Além de dar mais corpo à nova
caminhada do Dunga no comando da Seleção, os triunfos contra Argentina e Japão
também serviram para enfraquecer uma crença que ganhou muitos adeptos nos
últimos anos: a de que o futebol bem jogado é somente aquele que prioriza a
posse de bola.
Os espetáculos do nem tão antigo Barcelona
de Guardiola, os anos de domínio da Espanha no Planeta Bola e a chinelada alemã
que sofremos no último Mundial fizeram, ou melhor, fazem com que muitos
classifiquem qualquer estratégia que não seja a de valorização da posse de bola
como uma forma de anti-futebol. Para estes, priorizar no contra-ataque é um
pecado mais grave do que beber cachaça no cálice de Cristo. Pois as quase duas
dezenas de lances incisivos e imprevisíveis que a Seleção criou diante de
Argentina e Japão mostram que não é bem assim, que é possível ser refinado sem
ter a bola por muito tempo nos pés.
Nomes como Diego Tardelli, Willian,
Oscar, Kaká, Robinho e, principalmente, Neymar, o melhor jogador de seleção do
mundo, são tão imprevisíveis tática e tecnicamente que não precisam de muito
tempo para encontrar espaços. Espaços que surgem ainda mais facilmente quando a
opção por contra-atacar encaixa, como ocorreu após a primeira meia hora contra
a Argentina e em todo o embate diante do Japão. Com um repertório que inclui alternâncias
de posições, toques curtos, dribles paranormais e capacidade de construir
tramas requintadas e letais em segundos, a Seleção pode colocar a valorização
da posse de bola como algo secundário.
Vejam bem, amigos, disse secundário, e
não descartável, pois quando o adversário não permitir espaços para o
contra-golpe ou quando as imprevisibilidades táticas e técnicas não encaixarem,
uma Seleção da magnitude da brasileira tem a obrigação de ter no seu repertório
a capacidade de trocar de passes de pé em pé em pé em pé em pé até que estes
espaços apareçam. Assim como saber contra-atacar deve fazer parte do cardápio de
um grande time que priorize a posse de bola, saber trocar passes é fundamental
para um grande time que aposte mais nos contra-golpes.
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