quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

PAPO CABEÇA - UNIFICAÇÃO DOS TÍTULOS NACIONAIS

Olá amigos do FUTEBOLA!

A partir do próximo dia 22 de dezembro os Campeões da Taça Brasil (1959-1968) e do Roberto Gomes Pedrosa (1967-1970) serão considerados, também, Campeões Brasileiros pela CBF. Esta é uma questão que vem ocupando grande espaço na mídia já faz um bom tempo, como mostra o fato de alguns jornais terem estampado que o Fluminense, com a conquista do Brasileirão de 2010, teria se sagrado Tricampeão, incluindo assim o Roberto Gomes Pedrosa de 1970 como Campeonato Brasileiro.

Não resta dúvida de que esta decisão tomada pela CBF irá gerar sensações de revolta em uns e de alegria em outros. No entanto, não seria correto alguém defender sua posição de felicidade só por estar vendo seu time ser considerado um “novo” Campeão Brasileiro ou, por outro lado, discordar da decisão da CBF somente por seu clube nunca ter vencido uma Taça Brasil ou um Robertão. Sendo assim, o FUTEBOLA irá apresentar argumentos para aqueles defendem e também para aqueles que são contra a unificação dos títulos.

Por que os Campeões da Taça Brasil e do Robertão devem SIM ser considerados Campeões Brasileiros?

- A Taça Brasil foi criada em 1959 para decidir qual clube representaria o país na Copa Libertadores da América, que seria disputada pela primeira vez em 1960. O torneio contava com Campeões de quase todos os estados – foram 16 no torneio de 1959 – e era disputado no formato de mata-mata, onde primeiramente ocorriam as disputadas regionais para depois quatro equipes se enfrentarem nas semi finais e, consequentemente, decidirem quem seria o Campeão e o representante do Brasil na Libertadores. Portanto, para aqueles que querem defender a Taça Brasil como Campeonato Brasileiro, creio que não existe melhor argumento do que ser a Taça Brasil um torneio disputado pelos melhores de cada Estado e cujo vencedor iria representar o país na mais importante competição da América do Sul.

- Em 1967, foi criado o Torneio Roberto Gomes Pedrosa, que neste ano foi disputado por equipes do Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Paraná, e que nas edições seguintes também ganharia clubes de Pernambuco e da Bahia. Diferente da Taça Brasil, toda disputada em jogos eliminatórios, o Robertão possuía uma primeira fase onde os clubes se dividiam em dois grupos e os dois primeiros colocados de cada grupo se classificavam para um quadrangular final. Em 1971, a criação daquele que hoje é chamado Campeonato Brasileiro gerou poucas modificações no formato do Robertão de 1970, apenas a entrada de mais três clubes, englobando também o estado do Ceará, e o surgimento de uma nova fase de grupos. O Brasileiro de 1971 foi disputado por 20 clubes divididos em dois grupos de 10. Cada grupo classificava os seis primeiros colocados para uma segunda fase, onde os 12 clubes classificados se organizavam em três grupos de quatro. O vencedor de cada um destes três grupos garantia vaga no triangular final. Resumo da ópera: a única diferença entre o Robertão de 1970 e o Brasileiro de 1971 foi o acréscimo de três clubes e uma modificação no formato de tabela. Amigos, convenhamos, se aumentar o número de participantes ou realizar modificações na tabela servissem como motivos para não chamar um torneio de Campeonato Brasileiro, em que setor estaria classificado o Brasileirão de 1979, que contou com nada menos do que 96 clubes? E a Copa João Havelange de 2000, que vale como Campeonato Brasileiro e em sua fórmula de disputa colocou clubes das primeira, segunda e terceira divisões se enfrentando? Portanto, se você quer defender o o Campeão do Roberto Gomes Pedrosa como um Campeão Brasileiro, saiba que as diferenças regulamentares entre ambas as competições devem ser desconsideradas e que o Robertão tem toda a cara de Brasileirão.

Por que os Campeões da Taça Brasil e do Robertão NÃO devem ser considerados Campeões Brasileiros?

- Neste recém terminado Campeonato Brasileiro de 2010, o meia argentino Conca foi o jogador mais elogiado de todos. E os elogios não foram só por sua gigantesca qualidade técnica ou pelo seu profissionalismo fora das quatro-linhas, mas também por ele ter conseguido a façanha de disputar todas as 38 cansativas rodadas da competição. Diante desta maratona que o Fluminense enfrentou para ser Campeão, dá para imaginar uma equipe levantando o caneco do Brasileirão disputando apenas 4 jogos? Ou, ainda mais assustador: vocês imaginam uma equipe Pentacampeã Brasileira com um total de 24 jogos? Pois é, estes são os números do Santos na conquista do Penta da Taça Brasil entre 1961 e 1965. Foram 5 jogos em 1961, 5 jogos em 1962, 4 jogos em 1963, 6 jogos em 1964 e 4 jogos em 1965. Como critério de comparação, para uma equipe brasileira ser Pentacampeã Brasileira, atualmente, necessitará disputar 190 jogos.

- Ninguém pode constestar a dificuldade que era vencer um Robertão. Era uma época onde os nossos craques – e não eram poucos, vide a Seleção Brasileira Campeã do Mundo em 1970 – atuavam por aqui e quem vencesse o torneio era realmente a melhor equipe do país. No entanto, ser a melhor equipe do país não significa ser Campeã de um torneio que ainda não existia. O Campeonato Brasileiro surgiu em 1971 e o Robertão teve um papel importantíssimo como embrião, porém não era o Campeonato Brasileiro. Da mesma maneira que a Taça Brasil era a Taça Brasil, e não o Campeonato Brasileiro. Se a Taça Brasil e o Robertão se equivalem e equivalem ao Brasileirão, por que ambos foram disputados no ano de 1967 e 1968? Se a unificação for aceita, teremos o Botafogo (Taça Brasil) e o Santos (Robertão) como Campeões Brasileiros de 68. E pior, teremos o Palmeiras (Taça Brasil e Robertão) como Bicampeão Brasileiro no mesmo ano de 1967!!! Todo torneio tem a sua importância. Ninguém pode desmerecer o Bahia, Campeão da Taça Brasil de 1959 e primeiro brasileiro a disputar uma Libertadores, porque seu título não é chamado de Campeonato Brasileiro. Ninguém pode duvidar da força do Cruzeiro, que sapecou o Santos na final da Taça Brasil de 1966 por 6 x 2, no Mineirão, e 3 x 2, no Pacaembu, porque seu título não é chamado de Campeonato Brasileiro. Ninguém seria louco de diminuir o Fluminense de 1970, Campeão da principal competição nacional no ano em que a Seleção Brasileira encantou o mundo da bola, porque seu título não é chamado de Campeonato Brasileiro. Ninguém pode falar um pingo do Palmeiras de 1967, Campeão da Taça Brasil e do Robertão, porque estes títulos não eram chamados de Campeonato Brasileiro. São todos títulos inesquecíveis para os jogadores, dirigentes, técnicos e torcedores. Porém, são títulos da Taça Brasil e do Torneio Roberto Gomes Pedrosa. O Campeonato Brasileiro só surgiu em 1971.

Um comentário:

  1. Não tenho ainda uma opinião consolidada sobre o assunto, mas as minhas impressões são as seguintes.

    O Roberto Gomes Pedrosa foi extremamente semelhante a uma disputa de campeonato brasileiro, razão pela qual eu acharia justa a unificação. A diferença no nome pouco importaria. Caso contrário, Flamengo não seria hexa porque venceu a Copa União de 1987, e Vasco não seria o campeão brasileiro de 2000 por ter vencido a Taça João Havelange. Enfim, acho que neste caso o que mais importa é o conteúdo do campeonato, e não uma mera formalidade de ser ou não intitulado "campeonato brasileiro".

    Situação mais complicada envolve a Taça Brasil. Quando veio a notícia da unificação dos títulos eu havia concordado, mas não fazia idéia de como era disputada esta competição. Agora que sei, ficou mais difícil de defender alguma coisa.

    Por um lado, a Taça Brasil mais se assemelha com uma Copa do Brasil do que Campeonato Brasileiro. Por essa razão parece que, em princípio, seria mais justo unificar os títulos da Taça Brasil com a Copa do Brasil, deixando apenas o Roberto Gomes Pedrosa a ser unificado com o Campeonato Brasileiro. Assim seria resolvido o problema de ter "dois campeonatos brasileiros" disputados em 1967 e 1968. Da mesma forma, seria mais razoável aceitar que o Santos seja pentacampeão de uma Copa do Brasil jogando 24 jogos. Essa tese é a que, em princípio, me atrai mais.

    Por outro lado pode haver quem diga que as competições foram evoluindo com o tempo. Em outras palavras, para aquela época a principal competição de caráter nacional era, sim, a Taça Brasil. Por mais que fosse disputada em poucos jogos, apenas no formato de mata-mata, era a principal competição da época, tal como é o Campeonato Brasileiro atualmente. Considerado este significado da Taça Brasil (repito, analisado pelo ângulo de quem viveu naquela época, naquele estágio evolutivo das competições do futebol brasileiro), poderia ser defendida a sua unificação com o Brasileiro. Para quem defende este ponto de vista, seria equivocado avaliar uma competição do passado tomando por base o que acontece no presente.

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