No futebol, assim como em qualquer esporte, é impossível triunfar de véspera. São muitos os fatores que aumentam o favoritismo de um lado ou de outro, mas vencer antes do apito inicial, nunquinha. Um dos grandes produtores da sensação de “já ganhou” é o fator casa, como se a Copa do Mundo de 50, maior memória de um mandante derrotado na história do futebol nacional – quiçá mundial – não estivesse presente nos livros.
Os benefícios de atuar em casa são inúmeros, desde a ausência da necessidade de viajar até o apoio da torcida, privilégios que influem diretamente nas estruturas física e psicológica da equipe. Porém, a história guarda dois exemplos de vantagens em ser o anfitrião que são, ao mesmo tempo, folclóricos e de rara esperteza.
Um deles possui como protagonista o infinito zagueiro Mauro Galvão, único nome a receber o prêmio Bola de Prata da Revista Placar, equivalente a estar na Seleção do Campeonato Brasileiro, em três décadas: 1979 e 1985, pelo Internacional, e 1997, quando defendia o Vasco. E foi justamente com a camisa cruz-maltina que o já experiente zagueiro pôs em prática uma vantagem de jogar em casa que poucos seriam capazes. Em São Januário, Mauro Galvão e seus companheiros utilizavam um poste que se encontrava fora das quatro linhas como referência para realizar a linha de impedimento, que, assim, ficava menos “burra”.
A praticidade do treinador Zezé Moreira, um treinador cuja importância tática para o futebol brasileiro é imensurável, também é digna dos mais efusivos aplausos. Diante das dificuldades de Tonho, seu lateral na época em que comandava o Bahia, em encontrar o momento certo para alçar a gorduchinha na área rival, Zezé teve a genial ideia de utilizar os cartazes de publicidade como guia. Deste modo, aconselhou seu jogador a sempre receber a bola na altura da propaganda da Tinturaria Oriente e a cruzar na área logo que chegasse ao cartaz do Café Tamoio. A evolução de Tonho foi enorme!
Tanto a linha de impedimento liderada pelo Mauro Galvão quanto os ensinamentos de Zezé Moreira, mostram muito de uma das principais características da cultura futebolística brasileira: a esperteza. Não no sentido de ludibriar juízes ou adversários, pois isto é picaretagem, mas esperteza no sentido de encontrar maneiras para, com o que tem em mãos, superar os obstáculos que surgem no caminho.
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