quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

BATE-PAPO COM BUJICA, UM ATACANTE FLAMENGUISTA DE CORAÇÃO E NO CORAÇÃO DOS FLAMENGUISTAS


Nesta postagem o FUTEBOLA bate um papo com um jogador mais do que especial para a torcida do Flamengo: Marcelo Ribeiro, conhecido por todos como Bujica. Nas próximas linhas, Bujica fala sobre o inesquecível Flamengo x Vasco que o colocou na história rubro-negra, sua tristeza ao deixar a Gávea e a idolatria no Mato Grosso e no Peru.

FUTEBOLA: Para começar, gostaria que você falasse um pouco da sua vida no futebol antes de estrear nos profissionais. Precisou fazer muitos testes até chegar às divisões de base do Flamengo, com 14 anos?
BUJICA: Comecei em Cachoeira de Itapemirim, minha cidade natal, no Estrela do Norte Futebol Clube. Quando o mirim do Estrela fez uns jogos em Padre Miguel, no Rio de Janeiro, o Braga, diretor da base do Flamengo, me viu e gostou. Meu irmão, Luciano, que havia jogado no juvenil e juniores do Flamengo, me levou para fazer um teste e fui aprovado.

FUTEBOLA: No histórico Flamengo e Vasco de 1989, que marcou a primeira vez que o atacante Bebeto vestiu a camisa cruz-maltina contra o Fla, você anotou dois gols e foi o dono do jogo. Quais as suas lembranças deste dia?
BUJICA: Estava muito ansioso na concentração, a tensão pré-jogo era alta. Durante a semana houve muita provocação por parte dos jogadores do Vasco, que tinha uma equipe muito boa na época, tanto que foi o Campeão Brasileiro. Eles falaram muito em relação ao Zico e ao Júnior, os jogadores de maior idade do Flamengo. Eu me lembro de uma reunião que o Zico fez comigo, com o Alcindo e o Luís Carlos na concentração, quando ele nos pediu muita ajuda na marcação para a bola não chegar redonda nos pés dos vascaínos. Ele nos pediu isso por causa da situação física dele, de suas lesões. E nós conseguimos correr muito, marcar muito e deixar o Zico com força para poder definir a partida. Neste jogo, os melhores em campo foram o Zico e Júnior, que arrebentaram. Eu acho que só peguei umas três vezes na bola durante todo o jogo.

FUTEBOLA: Ainda em 1989, ano em que subiu para os profissionais, além dos históricos dois gols contra o Vasco, você também balançou as redes na goleada do Flamengo sobre o Fluminense por 5 a 0, clássico que marcou a despedida do Zico do Fla. Como foi ver o “Galinho” dizer adeus?
BUJICA: Foram dois momentos ao mesmo tempo. Um de tristeza, por o Zico estar saindo, e outro de muita felicidade por estar participando de uma festa do maior ídolo da nação rubro-negra até hoje – e nunca vai aparecer outro igual a ele. Eu me considero um sortudo por ter participado desta partida e da outra despedida do Zico, contra a Seleção do Resto do Mundo. Sou flamenguista, fã do Zico, foi o melhor jogador do mundo que eu vi, sempre um exemplo de profissional, eu sou muito feliz, agradeço a Deus, por ter me dado esta oportunidade.

FUTEBOLA: Depois de conquistar a Copa do Brasil e mais alguns torneios amistosos internacionais com o Flamengo, em 1990, você foi para o Botafogo e fez parte do time alvinegro que foi vice-campeão brasileiro de 1992, perdendo a final justamente para o Fla. Você queria ter saído do Flamengo?
BUJICA: Não queria ter saído do Flamengo. Eu saí para treinar de manhã, fiz o treinamento, fui para a concentração de São Conrado almoçar e descansar e, quando estava deitado, me chamaram e falaram que eu deveria ir para o escritório do Léo Rabello. Estranhei, fui até lá e ele me disse que eu havia sido vendido para o Botafogo. “Como?”, eu disse, surpreso, e ele respondeu: “Não tem mais jeito não, já está tudo certo.” Não fui consultado, não queria sair do Flamengo e o Léo Rabello foi o responsável por minha saída.

FUTEBOLA: Você tem uma história muito bonita no futebol do Mato Grosso, com títulos estaduais pelo Operário (1995) e pelo Sinop (1999), além de uma passagem pelo Mixto. Em termos de estrutura de clube, preparo físico e qualidade técnica dos jogadores, como foi sair de um centro do futebol brasileiro para o Mato Grosso?
BUJICA: Depois que eu saí do Flamengo, perdi o tesão por jogar futebol. Sempre fui um cara muito pé no chão, de vida simples, comum. Nunca esqueci minhas origens, raízes e nem de onde saí. Por isso, sempre me adaptei muito bem em qualquer espaço e não tive dificuldades no Mato Grosso. Gosto muito do Mato Grosso e jogar lá foi muito bom para mim. Sempre fui muito profissional, mas vínculo só tive mesmo com o Flamengo.

FUTEBOLA: Durante os anos 90, você vestiu camisas de diversos times estrangeiros, tendo colocado seu nome na galeria de ídolos do Alianza Lima (PER). Pelo tradicional clube peruano, viveu momentos de sonho como o título nacional de 1997 e o gol no último minuto que deu uma vitória de virada sobre o Sporting Cristal por 5 a 4. O Alianza Lima tem um lugar especial no seu coração?
BUJICA: Foi no ano que o Alianza foi Campeão. E o Alianza é um dos clubes de maior torcida do Peru, tanto que os torcedores dizem que é metade do país e mais um. Este jogo, contra o Sporting, era muito importante para nossas aspirações. Jogávamos em casa e o placar era de 4 a 0 para eles. Estava no banco quando os nossos gols começaram a acontecer. Um, dois, três, quatro. Aí o treinador me colocou. Fiz o gol da vitória, comemorei e quando a bola voltou para o centro do campo o juiz apitou o fim do jogo. Foi uma das partidas mais emocionantes da minha vida. A partir dali, o time se acertou e não parou mais, tanto é que ganhou os dois turnos, o Clausura e o Apertura. Foi o meu período mais legal depois do Flamengo. O Alianza sempre jogava com o estádio cheio e viajava muito, principalmente para os Estados Unidos, onde tinha muito peruano. Fui muito feliz lá no Peru.

FUTEBOLA: Qual foi o melhor ano de sua vida como jogador?
BUJICA: Não escolheria um ano, mais sim um dia: 05 de novembro de 1989. É por causa deste dia que estou na história do Flamengo. [nota: dia da vitória de 2 a 0 contra o Vasco, quando marcou os dois gols.]

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