“No esporte não ha, não pode haver questão de nacionalidade”
O Estado de São Paulo, 16/10/1920
“Quando numa sociedade sportiva, os socios que a ella pertencem se acham revestidos dos seus uniformes, desapparece qualquer distincção de casta”
O Estado de São Paulo, 15/05/1916
O Estado de São Paulo, 16/10/1920
“Quando numa sociedade sportiva, os socios que a ella pertencem se acham revestidos dos seus uniformes, desapparece qualquer distincção de casta”
O Estado de São Paulo, 15/05/1916
Houve um tempo onde no planeta bola existia todo o tipo de segregação. Tomando o Brasil como exemplo, nas primeiras décadas do futebol aqui jogado existiram clubes que nada mais eram do que colônias inglesas, como o São Paulo Athletic Club, do Charles Miller, que era conhecido como British Club ou Clube dos Ingleses, e o Rio Cricket and Athletic Association, do Rio de Janeiro, que da fundação à extinção nunca contou com um brasileiro sequer em seu plantel.
A segregação racial também não ficava de fora, pelo contrário, talvez fosse a mais presente de todas, como espelha a convocação da Seleção Brasileira que disputou o Sul-Americano de 1925. Para o torneio sediado em Buenos Aires, nosso escrete foi intencionalmente convocado para não contar com negros. O onze brasileiro era formado por um mulato e dez brancos. O mulato era Arthur Friedenreich, de olhos verdes e que demorava horas arrumando o cabelo para parecer mais branco.
Além do país de origem e da cor, outro tipo de segregação encontrada aqui no Brasil era a social. O futebol brasileiro era de tamanha forma elitizado, que em meados da década de 10 a Associação Metropolitana de Sports Athleticos (AMSA), entidade que organizava o futebol no Rio de Janeiro, proibiu a participação de operários nos clubes a ela afiliados, em mais uma tentativa de impedir a democratização do esporte.
Apesar de em estádios pelo mundo afora ainda vermos atos racistas com certa frequência, me parecia que a segregação no futebol por parte das instituições que regem o esporte já houvesse sido sepultada. No entanto, eis que em uma recente reunião da Federação Francesa de Futebol (FFF) surge a proposta de limitar a 30% a presença de jovens descendentes de árabes e africanos nas academias de futebol sob o comando da entidade. Até o momento não consegui descobrir o que é mais chocante: a proposta em si ou o fato de ela ter surgido na França, país que conquistou a Copa do Mundo de 1998 com uma equipe que, apesar das críticas da extrema-direita, entrou para a história como exemplo de multirracialidade.
Creio que ainda esteja viva na cabeça da maioria dos amigos aquela Seleção Francesa que venceu o Brasil na final do Mundial de 1998 com Thuran, Desally e Viera, nascidos, respectivamente, em Guadalupe, Gana e Senegal, além de ninguém menos do que Zinedine Zidane, descendente de argelinos e considerado por muitos o maior futebolista francês de todos os tempos.
Com mais de um século de história, o futebol sempre esteve em contato com ideais políticos e econômicos. No entanto, sempre que a essência do futebol se vê ofuscada por estes ideais citados ele sai derrotado. O maior benefício que o esporte, em geral, e o futebol, em particular, pode trazer para a sociedade é a propagação do conceito de igualdade. No campo, todos os jogadores estão sujeitos às mesmas regras. Nas arquibancadas, os torcedores esquecem suas diferenças, sejam elas quais forem, e, uníssono, cantam por um mesmo objetivo.
Apesar de saber que o preconceito continuará presente, de uma forma ou de outra, no esporte bretão, acredito que esta proposta esdrúxula surgida na França não conseguirá vencer o futebol. Porém, é preciso mais do que somente chutar esta idéia para escanteio. É preciso dar um cartão vermelho para cada um que esteve naquela sala de reunião e defendeu tamanha falta de respeito ao esporte.
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