Falo do segundo gol de Walter, o terceiro do Fluminense, na
goleada diante do São Paulo. Poucos atacantes brasileiros dominariam uma bicuda
para frente como Walter fez, na origem da jogada. Menos ainda teriam a
tranquilidade que teve o tricolor para não finalizar o lance de qualquer maneira.
E nenhum outro seria capaz de um arremate de três dedos com tamanha perfeição
para fazer a bola beijar a bochecha da rede. Fred, Jô, Luis Fabiano e alguns
outros (não tantos) sabem como sacudir o filó, mas nenhum deles tem a categoria
de Walter, o rústico refinado.
Walter é um paradoxo. Sua forma física – forma no sentido de aparência,
não no de preparo, pois seu preparo não deve nada ao da maioria – condiz com a
de um trombador perto da aposentadoria. Seu jeito sincero e sem papas na língua
com o de alguém instável em campo. Seu sotaque nas entrevistas passa longe do
que o senso comum associa a cantores de ópera ou maestros. Walter tinha tudo
para ser apenas um dos chamados (quase sempre de maneira depreciativa) jogadores
folclóricos. No entanto, seu futebol é digno de terno risca de giz, camisa de
linho, gravata de seda e sapato de couro.
Há séculos os alquimistas acreditavam ser possível transformar
chumbo em ouro. Pois Walter os dá razão ao receber bolas de chumbo de seus
companheiros e as devolver com passes dourados. Suas finalizações podem ser
sutis ou potentes, mas o fato é que nem mesmo quando ele opta por soltar um
foguete a categoria fica de lado. A postura de seu corpo e a maneira como seu
pé encaixa na bola, como se fossem feitos um para o outro, não condiz com a
força do arremate. É como se fosse aquela imagem de um canhão munido por uma
rosa.
Hoje, amigos, nada é mais prazeroso e divertido em nossos
gramados do que ver o Walter em campo. E ele também parece se divertir aos
montes em seus espetáculos.
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