Os quase 100 mil presentes no Camp Nou deveriam estar trajando terno e gravata diante do espetáculo que vivenciaram. Foi uma atuação inesquecível, que merecia estar sendo contada agora por uma caneta de pena passeando por um pergaminho folheado à ouro. Aqueles livros que se propõem a listar as melhores coisas para se fazer na vida devem criar um capítulo para esta histórica partida. No dia de seu aniversário, o Barcelona humilhou o seu maior rival e fez aquele que ama o futebol dizer “muito obrigado”.
Mal havia dado tempo de posicionar as duas equipes em minhas anotações e o Barça já havia acertado a trave uma vez e colocado 2 x 0 no placar. Se aproveitando de um Real Madrid que insistia em posicionar sua defesa em linha e contava com volantes completamentes perdidos na marcação, o que facilitava a entrada dos adversários em velocidade ou pela meiúca, o Barcelona precisou de menos de 20 minutos para mostrar aos seus torcedores que a noite prometia. Se aos 5 minutos a redonda tocou caprichosamente a trave após arremate do Messi, aos 9 e 17 ela foi parar no fundo do barbante em finalizações do Xavi, esta com imensa categoria, e do Pedro, que só completou o cruzamento do David Villa. Com dois gols de vantagem, o Barça deu início a uma verdadeira aula de como uma equipe deve se postar quando está vencendo e apresentou uma qualidade única na troca de passes. Em alguns momentos dava para imaginar a bola sorrindo, tamanha a leveza com a qual era tocada pelos jogadores azul-grenás. No entanto, como um show só fica completo quando a maior estrela apresenta suas qualidades, Lionel Messi voltou para a 2ª etapa inspiradíssimo. E, amigos, se marcar um Messi já é de uma dificuldade inadjetivável, marcar um Messi inspirado é tarefa impossível. Bastou apenas 12 minutos para o melhor do mundo dar três assistências como se houvesse uma régua em sua chuteira, Xavi acertar a rede pelo lado de fora e David Villa acertá-la duas vezes pelo lado correto.
Apesar de ao olhar para o placar no estádio os jogadores madrilenhos se depararem com um acachapante 4 x 0, creio que a maior humilhação ainda estava por vir. Se na 1ª etapa a troca de passes do Barça foi daquelas para gravar e reproduzir como video-aulas por qualquer treinador, o que Xavi, Messi e companhia fizeram com quatro gols de vantagem foi de outro planeta. Cada passe dado por um jogador catalão era uma punhalada na honra dos merengues. Passes de primeira, toques de calcanhar, viradas de jogo... Nunca o futebol me pareceu tão coletivo como durante estes minutos em que o Barcelona brincou de jogar bola. A sensação era a de que a qualquer momento algum jogador do Real poderia roubar o apito do juiz e decretar o fim da partida ou José Mourinho jogar seu cachecol em campo como se fosse um treinador de boxe que atira a toalha por não aguentar mais ver seu pupilo ser humilhado.
Aos 45 minutos, Jefren completou cruzamento de Bojan e fechou o placar em 5 x 0. Aos 47, Sérgio Ramos agrediu Messi com a bola rolando e foi expulso. No entanto, amigos, o estrago no orgulho madrilenho já não poderia ser maior. A sensação de incapacidade diante da troca de passes do rival foi muito pior do que o placar em si.
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