para Willian (que não pode ser reserva deste time) virar, aos 24, foi mais forte para não deixar o Internacional crescer na busca pelo empate e foi mais forte para decretar o fim de papo, aos 42, em trama de Ricardo Goulart e Willian que Marcelo Moreno concluiu em gol.

Se ao fim do ano ninguém citará este Inter versus Cruzeiro como um dos melhores jogos do campeonato, tampouco estivemos diante de uma partida sonolenta. Foi um duelo interessante, entre dois times organizados e cautelosos o suficiente para não se lançarem ao ataque como se não houvesse amanhã. Melhor para o Cruzeiro, agora líder isolado do Brasileirão.

Internacional: Dida; Diogo, Ernando, Juan e Fabrício; Willians e Wellington (Jorge Henrique); D’Alessandro, Valdívia (Aylon) e Otávio (Eduardo Sasha); Wellington Paulista. Técnico: Abel Braga.

Cruzeiro: Fábio; Ceará, Léo, Bruno Rodrigo e Egídio; Henrique e Willian Farias; Éverton Ribeiro (Tinga), Ricardo Goulart e Dagoberto (Willian); Marcelo Moreno (Borges). Técnico: Marcelo Oliveira.

sábado, 24 de maio de 2014

JOGOS INESQUECÍVEIS DO BRASILEIRÃO - INTERNACIONAL X CRUZEIRO - 1988

Internacional 2 x 0 Cruzeiro

Campeonato Brasileiro de 1988 – Quartas de Final

Estádio Beira-Rio, Porto Alegre (RS)

Público: 55.026

Internacional: Taffarel; Luís Carlos Winck, Aguirregaray, Nenê e Casemiro; Luís Fernando Flores, Edu Lima (Dacroce) e Leomir; Norberto, Maurício e Nílson (Hêider). Técnico: Abel Braga.

Cruzeiro: Pereira; Balu, Gilson Jáder, Gilmar Francisco e Genilson; Betinho, Edson Souza (Ramon) e Paulo Isidoro; Edson, Careca e Robson (Vilmar). Técnico: Carlos Alberto Silva.

Gols: Nenê (Internacional), aos 9’ e Maurício (Internacional), aos 21’ do segundo tempo.

Quando Internacional e Cruzeiro pisaram no gramado do Beira-Rio para o jogo de volta da fase quartas de final do Brasileirão de 1988, não era a primeira vez que eles se enfrentavam em uma fase final de competição nacional. Muito pelo contrário, esta era nada menos do que a nona vez que colorados gaúchos e azuis mineiros mediam forças em um momento decisivo. E o retrospecto, até então, era amplamente favorável ao Inter, que vencera três partidas (com destaque para a decisão de 1975), empatado cinco e nunca havia sido derrotado.

Como um destes empates ocorrera justamente no jogo de ida das quartas de final de 1988 (zero a zero, no Mineirão), o Cruzeiro tinha a obrigação de vencer o rival pela primeira vez em um momento decisivo para seguir vivo no torneio. No entanto, para a alegria vermelha e tristeza azul, o tabu não foi quebrado.


Foi um embate suado, tenso, com expulsões (Luis Carlos Winck e Gilmar Francisco) e que só começou a ser definido na segunda etapa. Mais uma vez, melhor para o Inter, que com a segurança de sempre do goleiro Taffarel e gols do zagueiro Nenê e do atacante Maurício – o mesmo que faria história no Botafogo alguns meses depois – voltou a superar a Raposa e se garantiu na semifinal do Brasileirão de 1988.

quinta-feira, 22 de maio de 2014

WALTER, O RÚSTICO REFINADO

Falo do segundo gol de Walter, o terceiro do Fluminense, na goleada diante do São Paulo. Poucos atacantes brasileiros dominariam uma bicuda para frente como Walter fez, na origem da jogada. Menos ainda teriam a tranquilidade que teve o tricolor para não finalizar o lance de qualquer maneira. E nenhum outro seria capaz de um arremate de três dedos com tamanha perfeição para fazer a bola beijar a bochecha da rede. Fred, Jô, Luis Fabiano e alguns outros (não tantos) sabem como sacudir o filó, mas nenhum deles tem a categoria de Walter, o rústico refinado.

Walter é um paradoxo. Sua forma física – forma no sentido de aparência, não no de preparo, pois seu preparo não deve nada ao da maioria – condiz com a de um trombador perto da aposentadoria. Seu jeito sincero e sem papas na língua com o de alguém instável em campo. Seu sotaque nas entrevistas passa longe do que o senso comum associa a cantores de ópera ou maestros. Walter tinha tudo para ser apenas um dos chamados (quase sempre de maneira depreciativa) jogadores folclóricos. No entanto, seu futebol é digno de terno risca de giz, camisa de linho, gravata de seda e sapato de couro.

Há séculos os alquimistas acreditavam ser possível transformar chumbo em ouro. Pois Walter os dá razão ao receber bolas de chumbo de seus companheiros e as devolver com passes dourados. Suas finalizações podem ser sutis ou potentes, mas o fato é que nem mesmo quando ele opta por soltar um foguete a categoria fica de lado. A postura de seu corpo e a maneira como seu pé encaixa na bola, como se fossem feitos um para o outro, não condiz com a força do arremate. É como se fosse aquela imagem de um canhão munido por uma rosa.


Hoje, amigos, nada é mais prazeroso e divertido em nossos gramados do que ver o Walter em campo. E ele também parece se divertir aos montes em seus espetáculos.

CAMPEONATO BRASILEIRO 2014 – 6ª RODADA – FLUMINENSE X SÃO PAULO


Fluminense 5 x 2 São Paulo – Maracanã, Rio de Janeiro (RJ)

Lembrou a Máquina! Ataque dá show no segundo tempo e Fluzão atropela o até então invicto São Paulo para voltar ao G4.

O Fluminense sabia do potencial do São Paulo. O São Paulo sabia do potencial do Fluminense. Este conhecimento – somado a uma arbitragem cujo critério foi o de parar o jogo a todo e qualquer contato – fez o jogo ter uma longa fase de estudos, com tricolores cariocas e paulistas mais conservadores do que assanhados. No entanto, mesmo neste período no qual o jogo se mostrou mais preso, a retaguarda do Flu deu indícios de falta de atenção ao permitir que o Ganso encontrasse espaços para buscar os avantes são-paulinos.

Foi por essa fragilidade defensiva que o Antônio Carlos penetrou na área e foi derrubado pelo Wellington Silva, em pênalti que Rogério Ceni converteu, aos 24, e Alexandre Pato cabeceou cruzamento de Osvaldo, aos 44, para recolocar os paulistas em vantagem, pouco depois de Walter ter aproveitado batida de roupa de Ceni para fazer um a um. Não seria exagero dizer que o Flu vinha tendo uma atuação muito abaixo das últimas, com uma defesa esburacada e um ataque que, fora duas escapadas do Carlinhos, só funcionou por um erro individual.

O Fluminense precisava de mais no segundo tempo. E deu muito mais. Deu um show ofensivo em termos individuais e coletivos. Conca deu sequência a todas as bolas que passaram pelos seus inteligentes pés e iniciou à reação ao cobrar córner que Lucão empurrou contra o próprio patrimônio. Walter, há cerca de um ano o atacante mais refinado do futebol brasileiro, transbordou categoria ao iniciar a jogada da virada dominando um tiro de meta no peito e concluí-la com uma trivela preciosa.

Wágner, que quanto mais se entrega atrás mais constrói na frente, já havia dado assistência para Walter, deixou seu marca após nova paçocada do Ceni e voltou a participar do quinto gol, assinalado pelo intenso, dinâmico e letal Sóbis. Houve uma época em que se dizia que não importava quantos gols um time sofresse, bastava ter um ataque avassalador para fazer mais. Nesta quarta-feira, Conca, Wágner, Sóbis e Walter reviveram este tempo.

Fluminense: Felipe; Wellington Silva, Gum, Elivelton (Marlon) e Carlinhos; Jean e Diguinho; Rafael Sóbis (Kenedy), Conca e Wágner (Chiquinho); Walter. Técnico: Cristovão Borges.

São Paulo: Rogério Ceni; Paulo Miranda, Lucão, Antônio Carlos e Reinaldo; Souza e Maicon (Pabón); Pato, Ganso e Osvaldo (Hudson); Luis Fabiano (Boschilia). Técnico: Muricy Ramalho.

segunda-feira, 19 de maio de 2014

JOGOS INESQUECÍVEIS DO BRASILEIRÃO - BOTAFOGO X GRÊMIO - 1978

Botafogo 0 x 3 Grêmio

Campeonato Brasileiro 1978 – Terceira Fase

20 de julho de 1978

Estádio Maracanã, Rio de Janeiro (RJ)

Botafogo: Zé Carlos; Beto, Fred, Renê e Serginho; Mendonça, Clóvis e Manfrini (Luisinho); Cremílson, Dé e João Paulo. Técnico: Zagallo

Grêmio: Corbo; Vílson, Ancheta,Vicente e Ladinho; Tadeu, Valderez (Iúra) e Leandro; Tarciso, Everaldo e Renato Sá. Técnico: Telê Santana.

Gols: Renato Sá (Grêmio), aos 26’; Renato Sá (Grêmio), aos 27’ e Leandro (Grêmio), aos 37’ do segundo tempo.

Imaginem entrar em campo com o peso de ostentar a maior invencibilidade da história do futebol brasileiro (52 jogos) e do Brasileirão (42). Pois esta era a sensação do Botafogo ao pisar no gramado do Maracanã para um decisivo confronto com o Grêmio. Imaginem, agora, sair de campo após marcar dois dos três gols que colocaram fim às citadas séries invictas alvinegras. Pois esta foi a sensação do ponta-esquerda tricolor Renato Sá.

O duelo, pela penúltima rodada da terceira fase, era decisivo para saber quais os dois dentre os oito clubes do grupo S se classificariam para a fase mata-mata. Ao Botafogo apenas a vitória interessava. Não apenas para manter suas invencibilidades, mas porque o Grêmio era o líder do grupo e o Palmeiras vinha colado no cangote alvinegro. Em campo, o que não faltava no embate entre botafoguenses e gremistas era candidato a estrela da noite. Em campo e no banco, pois os treinadores eram ninguém menos que Zagallo, no comando Bota, e Telê Santana, no do Grêmio.

Mas o dia 20 de julho de 1978 parecia já ter dono. O refinado Mendonça? O explosivo Dé Aranha? O xerifão Ancheta? O flecha Tarciso? Nenhum deles. Aquela quinta-feira foi de Renato Sá, que com dois gols – Leandro faria o terceiro – decretou o maiúsculo triunfo gremista e colocou ponto final na histórica sequência do Botafogo, que ainda acabaria por perder a vaga no mata-mata para o Palmeiras.


Anos depois, em 1979, o Flamengo, embalado por 52 jogos sem derrota, enfrentaria o Botafogo com a oportunidade de superar o recorde do próprio clube de General Severiano. Diante de mais de 140 mil presentes no Maracanã, o Fogo venceu o clássico por um a zero. Sabem quem fez o tento da vitória, amigos? Pois é, Renato Sá, então ponta alvinegro e para sempre o carrasco dos invencíveis. Mas essa já é outra história...

domingo, 18 de maio de 2014

CAMPEONATO BRASILEIRO 2014 – 5ª RODADA – GRÊMIO X FLUMINENSE


Grêmio 1 x 0 Fluminense – Arena Grêmio, Porto Alegre (RS)

Fluminense cria chances, esbarra em defesas monumentais do goleiro Marcelo Grohe e é derrotado pelo Grêmio em Porto Alegre.

Como Grêmio e Fluminense não tinham o desejo pela vitória apenas no discurso, mas também na postura, o duelo acabou por se mostrar como um dos mais interessantes do Brasileirão até o momento. Do início ao fim, mesmo após a tola expulsão do Fred, aos 23 minutos da etapa final, o Flu ignorou o fato de ser o visitante e tomou a iniciativa das ações ofensivas, atitude rara no futebol tupiniquim, pois jogar fora de casa faz praticamente todos os times brasileiros abraçarem o conservadorismo. O Grêmio, por sua vez, até se viu encurralado em alguns momentos, mas o recuo foi mais uma imposição da qualidade ofensiva do adversário do que um excesso de cautela.

A fase de estudos durou cerca de 20 minutos, após a qual o Flu se inflou, lançou os laterais ao ataque, adiantou suas linhas, aumentou a velocidade na troca de passes e obrigou o goleiro Marcelo Grohe – em cabeçada de Fred e chute de Sóbis – a realizar duas defesas de cinema. Era o gol do Flu que parecia maduro, mas um passe do zagueiro Werley, aos 36, e um posicionamento alguns centímetros mais pra lá do que pra cá do volante Jean fizeram a bola chegar aos pés do Rodriguinho, que bateu cruzado com firmeza: um a zero Grêmio.

A vantagem fez bem aos gaúchos, que terminaram a etapa inicial mais soltos e sem o rival em cima. Uma nova defesaça do Grohe, logo aos quatro minutos do segundo tempo, em outro arremate do Sóbis, indicou que a preguiça característica de alguns jogos deste campeonato não daria as caras no Sul. O Tricolor Carioca tinha a bola nos pés, sabia o que fazer com ela e buscava o empate sem desespero, enquanto o Gaúcho defendia a vantagem sem abdicar de tentar sair para o jogo.

A já citada expulsão do Fred deu mais liberdade e profundidade ao Grêmio e mais trabalho ao Cavalieri, mas não tirou a sede do Flu, que seguiu na luta por um melhor resultado e quase o conseguiu com o Biro Biro e com o Walter. Um novo gol poderia ter saído em qualquer uma das balizas, mas não saiu e o apito final veio para decretar uma grande vitória gremista.

Grêmio: Marcelo Grohe; Pará, Werley, Bressan e Breno; Ramiro e Riveros; Alan Ruiz (Zé Roberto), Dudu (Matheus Biteco) e Rodriguinho (Maxi Rodrígues); Barcos. Técnico: Enderson Moreira.

Fluminense: Diego Cavalieri; Bruno, Gum, Elivelton e Carlinhos; Jean e Diguinho (Chiquinho); Rafael Sóbis (Walter), Conca (Biro Biro) e Wágner; Fred. Técnico: Cristovão Borges.

quinta-feira, 15 de maio de 2014

SERÁ QUE ELES SÃO CAPAZES?


Nosso passado no esporte faz com que sempre duvidemos da integridade dos que dirigem a confederação, as federações e os clubes tupiniquins. Aos olhos dos que estão de fora, quem está no comando é suspeito de falcatrua. Porém, como se não bastasse esta suspeita moral, os dirigentes do nosso futebol se esforçam diariamente para se tornarem alvos de outro tipo de suspeita: aquela em relação à capacidade intelectual para exercer sua função profissional. Se não, vejamos o Flamengo.

Uma das primeiras medidas da atual gestão ao assumir, no início de 2013, foi cortar gastos com a saída do atacante Vagner Love. Quase um ano depois, a conquista da Copa do Brasil e a homenagem da torcida ao seu pequenino filho, então com problemas de saúde, faziam a relação entre a torcida e o volante Elias atingir o ápice. No entanto, novamente por motivos econômicos, a diretoria deixou Elias escapar. Sabemos que a situação financeira do clube não é nada confortável, mas como que uma diretoria que foi apresentada como o suprassumo do conhecimento em economia não encontra uma melhor alternativa para economizar do que perder ídolos?

E o que falar dos elevados preços dos ingressos? Desde os treinos em campo aberto na Rua Paissandu, na década de 1910, que o Flamengo começou seu caminho para se tornar o clube mais popular do país. O custo abusivo para ver o time jogar é uma atentado à história do clube. E a declaração do dirigente Eduardo Baptista de que “por contrato, o Flamengo iria pagar para jogar se colocasse 60 mil torcedores pagando 10 reais cada” é um atentado à inteligência. Por que diabos um clube com mais de 30 milhões de torcedores faz um contrato no qual não é benéfico ter um estádio cheio?


E como a cereja do bolo – que o torcedor flamenguista reza para não virar um bolo de cerejas – veio a demissão do treinador Jayme de Almeida. Apesar de a demissão ilustrar como o clube se encontra à deriva, o grande problema foi a maneira suja com a qual Jayme foi tratado, tomando conhecimento da situação através da imprensa. No entanto, vale lembrar, amigos, que o Flamengo aqui foi um exemplo. Os rivais não podem abrir nenhum sorriso pelas bolas fora da diretoria rubro-negra, pois problema é geral e atinge todo o futebol brasileiro. 

COPA LIBERTADORES 2014 – QUARTAS DE FINAL – CRUZEIRO X SAN LORENZO


Cruzeiro 1 x 1 San Lorenzo – Mineirão, Belo Horizonte (MG)

Cruzeiro luta, cria oportunidades para vencer, mas não passa de um empate com o San Lorenzo e é o último time brasileiro a dar adeus à Libertadores.

Quando Piatti fez um a zero San Lorenzo, aos nove minutos, numa jogada onde toda a defesa azul estava dentro da área e ninguém acertou o bote, não foi uma ducha de água fria, mas um iceberg que o San Lorenzo jogou sobre o Cruzeiro e os cruzeirenses. Agora era necessário colocar três bolas nas redes argentinas.

Neste cenário, só restava ao Cruzeiro uma única alternativa: se lançar à frente. Para atacar com mais consistência seria bom que os mineiros se recuperassem do abalo psicológico (em outras palavras, derretessem o iceberg), mas o nervosismo foi companheiro dos cruzeirenses até o apito final. A tensão quase palpável, porém, não impediu que chances de gols fossem criadas.

Aos 33, o San Lorenzo conseguiu uma escapulida em contra-ataque que teria dado fim ao ímpeto não fosse uma defesa monumental do goleiro Fábio. Fora isso, o duelo inteiro foi um exemplo clássico de ataque contra defesa. Na etapa inicial, Júlio Baptista, Éverton Ribeiro e Marcelo Moreno, duas vezes, uma delas com a bola a beijar as duas traves, foram os finalizadores mais perigosos. A pressão mais forte, no entanto, viria apenas após o intervalo.

Com Dagoberto no lugar do volante Nilton e, depois Ricardo Goulart no de Júlio Baptista, o Cruzeiro começou a encurralar o adversário. Aqui vale um comentário sobre as alterações feitas pelo Marcelo Oliveira. Se o Cruzeiro iria atacar na base da potência e da jogada aérea, sacar o forte Júlio Baptista, mesmo em jornada apenas mediana, e recuar para a posição de volante o Éverton Ribeiro, jogador mais criativo da equipe, foi, no mínimo, incoerente.

Plantado no campo de ataque, o Cruzeiro fez gol impedido bem anulado, alçou bolas na área, obrigou o goleiro Torrico a defesas estupendas, alçou mais bolas na área, empatou o placar com Bruno Rodrigo, alçou mais bolas na área, teve duas chances claríssimas de virar com Marcelo Moreno, alçou mais bolas na área, viu o Romagnoli ser expulso, alçou mais bolas na área e escutou o apito final que colocou um ponto final na medíocre participação brasileira na Libertadores.

Cruzeiro: Fábio; Ceará, Dedé, Bruno Rodrigo e Samudio (Egídio); Nilton (Dagoberto) e Henrique; Éverton Ribeiro, Júlio Baptista (Ricardo Goulart) e Willian; Marcelo Moreno. Técnico: Marcelo Oliveira.

San Lorenzo: Torrico; Buffarini, Valdés, Gentiletti e Más; Mercier, Ortigoza e Piatti (Kannemann); Villalba (Kalinski), Correa (Romagnoli) e Matos. Técnico: Edgardo Bauza.

segunda-feira, 12 de maio de 2014

GÊNIOS DAS PALAVRAS

O Clube da Capa-e-Espada
Por Mario Filho
Jornal dos Sports – 18/08/1956
Retirado do livro O Sapo de Arubinha, da editora Companhia das Letras

O único clube rapaz é o Botafogo. Explica-se: foi o único clube que nasceu rapaz. Os outros, pelo menos, procuraram nascer homens. Já o Botafogo teve a preocupação de ser o oposto do Fluminense, que era o homem-feito. O Fluminense foi um clube que não nasceu assim, de um repente. Com o time formado, com tudo o que seria ele, demorou um ano. Surgiu depois de muito estudado, de muito pensado. O Botafogo, pelo contrário, só precisou de uma apresentação ao Fluminense para virar clube. É um detalhe que não deve ser esquecido por quem tentar compreender o Botafogo. Os rapazes que não pensavam em formar clube algum foram levados ao campo do Fluminense para serem do Fluminense. Diante do Fluminense, eles se sentiram, logo e logo, Botafogo.

Não se tratava só dos bigodes dos jogadores do Fluminense. O Fluminense também tinha bigodes. Havia, entre os rapazes do Colégio Abílio e o Fluminense, uma distância de idade. Essa idade não se contava apenas pelos anos do Fluminense, dois, ou dos jogadores do Fluminense, alguns ainda rapazes. Era a concepção da vida, vamos dizer. Os rapazes do Fluminense tratavam logo de se adaptar, de usar bigodes imaginários. Os rapazes do Botafogo queriam também ser homens, mas continuando rapazes. Daí se sentirem quase imberbes diante dos homens-feitos do Fluminense. A reacção deles, forte, e renovada sempre pela rivalidade que foi a primeira do futebol carioca, tornou-os mais rapazes ainda, marcou-os eternamente rapazes.

Pouco importava que um Flávio Ramos, com dezessete anos e o primeiro Presidente do Botafogo, se sentisse rapaz demais para ser presidente do mesmo Botafogo. O homem-feito, procurado e encontrado, que foi ser Presidente do Botafogo, não mudou o que já era imutável. Ser do Botafogo era ser rapaz. A gente vê velhos Botafoguenses, curvados pelos anos, e até estranha um pouco. Serão ainda Botafoguenses? Mexam com o Botafogo e verão. Os velhos endireitam logo a espinha, estufam o peito, reacendem a chama do olhar e estão prontos. E não é difícil mexer com o Botafogo. Não há clube de mais sensibilidade à flor da pele, com mais orgulho de Grande de Espanha que o Botafogo. Eis porque ele está sempre disposto a topar paradas, a se meter em encrencas, a arriscar até a própria vida por uma coisinha.

Nada que o atinja e mesmo que não o atinja, mas que ele julgue que foi para atingi-lo, é coisinha para ele. Ele devia ter nascido em outra época. É a única flor retardatária de capa-e-espada que surgiu depois dos 1900. Trata-se mais de um gascão, de um D'Artagnan, sempre pronto a desembainhar a espada. Ouve muito mais a voz do coração do que a da cabeça. Qual era o clube capaz de largar uma Liga, sem outra Liga para ir, por causa da suspensão de um jogador? Aconteceu isso em 1911, justamente no ano em que o Fluminense preferiu perder um time a deixar de ser o que era, isto é, o Fluminense. O Botafogo fez o contrário, para continuar mais Botafogo do que nunca.

O que o Fluminense fez, só o Fluminense faria. Mas também só o Botafogo arriscaria tudo por um jogador. Não se tratava da falta que esse jogador poderia fazer ao time, embora ele se chamasse Abelardo De Lamare. E aí temos uma amostra do d'artagnanismo do Botafogo. Um por todos e todos por um. Abelardo De Lamare era um deles, era eles também, era o Botafogo. Eles não se separavam, não se distinguiam, fundindo-se no Botafogo. Assim o bofetão de Abelardo De Lamare em Gabriel de Carvalho não foi o bofetão de um jogador noutro jogador. Foi o bofetão de um clube. Todos assumiram a mesma responsabilidade e se recusaram a aceitar a punição de um só. O Campeão de 1910 abandonou o campeonato e ficou um ano jogando na pedreira

E aquele gesto, que seria de indisciplina, serviu para mostrar um dos mais belos traços do Botafogo. Saindo da Liga o Botafogo podia perder todos os jogadores. Era o time Campeão de 1910, justamente o que tinha realizado uma revolução no futebol carioca. Até 1910, os jogadores usavam bigodes. Mesmo os jogadores sem bigodes eram como se os tivessem. O Botafogo foi campeão com um time rapaz, com um time que tinha vindo do Botafogo mirim, o Carioca, viveiro do "Glorioso". E aí os outros clubes trataram de fazer o mesmo. O futebol que, para se dar ao respeito, tinha de nascer homem-feito, já podia dar-se ao luxo de ser jovem, de ser rapaz. E esta foi uma obra do Botafogo.

Qual era o clube que não quereria os jogadores do Botafogo? O Botafogo, porém, não perdeu um jogador. Todos ficaram juntos jogando na pedreira, que era um campo do Morro da Viúva. Era o que se chamava de um campeonato de Liga barbante. Os jornais não tomavam conhecimento dele. Assim, os jogos se realizavam, por assim dizer, anonimamente. E lá estavam os craques Campeões de 1910, o Glorioso em carne e osso, jogando com os clubes da pedreira como se esses fossem Fluminenses. Com o mesmo entusiasmo, com a dedicação, com o mesmo Botafoguismo, palavra que significa o mesmo que quixotismo. Eram uns Dom-Quixotes os jogadores do Botafogo.

Ou eram simplesmente rapazes. Continuavam a ser rapazes, levados pelos impulsos generosos da mocidade. Cometiam erros: no erro e no acerto tinham o mesmo élan. Podiam reconhecer o erro, mas não voltavam atrás. Era o tal orgulho de Grande de Espanha, idêntico na riqueza e na pobreza. Como saíra sozinho de uma Liga, mais tarde seria o único a ficar com uma Liga em nome de um amadorismo que não existia. Por isso muita gente não entendeu o Botafogo. É que se queria julgar o Botafogo pelos padrões normais. Como se ele fosse um clube igual aos outros. Então o Botafogo não via que estava arriscando a própria vida?

O que decidiria qualquer outro clube a mudar de rumo tornou ainda mais irredutível o Botafogo. Para ele, era uma questão de honra e ninguém o podia demover. Ficou com trezentos sócios, e cada sócio que saía unia mais o Botafogo. É que ficavam e ficariam os verdadeiros Botafogo, os Botafogos para a vida e para a morte. Aí mesmo é que não acabavam com o Botafogo, com aquela legião de rapazes de todas as idades, alguns que tinham visto nascer o Clube, mas rapazes ainda e mais rapazes do que nunca, porque nem o rolar dos anos havia tirado deles o ardor da mocidade.

Bastaria, porém, conhecer as origens do Botafogo para compreendê-lo, admirá-lo, mesmo discordando dele. Realmente chega a comover um encontro assim com D'Artagnan no século XX. Não é possível, dirão uns, e eis o Botafogo. Ainda é um personagem de romance de capa-e-espada, com noções de honra dos velhos tempos, ofendendo-se por um nada. E se a gente quiser ir mais longe, deixar os Juízes da França e os Grandes de Espanha, pode chegar até as Cruzadas para descobrir Botafoguenses.

Noutros tempos, ele foi popular. Mas a popularidade, então, era o nome que se dava a um clube com centenas de sócios e alguns milhares de torcedores. O grande campo era o do Fluminense e lá cabiam, estourando, 5 mil pessoas. O Botafogo tem mais gente do que a gente pensa. Mas ser Botafogo é escolher um destino e dedicar-se a ele. Não se pode ser Botafogo como se é outro clube. É preciso ser de corpo e alma. E é preciso, antes de ser Botafogo, ser rapaz, mesmo velho. Ser um Dom Quixote, um D'Artagnan, um Grande de Espanha, embora sem sangue nobre e sem riqueza, um Grande de Espanha mesmo decaído e por isso mais Grande de Espanha.

domingo, 11 de maio de 2014

CAMPEONATO BRASILEIRO 2014 – 4ª RODADA – FLUMINENSE X FLAMENGO


Fluminense 2 x 0 Flamengo – Maracanã, Rio de Janeiro (RJ)

Fred e Chiquinho vão às redes, Fluminense bate o Flamengo por dois a zero e termina a rodada na vice-liderança do Brasileirão.

Quando Fred, de cabeça, logo aos 10 minutos, aproveitou as falhas inadmissíveis de Cáceres e Felipe para abrir o placar, o Fluminense já era superior e buscava atacar de forma mais consciente. Porém, a partir daí, numa postura cada vez mais recorrente dentre os times brasileiros em vantagem, o Flu decidiu jogar atrás da linha da bola e esperar o momento mais propício para dar o bote.

Como os que vestiam verde, branco e grená não conseguiam escapulir em velocidade e os de vermelho e preto encontravam enormes dificuldades para construir uma trama ofensiva diante de uma defesa bem postada (Gum jogou demais do primeiro ao último trilar do apito), apenas dois chutes longos merecem nota até o intervalo. Pelo Flu, Sóbis arriscou e Felipe, em péssima jornada, bateu roupa, enquanto, pelo Fla, Samir acertou um foguete que obrigou Cavalieri a monumental defesa.

Os primeiros minutos após o intervalo mostraram que o Fluminense, pelo melhor nível técnico de seus jogadores, poderia ter seguido com a iniciativa do duelo e não precisava ter adotado uma postura mais conservadora. Logo de cara Jean quase ampliou em arremate de fora da área e, depois, com uma marcação adiantada e mais ímpeto, o Tricolor cercou a área que o zagueiro Samir fez das tripas coração para defender.

Aos 22, Cáceres e o apagado Mugni saíram para as entradas de Artur e Muralha. O Flamengo cresceu e fez o Fluminense recuar não por vontade própria, como havia feito no primeiro tempo, mas por necessidade diante do volume ofensivo do rival. Antes de o relógio chegar ao minuto 30, Arthur e Alecsandro quase empataram o escore, naquele que foi o melhor momento vivido pelo clube da Gávea no clássico.

Pouco a pouco, porém, o Fla perdeu potência e foram as substituições tricolores que mostraram resultado: aos 41, Walter, que entrou para segurar a bola na frente e o fez com perfeição, iniciou contra-ataque que contou com participação primorosa do Conca e uma finalização não menos primorosa do Chiquinho, que também viera do banco. Dois a zero Flu e fim de papo.

Fluminense: Diego Cavalieri; Bruno, Gum, Elivelton e Carlinhos; Jean e Diguinho; Conca e Wágner (Chiquinho); Rafael Sóbis e Fred (Walter). Técnico: Cristovão Borges.

Flamengo: Felipe; Léo Moura, Wallace, Samir e André Santos; Cáceres (Arthur), Márcio Araújo, Luiz Antônio (Negueba) e Paulinho; Mugni (Muralha); Alecsandro. Técnico: Jayme de Almeida.

sábado, 10 de maio de 2014

JOGOS INESQUECÍVEIS DO BRASILEIRÃO - CORINTHIANS X SÃO PAULO - 1990


Corinthians 1 x 0 São Paulo

Campeonato Brasileiro de 1990 – Segundo Jogo da Final

16 de Dezembro de 1990

Morumbi, São Paulo (SP)

Público – 100.858

Corinthians: Ronaldo; Giba, Marcelo Djian, Guinei e Jacenir; Márcio, Wilson Mano e Neto (Ezequiel); Fabinho, Tupãzinho e Mauro (Paulo Sérgio). Técnico: Nelsinho Baptista.

São Paulo: Zetti; Cafu, Antonio Carlos, Ivan e Leonardo; Flávio, Bernardo e Raí (Marcelo Conti); Mário Tilico (Zé Teodoro), Eliel e Elivélton. Técnico: Telê Santana.

Gol: Tupãzinho (Corinthians), aos 9’ do segundo tempo

Quando amanheceu o domingo 16 de dezembro de 1990, o Palmeiras tinha dois troféus da Taça Brasil, do Robertão e do Campeonato Brasileiro em sua prateleira, o Santos havia conquistado nada menos do que cinco vezes a Taça Brasil e uma o Robertão, e o São Paulo vencera o Brasileirão em duas oportunidades. Em outras palavras, dos gigantes paulistas, apenas o Corinthians nunca tinha sentido o gostinho de um título nacional. A angústia da fiel torcida alvinegra, porém, acabaria em poucas horas.

À tarde, o Morumbi recebeu mais de 100 mil torcedores, a maioria de corintianos, todos aflitos, para a segunda partida decisiva do Brasileiro daquele ano. Como se não bastasse ser uma finalíssima, ainda era um clássico. Corinthians versus São Paulo. São Paulo versus Corinthians. Ao Timão bastava o empate, pois vencera pelo placar mínimo o primeiro jogo, mas Luciano do Valle deu o tom exato do cenário do primeiro tempo ao soltar pela televisão um “O Corinthians está num sufoco danado! Danado!”.


Cafu, Leonardo, Raí, Mario Tilico e companhia tricolor davam um trabalho enorme ao goleiro Ronaldo e os corintianos mais antigos encontravam em suas memórias, mesmo contra a vontade, as marcantes derrotas em Brasileiros anteriores. Foi então que surgiu, aos 9 minutos da etapa final, o histórico gol de Tupãzinho. Um gol suado, na raça, no coração. Um gol com cara de Corinthians, que deu a um time com cara de Corinthians, liderado por um craque Neto com cara de Corinthians, um título Brasileiro com cara de Corinthians. 

quinta-feira, 8 de maio de 2014

O QUE EU MUDARIA NA LISTA FELIPÔNICA


Para começo de conversa, devemos admitir que Felipão tem méritos por ter definido a espinha dorsal da Seleção com menos de um ano e meio de trabalho. Com certeza a conquista da Copa das Confederações tirou enormes pedregulhos do caminho do treinador, e, hoje, dificilmente a equipe que iniciará o Mundial será diferente da que sapecou três a zero na Espanha. As minhas divergências para com a lista felipônica são em relação aos reservas.

Entre os goleiros, Júlio César merece confiança e Jefferson é o melhor do país há tempo suficiente para não ser questionado. Para fechar levaria o cruzeirense Fábio, por suas qualidades como arqueiro e liderança. Para acompanhar os intocáveis zagueiros Thiago Silva, David Luiz e Dante escolheria o Dedé. É verdade que o cruzeirense ainda não conseguiu repetir em BH o enorme futebol que o tornou “Mito” para os vascaínos, mas vejo nele uma vontade imensa de defender a Seleção e a retribuiria.

Daniel Alves e Marcelo são daqueles laterais que estariam presentes em todas as Seleções do planeta e Maicon tem experiência para segurar o rojão caso seja necessário. Pelo completo futebol que vem jogando no Atlético de Madrid não é de hoje, Filipe Luís estaria no grupo. Chegamos ao meio de campo. Luiz Gustavo, Fernandinho, Paulinho, Hernanes e Ramires foram escolhidos por Felipão e também seriam por mim. Principalmente pela fase preocupante que Paulinho vive no Tottenham, Hernanes não poderia ficar de fora. Já Fernandinho, penso, chega para brigar pela vaga de titular do Luiz Gustavo.

Oscar é peça essencial e meu suplente para ele seria Philippe Coutinho, que desde que chegou ao Liverpool, em fevereiro de 2013, não para de crescer técnica, física, tática e psicologicamente. Seguiria com Neymar (precisava falar?), Bernard, Hulk, Fred e... Robinho. Além de acreditar que em uma situação crítica vai ser melhor tê-lo no banco de reservas do que não, sempre vejo um Robinho mais solto quando está em companhia do Neymar.

Resumo da ópera: não levaria Victor, Henrique, Maxwell, Willian (este daria dó de deixar de fora) e Jô. Entretanto, fora o Henrique, que nunca fez por merecer estar numa Copa do Mundo, compreendo perfeitamente a presença dos outros quatro que não estariam em minha lista. E vale ressaltar que nomes como Dante, Luiz Gustavo e até o Bernard só estão na minha e em muitas outras convocações pois o Felipão os bancou.


Pois é, amigos, os nomes estão aí. Porém, como já estamos cansados de saber, nomes não ganham jogo, e é somente quando a bola rola que a história se desenrola. Sendo assim, que venha a Copa!

segunda-feira, 5 de maio de 2014

BIBLIOTECA DO FUTEBOLA

Jornalista, craque da música no mais amplo sentido e um apaixonado por futebol, Nelson Motta faz de um dia de final de Copa do Mundo no Maracanã o pano de fundo de uma série de estórias inusitadas no romance Brasil F.C.. Página após página, a vida de seus personagens ganha um caráter cada vez mais imprevisível, deixando no leitor uma certa ansiedade para chegar o mais rápido possível à última página.

Brasil F.C.
Autor: Nelson Motta
Editora: Nova Fronteira


domingo, 4 de maio de 2014

CAMPEONATO BRASILEIRO 2014 – 3ª RODADA – FLAMENGO X PALMEIRAS


Flamengo 4 x 2 Palmeiras – Maracanã, Rio de Janeiro (RJ)

Atuações inspiradas de Mugni e Alecsandro levam o Flamengo a um contundente triunfo sobre o Palmeiras, no Maracanã.

O belo gol de fora da área do alviverde Wesley, logo aos 12 minutos, foi rapidamente respondido pelo rubro-negro Paulinho. Como os times brasileiros insistem em acreditar que é o mandante quem tem obrigação da vitória, a igualdade no placar fez o Flamengo ter que sair para o jogo e permitiu ao Palmeiras aguardar o melhor momento para dar o bote.

Com Paulinho, Negueba e Nixon, o Flamengo não estava preparado para pensar tramas ofensivas e claramente sentia falta de alguém com qualidade nos passes. Por isso, mesmo com presença no campo de ataque e mais tempo de bola nos pés, o Rubro-Negro não tinha sucesso na criação ofensiva. O Alviverde, por sua vez, se sentia confortável para botar sua estratégia em prática e, aos 30, após jogada refinada pela direita e finalização certeira do Henrique, voltou a liderar o placar.

Se os últimos 15 minutos da etapa inicial deram a impressão de que o Flamengo não tinha condições de reverter a situação, os primeiros 15 após o intervalo foram completamente diferentes. Lucas Mugni entrou distribuindo passes preciosos, Alecsandro respondeu brilhantemente sempre que foi acionado, os homens de trás, como Márcio Araújo e André Santos, se fizeram mais participativos e, para melhorar a situação rubro-negra, o Palmeiras voltou mais frouxo e desligado na marcação.

Foi assim que Márcio Araújo, primeiro, e Alecsandro, depois, em uma jogada em que ele mesmo iniciou com um lençol magnífico, viraram o escore para o Mengo. Vale ressaltar que em ambas as jogadas o argentino Mugni esbanjou categoria em passes objetivos. Com 30 minutos por jogar, o Palmeiras se viu, pela primeira vez no confronto, tendo que construir jogadas diante de um rival fechado, tendo que pensar mais do que correr.

A necessidade fez com que os alviverdes começassem a buscar mais o Valdívia em campo, mas o Palmeiras não só não conseguiu levar perigo ao goleiro Felipe como ainda permitiu que Alecsandro finalizasse em gol uma ótima escapada do zagueiro Wallace, aos 26, para dar números finais à primeira vitória flamenguista no Brasileirão.

Flamengo: Felipe; Luiz Antônio, Wallace, Samir e André Santos; Márcio Araújo, Cáceres, Negueba (João Paulo) e Paulinho; Nixon e Alecsandro. Técnico: Jayme de Almeida.


Palmeiras: Fernando Prass (Bruno); Wendel (Mendieta), Lúcio, Marcelo Oliveira e Juninho; Josimar e Wesley, Serginho (Marquinhos Gabriel), Valdívia e Leandro; Henrique. Técnico: Gilson Kleina. 

JOGOS INESQUECÍVEIS DO BRASILEIRÃO - FLAMENGO X PALMEIRAS - 1979


Flamengo 1 x 4 Palmeiras

Campeonato Brasileiro de 1979 – Terceira Fase

Maracanã, Rio de Janeiro (RJ)

Público: 112.047

09 de Dezembro de 1979

Flamengo: Cantarelli; Toninho, Manguito, Dequinha e Júnior; Paulo César Carpeggiani, Adílio (Beijoca) e Zico; Reinaldo (Carlos Henrique), Cláudio Adão e Tita. Técnico: Cláudio Coutinho.

Palmeiras: Gilmar; Rosemiro, Beto Fuscão, Polozzi e Pedrinho; Pires, Mococa e Jorge Mendonça; Jorginho (Carlos Alberto Seixas), César (Zé Mário) e Baroninho. Técnico: Telê Santana.

Gols: Jorge Mendonça (Palmeiras), aos 11’ do primeiro tempo; Zico (Flamengo), aos 9’, Carlos Alberto (Palmeiras), aos 24’, Pedrinho (Palmeiras), aos 31’ e Zé Mario (Palmeiras), aos 44’ do segundo tempo.


Foi no Brasileirão de 1979, o mais inchado da história com incríveis 94 clubes - coisas da Ditadura e a política do “onde a Arena vai mal, mais um time no nacional”. O regulamento pitoresco, porém, não impediu grandes jogos, como o Flamengo versus Palmeiras da terceira fase. Tanto os rubro-negros como os alviverdes haviam passado sem dificuldades por Comercial e São Bento, os outros componentes do grupo, e duelaram num Maracanã com mais de 100 mil presentes por uma vaga na semifinal.

O Verdão tinha a vantagem do empate e ficou em situação ainda mais doce quando o craque Jorge Mendonça abriu o placar, logo aos 11 do primeiro tempo. Ao Fla, só restava atacar com corpo e alma, e Zico, Tita, Cláudio Adão e companhia se lançaram à frente, dando um trabalho enorme ao goleiro Gilmar. Como que para mostrar que não iria apenas se resguardar, o Palmeiras deu uma escapulida no fim da etapa inicial e o avante César, dentro da pequena área, acertou o travessão. O segundo tempo prometia...

Nove minutos após a volta dos vestiários, o árbitro Carlos Martins assinalou pênalti em Zico e o próprio Galinho igualou o placar. “Dá pra virar! Dá pra vencer!” – pensaram os milhões torcedores rubro-negros. Ledo engano... Esbanjando preparo físico, consciência tática, cabeça no lugar e bola nos pés, os comandados de Telê Santana não se intimidaram com o cenário, minaram pouco a pouco as forças rubro-negras e chegaram a uma goleada monumental, com gols de Carlos Alberto, Pedrinho e Zé Mario. 

quinta-feira, 1 de maio de 2014

CADÊ A FIGURINHA DO FELIPÃO?


A esta altura, muitas crianças de até 100 anos já devem ter completado o álbum de figurinhas da Copa do Mundo. Lá encontramos os cromos da taça, da Brazuca, da logomarca do torneio, de quase todos os jogadores que virão ao Brasil, de alguns que sequer serão convocados, dos escudos das 32 federações que estarão presentes, das imagens dos estádios (na verdade, montagens, pelo óbvio motivo de que não seria possível bater foto de um estádio que não está pronto) e até figurinhas de patrocinadores, o que, diga-se de passagem, é uma baita falta de respeito com o colecionador. Está tudo lá. Ou melhor, quase tudo...

Não deixa de ser surpreendente que em uma época na qual os treinadores, Planeta Bola afora, são endeusados e valorizados com remunerações e status mais alto que o de muitos jogadores, o álbum do Mundial não tenha as figurinhas de Felipão, Joachim Löw, Alejandro Sabella, Vicente del Bosque e seus companheiros de classe. A ausência dos “professores” no álbum do Brasileirão é totalmente compreensível, já que a cada rodada um deles cai e, ao final, as figurinhas ficariam defasadas. No entanto, em um álbum do Mundial, apesar do Carlos Alberto Parreira ter sido demitido da Arábia Saudita no meio da Copa de 1998, este argumento não é válido.

O cromo do treinador, ao lado e igual ao de cada jogador, sem nenhum destaque especial de brilho, formato ou tamanho, é questão de justiça. Não é querer supervalorizar e bradar aos quatro cantos que “técnico ganha jogo”, mas simplesmente que ele ajuda a ganhar. Felipão e os outros 31 comandantes também mereciam estar “figurinhados”, pois, assim como os que vestem o uniforme e vão a campo, eles também fazem parte da história de sua Seleção. Para o bem e para o mal...

COPA LIBERTADORES 2014 – OITAVAS DE FINAL – CERRO PORTEÑO X CRUZEIRO


Cerro Porteño 0 x 2 Cruzeiro – Estádio General Pablo Rojas, Assunção (Paraguai)

Na base do coração! Mesmo pouco inspirado, Cruzeiro vence Cerro Porteño e segue firme na busca por sua terceira Libertadores.

Em Marcado para a Morte, um dos grandes clássicos dos filmes de ação, Steven Seagal enfrenta um cartel de drogas jamaicano cujo líder supostamente possui o poder de estar em dois lugares ao mesmo tempo. Depois de muitos tiros e pontapés, o herói descobre que não havia nada de sobrenatural no vilão e que, na verdade, estava diante de gêmeos.  No fim, após matar os dois irmãos, Seagal solta o inesquecível “Espero que não sejam trigêmeos”.

Pois este deve ter sido o desejo de todos os cruzeirenses diante do salseiro causado pelos gêmeos Óscar e Ángel Romero nos primeiros 30 minutos de jogo. Eles correram, driblaram, apanharam, deixaram seus companheiros, principalmente o centroavante Güiza, em condições de marcar e o Ángel ainda acertou o travessão. Fizeram o diabo.

Após meia hora, porém, o Cerro diminuiu o ritmo e o Cruzeiro, enfim, conseguiu um pouco de paz. Mais paz veio no intervalo e os mineiros voltaram para a etapa final ordenados o suficiente para, pelo menos, marcarem maior presença no campo de ataque. Com o caminhar do relógio a Raposa aumentou a intensidade e o Cerro, que até este momento ignorava a vantagem do empate mudo, deu indícios de que colocaria o regulamento debaixo do braço.   

O crescimento cruzeirense, porém, não se mostrou sólido o bastante para levar perigo ao goleiro Fernández, e quando Bruno Rodrigo foi mandado para o chuveiro, aos 32, a vaca azul parecia caminhar a passos largos para o brejo. Apenas parecia... Aos 35, Dedé, que até então vinha em jornada desastrosa e repleta de erros, subiu mais alto que toda a defesa rival e fez de cabeça – ou seria de coração? – o gol tão desejado.

Daí até o fim, o Cerro não só não teve psicológico para buscar o empate que levaria para os pênaltis como ainda viu Corujo ser expulso e Dagoberto, já nos acréscimos, dar números finais à heroica classificação azul. O Cruzeiro ainda não foi nesta Libertadores o time avassalador do Brasileirão 2013, mas sem dúvidas segue forte na briga pelo caneco.

Cerro Porteño: Fernández; Bonet, Cardoso, Ortiz e Alonso (Gamarra); Corujo, Julio dos Santos, Oviedo e Óscar Romero; Ángel Romero (Godoy) e Güiza (Beltrán). Técnico: Francisco Arce.

Cruzeiro: Fábio; Ceará, Dedé, Bruno Rodrigo e Samudio; Henrique e Lucas Silva; Éverton Ribeiro, Ricardo Goulart e Willian (Dagoberto); Júlio Baptista (Borges) (Léo). Técnico: Marcelo Oliveira.