terça-feira, 13 de novembro de 2012

O PARADOXO TRICOLOR



Na eterna batalha entre os pontos corridos e o mata-mata, o primeiro tem a desvantagem da possibilidade de ganhar contornos definitivos muito cedo. Algo como um filme cujos minutos finais são sem emoção. Essa particularidade do “todos contra todos em dois turnos” é de deixar o torcedor-de-tabela furioso. Os amigos conhecem o torcedor-de-tabela? É aquele que a primeira coisa que faz ao pegar o jornal é buscar a tábua de classificação do campeonato, mesmo que na véspera não tenha ocorrido nenhum confronto. É como o cão Mutley do desenho animado, só que ao invés de medalhas, ele é louco por “tabela, tabela, tabela”.

O Brasileirão 2012 foi bem mais ou menos para este tipo de torcedor. Na 29ª rodada, o Fluminense venceu o Bahia, então um dos melhores times do 2º turno, por 2 a 0, em Pituaçu, com golaços de Bruno e Rafael Sóbis, enquanto, sem Ronaldinho Gaúcho, o Atlético Mineiro levou 3 a 0 do Internacional, no Beira-Rio. Ali, o Tricolor Carioca abriu nove pontos de vantagem sobre o Galo Mineiro, e o torcedor-de-tabela não teria mais o prazer de olhar a classificação e ver uma briga acirrada pelo título. Isso foi no dia 10 de Outubro, quase dois meses antes da última rodada do campeonato, que estar por vir.

“Então quer dizer que o Brasileirão não foi emocionante?”, pode perguntar o amigo. Pelo contrário, apesar da incontestável superioridade do Campeão – até o momento tem melhor ataque, melhor defesa, artilheiro, mais vitórias, menos derrotas e absurdos 72,4% de aproveitamento – praticamente todos os jogos do 2º turno do Fluminense foram de deixar o coração a bater na goela.

E aí está o grande paradoxo tricolor. O mesmo responsável por disparar na liderança e tirar a graça das últimas rodadas de um campeonato como o Brasileiro, que desde 2008 nunca teve um vencedor com mais do que três pontos de vantagem em relação ao vice, foi também responsável por partidas que representam ao pé da letra o quão o futebol pode ser emocionante.

Para facilitar a ilustração, fiquemos somente no período citado anteriormente, desde o qual o Fluzão começou a transformar o caneco em realidade e uma reviravolta atleticana em milagre, ou seja, a partir da 29ª rodada. De todos os jogos do Flu desde então – contra Bahia, Ponte Preta, Grêmio, Atlético Mineiro, Coritiba, São Paulo e Palmeiras – apenas o empate com o Sampa foi tranquilo. Os outros seis duelos foram batalhas monumentais, daquelas de desnortear qualquer um nas arquibancadas ou poltronas e decididas apenas no último trilar do apito. O apelido de “Guerreiro” foi justificado rodada após rodada.

Com o Fluzão em campo, não existiu aquele tão famoso “vou ver um futebolzinho para relaxar”. Foi sempre dose pura de adrenalina na veia. E foi essa adrenalina de cada jogo tricolor que salvou um campeonato o qual a sua própria avassaladora campanha fez de tudo para deixar sem graça. E que bom que não conseguiu!

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