Poucas hegemonias no futebol brasileiro foram tão expressivas quanto a exercida pelo ABC de Natal nos anos 30. Entre 1932 e 1941, para ser mais exato, quando o Alvinegro Potiguar conquistou o Decacampeonato do Rio Grande do Norte, feito apenas igualado no país pelo América Mineiro, através das décadas de 10 e 20. Assim, nada mais justo de que começar pelo “Elefante do Frasqueirão” a história dos multicampeões do Nordeste, região do país com maior número de estados – e, justamente por isto, esta história será contada em duas partes.
Ao longo dos dez gloriosos anos em que ninguém no Rio Grande do Norte foi capaz de superar o ABC, muitos jogadores garantiram o espaço na galeria de ídolos do clube. Os goleadores Xixico, Hermes e Albano, o volante Simão, Mário Crise... No entanto, o símbolo, não só do período mas da história abcdista, foi o faz-tudo Vicente Farache. Ex-jogador alvinegro sem muita intimidade com a redonda, advogado e comerciante, o diretor-técnico Farache não poupava esforços pelo clube do seu coração. Montava o elenco com contratações e dispensas, treinava o time, pagava os salários, empregava os jogadores em suas lojas (sapataria e joalheria), comprava material de treino e de jogo. E mais... fez sua primeira esposa, a chilena Maria Lamas Farache, tão apaixonada pelo clube que o estádio Frasqueirão recebeu o nome dela como homenagem.
Na “Terra de Todos os Santos”, é o Bahia que merece ser chamado de “meu rei” quando o assunto é títulos em sequência. Com o implacável marcador Baiaco, o folclórico artilheiro Beijoca e o grande goleador Douglas, o Bahia chegou ao Hepta entre os anos de 1973 e 1979. E foi justamente o último dos canecos o mais saboroso para os tricolores. A final do Baianão de 79, contra o rival Vitória, foi para o terceiro jogo. No banco de reservas, um histórico duelo de treinadores entre os irmãos Moreira: o tricolor Zezé e o rubro-negro Aymoré. Ao Vitória bastava o empate, o qual segurava com unhas e dentes até o meia Fito chutar do meio da rua e o goleiro Gelson engolir um peru de fazer inveja a qualquer 25 de dezembro. Um a zero Bahia. Heptacampeão!
Fundado em 1937 para promover os esportes sobre duas rodas – motociclismo e ciclismo – o Moto Clube não tardaria a se destacar no cenário futebolístico maranhense e da região Norte/Nordeste. Com menos de uma década de vida, em 1944, para ser mais exato, o Rubro-Negro iniciou uma arrancada de títulos que culminaria com o Hepta Maranhense em 1950. Nomes como Galego, já acostumado com títulos desde a época em que jogava pelo pernambucano Maguary, o meia Zuza, conhecido como o “Professor”, e o homem-gol Pepê, único tetra-artilheiro consecutivo no Maranhão, levaram o clube a um período de glórias que também contou com o troféu de Campeão dos Campeões do Norte (1948) e uma excursão ao Amazonas (1947).
O fim do reinado motense no Maranhão coincidiu com o início de uma fase iluminada para o Ríver do Piauí. De 1950 a 1963, o clube levantou nada menos do que 13 canecos piauienses de 14 possíveis. E para abrilhantar ainda mais o período, o torcedor riverino não só comemorou o único Hepta Piauiense, alcançado entre 1950 e 1956, como viu duas goleadas homéricas sobre o rival Flamengo: 11 a 3, a maior da história do Rivengo, num amistoso em 1951, e 9 a 2, pelo Estadual de 1952. Nesta última, o ponta-direita Honorato, que tem a honra de ser tetra-artilheiro seguido do Piauiense, foi cinco vezes às redes. Outro grande nome do Hepta foi o goleiro Carlos Said, o “Magro de Aço”, um dos fundadores do clube e pioneiro do jornalismo esportivo local.
A recheada história dos multicampeões nordestinos não termina por aqui. Esta foi apenas a primeira parte, que, em breve, será completada com as façanhas dos tradicionais Ceará e Náutico e muito mais.
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