Assistia ao duelo entre os carrascos dos cariocas LDU e Universidad de Chile, primeiro jogo válido pela decisão da Copa Sul-Americana, quando, diante do fato de os treinadores de ambos os times serem argentinos, a pergunta presente no título desta coluna me veio à cabeça.
A primeira barreira justificativa que que poderia responder esta pergunta é uma barreira frágil: a diferença de idioma entre nós, brasileiros, e o restante do continente. Basta uma rápida busca na história do futebol para esta justificativa ir por água abaixo. Vejamos: em 1963, Danilo Alvim, craque do famoso “Expresso da Vitória” vascaíno dos anos 40, treinou a Bolívia na conquista invicta do Sul-Americano. Algo mais de uma década depois, o genial “Príncipe Etíope” Didi foi o comandante da Seleção Peruana que fez história ao superar a Argentina nas Eliminatórias para a Copa do Mundo de 1970 e, no próprio Mundial, cair somente nas quartas de final, para o Brasil de Pelé e Cia. Mais recentemente, Paulo Cesar Carpegiani foi o treinador do Paraguai de Chilavert, Arce e Gamarra que, na Copa do Mundo de 1998, fez a campeã e anfitriã França suar litros e mais litros nas oitavas de final, em confronto decidido somente no gol de ouro.
Se a diferença de idiomas é facilmente jogada para escanteio, o mesmo não se pode fazer com a diferença de salários. No futebol brasileiro, não são apenas os jogadores que possuem poupanças cada vez mais recheadas, mas também os treinadores. Assim, uma justificativa plausível para os “professores” brasileiros não estarem presentes nas mais conhecidas equipes sul-americanas pode ser encontrada no fato de que aqui, no nosso país, a grana é maior. E este fator econômico ganha o apoio da alta rotatividade de treinadores entre os clubes brasileiros. Se um treinador sabe que poucos dias após ser demitido ele receberá convite de outro clube daqui, cria-se uma “zona de conforto” onde ele, treinador, dificilmente precisa buscar alternativas fora do país. Exemplo que espelha de maneira perfeita esta “zona de conforto” é Váner Mancini, que entre 2008 e 2011 treinou nada menos do que sete clubes brazucas (Grêmio, Vitória, Santos, Vasco, Ceará, Guarani e Cruzeiro).
Sem dúvidas a falta de intercâmbio entre treinadores brasileiros e clubes sul-americanos é ruim para ambos. Os técnicos perdem a oportunidade de conhecer estilos e culturas de futebol diferentes, enquanto os clubes deixam de aprender um pouco do futebol jogado por aqui, que, desde 1992, só não esteve presente em três finais de Libertadores.
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