sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

BEM MAIS QUE UMA FIRULA


“Eu ia quebrá-lo”, esta foi a resposta de Nunes, do Botafogo de Ribeirão Preto, após ser protagonista – pela porta dos fundos – do infindável repertório de dribles do cada dia mais imprevisível Neymar, que desta feita contou com um lençol nunca antes visto no Planeta Bola. E, mais uma vez, lá vamos nós falar sobre o respeito no futebol. Mesmo quando um drible não tem um fim senão ele mesmo, ou seja, o drible pelo drible, ele representa bem mais do que a análise simplória de menosprezo ao adversário. Até mesmo as tão amaldiçoadas embaixadinhas “a troco de nada” possuem forte influência no roteiro de uma partida.

Hoje já não existe mais dúvida da importância da estrutura psicológica no mundo dos esportes. Até mesmo em modalidades competitivas que não são consideradas como esporte pela definição tradicional, caso do Fisiculturismo, o psicológico é fundamental. Vejam o documentário “Pumping Iron” e confirmem pelas palavras do veterano Arnold Schwarzenegger, que conta sua estratégia para vencer o novato Lou Ferrigno no Mr. Olympia de 1975.

E o boxe? O controle mental dentro do ringue e a extroversão – muitas vezes considerada desrespeitosa – de Muhammad Ali foram tão essenciais para sua elevação ao status de maior da história quanto o seu jogo de braços e pernas que o fazia “voar como uma borboleta e picar como uma abelha”.  

Mas não precisamos voltar tantas décadas para encontrarmos exemplos. Imaginem, amigos, o que pensam os adversários de Usain Bolt diante de suas imitações de raio, danças robóticas e erguer de braços antes mesmo de cruzar a linha de chegada? É um pensamento enxuto acreditar que o jamaicano faz isso apenas para rebaixar os rivais. Ele o faz por saber que sua tranquilidade representa o desespero dos outros.

E assim como Schwarzenegger, Ali e Bolt, Neymar sabe que deixa um adversário moralmente no fundo do poço quando o entorta, o desconcerta, o deixa com o GPS desconfigurado, o que abre caminhos para a vitória de sua equipe. Mas mesmo quando a Joia Santista quer demonstrar suas habilidades apenas para brindar os torcedores que tanto o idolatram, não há nada de errado. Aqueles adversários que não estão satisfeito com a situação têm uma alternativa bem simples para evitá-la que não “grudá-lo na tela”, como disse o mesmo Nunes: roubem-lhe a bola.

Agora, se Nunes e outros açougueiros do campo não possuem capacidade para tanto, não acabem com a alegria dos mendigos do futebol, que, como o escritor Eduardo Galeano, “andam pelo mundo, de chapéu na mão, e nos estádios suplicam: - uma linda jogada, pelo amor de Deus! E quando acontece o bom futebol, agradecem o milagre, sem se importarem com o clube ou o país que o oferece". 

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