A história dos
multicampeões sudestinos é de extremos. De um lado, o Decacampeão América
Mineiro. Do outro, os “apenas” Tetras Paulistano, Fluminense e Botafogo, já que
a maior força competitiva do Paulistão e do Cariocão não permitiu surgir,
nestes Estados, uma hegemonia mais longa.
Dez títulos conquistados de forma consecutiva. Esta é
a marca alcançada pelo América, e igualada somente nos anos 40 pelo ABC de
Natal. Entre 1916 e 1925, Atlético Mineiro e Palestra Itália (que no início dos
anos 40 mudaria o nome para Cruzeiro) não foram páreos para o “Coelho” do
goleador Satyro Taboada, que marcou, neste vitorioso período, os gols que lhe
tornariam o maior artilheiro do clube em todos os tempos. Numa época onde o
futebol ainda era elitista e amador, e os jovens jogadores se dividiam entre os
campos de jogo e de estudo, este campeoníssimo América pôde contar em seu time
com Otacílio Negrão de Lima, futuro Prefeito de Belo Horizonte, e Lucas
Machado, um dos médicos fundadores do Hospital São Lucas.
Vale dizer, apenas por registro e sem a intenção de
manchar a façanha americana, que o Campeonato de 1925 teve apenas alguns poucos
jogos antes de ser declarado inexistente por uma assembleia entre os clubes.
Até hoje, historiadores debatem sobre a legitimidade deste titulo tricolor.
Em São Paulo, não tem para Charles Miller, Neco,
Romeu, Leônidas, Pelé, Ademir da Guia, Sócrates, Rogério Ceni... O único
Tetracampeão do mais antigo Estadual do país foi o Paulistano de Arthur
Friedenreich. A campanha teve início em 1916, com o título da Associação
Paulista de Esportes Atléticos, quando o futebol paulista era dividido, e
seguiu até 1919, com mais três triunfos em certames já unificados. O lendário
Fried, autor de 49 gols nos dois últimos títulos da sequência, teve a companhia
de inesquecíveis nomes do amadorismo como Rubens Salles e Sergio. Depois de ser o primeiro clube
brasileiro a excursionar para a Europa, o que o fez com enorme sucesso em 1925,
o Paulistano, contrário ao profissionalismo, fechou as portas do seu
departamento de futebol em 1929.
Neste há pouco iniciado Paulistão de 2013, o Santos
terá a oportunidade de igualar a marca do Paulistano, e, caso consiga, Neymar
abrilhantará sua trajetória com um feito que, como contou o último parágrafo,
craques do mais elevado quilate não conseguiram.
O primeiro Multicampeão do Rio de Janeiro nasceu junto
com o próprio torneio. De 1906, ano de estreia do Cariocão, até 1909, o
Fluminense dominou o então aristocrático futebol da cidade. Nos campos – fosse
o da Rua Guanabara, nas Laranjeiras, da Rua Ferrer, no bairro de Bangu, ou da
Rua da Constituição, na cidade de Niterói – o futebol ainda era mais britânico
do que brasileiro, e existiam até brindes ao Rei da Inglaterra após alguns
confrontos. Foi neste cenário que o Fluzão dos irmãos Etchegaray, Victor,
zagueiro elegante, e Emile, goleador nato, de Edwin Cox, irmão do pioneiro do
futebol carioca, Oscar Cox, e de Horácio dos Santos, autor tanto do primeiro
gol da história do clube quanto do campeonato, alcançou suas primeiras glórias.
Vale dizer que, oficialmente, o Tetra tricolor só foi
reconhecido em 1996, quando da decisão da FERJ de dividir o título de 1907
entre Fluminense e Botafogo. Ambos haviam terminado o torneio com o mesmo
número de pontos e não chegaram a um consenso para decidir o vencedor.
Se o Tetra do Flu foi conquistado num momento
historicamente único para o futebol carioca, o do Botafogo não fica atrás. No
início dos anos 30, a questão do profissionalismo atingiu o ápice de sua
importância até então, e não tardou para o futebol carioca se dividir. Entre os
anos de 1933 e 1936, o panorama no Rio era o seguinte: amadores para um lado,
profissionais para o outro. E foi entre os amadores que o Botafogo da
inesquecível dupla Nilo e Carvalho Leite – que, juntos, marcaram quase 500 gols
pelo Glorioso – chegou ao Tetra. Tudo começou com o título de 1932, quando o
campeonato ainda era unificado, e terminou em 1935, com uma linha ofensiva que,
além dos já citados Nilo e Carvalho Leite, teve Leônidas da Silva e Russinho,
duas lendas do futebol carioca.
Menos prestigiado e poderoso dos torneios sudestinos,
o Campeonato Capixaba também tem muita história para contar. Seu maior Campeão
consecutivo é o Rio Branco, Hexa entre os anos de 1934 e 1939 com o envolvente
“Ataque Ping-Pong”, que ganhou o apelido pelos rápidos passes que Cícero
Nonato, Marciolínio, Alcy Simões, Lacínio e Renato trocavam até o gol
adversário. No Estadual de 1936, por exemplo, foram nada menos do que 57 gols
em 11 jogos (média de 5,2 tentos por partida). Esta mesma linha de frente daria
enorme trabalho para Fluminense, Portuguesa e Atlético Mineiro na Copa dos
Campeões Estaduais de 1937, quando o Rio Branco terminou invicto como mandante
– com uma histórica vitória por 4 a 3 sobre o Flu –, mas não conseguiu repetir as
atuações fora de casa e terminou na 3ª colocação.
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