“Eu ia quebrá-lo”, esta foi a resposta de Nunes, do Botafogo
de Ribeirão Preto, após ser protagonista – pela porta dos fundos – do infindável
repertório de dribles do cada dia mais imprevisível Neymar, que desta feita
contou com um lençol nunca antes visto no Planeta Bola. E, mais uma vez, lá
vamos nós falar sobre o respeito no futebol. Mesmo quando um drible não tem um
fim senão ele mesmo, ou seja, o drible pelo drible, ele representa bem mais do
que a análise simplória de menosprezo ao adversário. Até mesmo as tão
amaldiçoadas embaixadinhas “a troco de nada” possuem forte influência no roteiro
de uma partida.
Hoje já não existe mais dúvida da importância da estrutura
psicológica no mundo dos esportes. Até mesmo em modalidades competitivas que
não são consideradas como esporte pela definição tradicional, caso do
Fisiculturismo, o psicológico é fundamental. Vejam o documentário “Pumping Iron”
e confirmem pelas palavras do veterano Arnold Schwarzenegger, que conta sua estratégia
para vencer o novato Lou Ferrigno no Mr. Olympia de 1975.
E o boxe? O controle mental dentro do ringue e a extroversão –
muitas vezes considerada desrespeitosa – de Muhammad Ali foram tão essenciais para
sua elevação ao status de maior da história quanto o seu jogo de braços e
pernas que o fazia “voar como uma borboleta e picar como uma abelha”.
Mas não precisamos voltar tantas décadas para encontrarmos
exemplos. Imaginem, amigos, o que pensam os adversários de Usain Bolt diante de
suas imitações de raio, danças robóticas e erguer de braços antes mesmo de
cruzar a linha de chegada? É um pensamento enxuto acreditar que o jamaicano faz
isso apenas para rebaixar os rivais. Ele o faz por saber que sua tranquilidade
representa o desespero dos outros.
E assim como Schwarzenegger, Ali e Bolt, Neymar sabe que
deixa um adversário moralmente no fundo do poço quando o entorta, o desconcerta,
o deixa com o GPS desconfigurado, o que abre caminhos para a vitória de sua
equipe. Mas mesmo quando a Joia Santista quer demonstrar suas habilidades
apenas para brindar os torcedores que tanto o idolatram, não há nada de errado.
Aqueles adversários que não estão satisfeito com a situação têm uma alternativa
bem simples para evitá-la que não “grudá-lo na tela”, como disse o mesmo Nunes: roubem-lhe a bola.
Agora, se Nunes e outros açougueiros do campo não possuem
capacidade para tanto, não acabem com a alegria dos mendigos do futebol, que,
como o escritor Eduardo Galeano, “andam pelo mundo, de chapéu na mão, e nos
estádios suplicam: - uma linda jogada, pelo amor de Deus! E quando acontece o
bom futebol, agradecem o milagre, sem se importarem com o clube ou o país que o
oferece".
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