A ausência de Muricy Ramalho do banco
de reservas do São Paulo nos últimos dias, devido a problemas cardíacos, é uma
ilustração definitiva do estresse que os treinadores inspiram e expiram durante,
mas não apenas, os 90 minutos de uma partida. De uns tempos para cá, coisa de
no máximo duas décadas, a chamada área técnica tornou-se uma área de desespero,
com treinadores de olhos esbugalhados, veias saltitantes e gestos agressivos.
Não existe apenas um motivo para a
postura desesperada que os treinadores demonstram nas proximidades da linha
lateral, ao lado de microfones que captam as abelhas africanas, as cobras e os
lagartos que eles cospem. No entanto, um motivo que certamente influencia este
show de agressividade é o fato dos “professores” desejarem mostrar que estão
trabalhando, suando com os jogadores, fazendo de tudo pela vitória do time. De
uma forma bem ácida, diria que eles tentam compensar no tempo de jogo o que não
fazem no tempo (curto, é verdade) de treinamento.
Sem se sentirem seguros com o
trabalho técnico-físico-tático-psicológico realizado nas vésperas, os
treinadores apostam no escândalo à beira do campo. Difícil é saber como eles
acreditam estar ajudando com seus berros, sejam os direcionados aos comandados
ou aos árbitros. Pensemos, por exemplo, na questão da valorização da posse de
bola, questão esta que a chinelada alemã de sete transformou em protagonista
para o futebol brasileiro. Como esperar que nossos meio-campistas, muitos deles
sem muita intimidade com a redonda, tenham concentração e leveza para realizar
um jogo de troca de passes enquanto, a poucos metros, seu treinador se esgoela
aos berros de “Pega!”, “Toca!”, “Marca!”, “Aqui”, “Ali”, “Falta!”, “Cartão”,
“&*%$#!”.
Qualquer porta de banheiro de
botequim ou traseira de caminhão diz que tudo tem um lado positivo e um
negativo. Confesso, porém, amigos, não encontrar nenhum benefício, para os
jogadores, os torcedores, os próprios treinadores e, principalmente, para o
jogo em si, de tamanho desespero na área técnica.
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