Uma guerra não traz
consequências somente no campo de batalha. Política, economia, cultura e
esporte são alguns dos diretamente influenciados pela “música de terror” tocada
por metralhadoras, tanques e aviões de combate. Quando o assunto é futebol, a
não realização das Copas do Mundo de 1942 e 1946, devido à 2ª Guerra Mundial, e
o conflito armado interrompido no Congo Belga, em 1969, para que os nativos
pudessem ver o Santos de Pelé jogar, são fatos conhecidos.
Dentro deste amplo
universo criado pela relação futebol/guerra, a coluna “Futebol com História” de
hoje contará mudanças, digamos, na aparência que as duas Grandes Guerras
causaram em três dos maiores clubes brasileiros. Por ordem cronológica, vamos
iniciar pela interferência da I Guerra Mundial no uniforme do Flamengo.
O Clube de Regatas do
Flamengo nasceu em 1895, porém o futebol só chegaria a ele em 1912, através de um
movimento liderado pelo atacante Alberto Borgeth que levou nove jogadores abandonarem
o Fluminense. O primeiro uniforme do futebol flamenguista não foi o das
tradicionais listras horizontais – este era o do remo, que não permitia o seu
uso no futebol –, mas sim um com quatro grandes quadrados, dois vermelhos e
dois pretos, em posições alternadas, que ficou conhecido como
“papagaio-de-vintém”. No entanto, no biênio 1914/1915, o Fla conquistaria os
seus dois primeiros títulos estaduais com outro uniforme, o “cobra-coral”, que
apresentava listras horizontais vermelhas e pretas e, entre estas, listras mais
finas da cor branca. Sim, amigos, o Flamengo já foi tricolor.
Pois bem, em 1916,
por conta da 1ª Guerra Mundial (1914-1918), a Alemanha era, para os brasileiros,
entre outros, o grande vilão do planeta. E quais eram as cores que
representavam o Império Alemão? Vermelho, preto e branco. Sendo assim, para não
criar nenhum tipo de associação com os alemães, o Flamengo abandonou o uniforme
“cobra-coral” e passou a utilizar o mesmo dos remadores, com listras
horizontais vermelhas e pretas. Sem o branco.
Saltemos agora para a
década de 40, quando quem causava pânico em todo o planeta era a 2ª Guerra
Mundial (1939-1945). Desta vez, os rivais brasileiros eram os países do Eixo,
representados principalmente pela Alemanha de Hitler e a Itália de Mussolini.
Foi neste panorama que, 1942, Getúlio Vargas ordenou/obrigou que todo clube que
tivesse o nome relacionado com espanhóis, italianos e alemães o mudasse. E foi
assim que dois clubes tradicionais e campeões chamados Palestra Itália, um em
Minas Gerais e outro em São Paulo, originaram os hoje gigantes Cruzeiro e
Palmeiras, respectivamente.
O primeiro jogo da
Sociedade Esportiva Palmeiras, vejam só, foi a decisão do Campeonato Paulista
de 1942, contra o São Paulo. Os jogadores palmeirenses – craques do quilate de
Oberdan Cattani, Junqueira, Og Moreira, Waldemar Fiume e Lima – entraram em
campo com a bandeira do Brasil. No entanto, o gesto não os impediu de receberem
vaias e xingamentos que fariam qualquer senhora de idade cair dura para trás. O
fim do jogo, que não ocorreu no tempo que deveria, pois um baita pega-pa-capá
fez o juiz o encerrar mais cedo, decretou a primeira glória do Palmeiras,
vencedor do duelo por 3 x 1. Já em Minais Gerais, o Cruzeiro não tardaria a
conquistar títulos, que vieram a granel com o Tri Mineiro de 43/44/45 comandado
pelo grande atacante Niginho.
Pois é, amigos, não é
exagero dizer que três das maiores instituições esportivas brasileiras ganharam
fortes traços característicos por causa da intolerância presente nos
brasileiros diante de uma Guerra Mundial.
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