Na eterna batalha entre os pontos corridos e o mata-mata, o
primeiro tem a desvantagem da possibilidade de ganhar contornos definitivos
muito cedo. Algo como um filme cujos minutos finais são sem emoção. Essa
particularidade do “todos contra todos em dois turnos” é de deixar o
torcedor-de-tabela furioso. Os amigos conhecem o torcedor-de-tabela? É aquele
que a primeira coisa que faz ao pegar o jornal é buscar a tábua de
classificação do campeonato, mesmo que na véspera não tenha ocorrido nenhum
confronto. É como o cão Mutley do desenho animado, só que ao invés de medalhas,
ele é louco por “tabela, tabela, tabela”.
O Brasileirão 2012 foi bem mais ou menos para este tipo de
torcedor. Na 29ª rodada, o Fluminense venceu o Bahia, então um dos melhores
times do 2º turno, por 2 a 0, em Pituaçu, com golaços de Bruno e Rafael Sóbis,
enquanto, sem Ronaldinho Gaúcho, o Atlético Mineiro levou 3 a 0 do
Internacional, no Beira-Rio. Ali, o Tricolor Carioca abriu nove pontos de
vantagem sobre o Galo Mineiro, e o torcedor-de-tabela não teria mais o prazer
de olhar a classificação e ver uma briga acirrada pelo título. Isso foi no dia
10 de Outubro, quase dois meses antes da última rodada do campeonato, que estar
por vir.
“Então quer dizer que o Brasileirão não foi emocionante?”,
pode perguntar o amigo. Pelo contrário, apesar da incontestável superioridade
do Campeão – até o momento tem melhor ataque, melhor defesa, artilheiro, mais
vitórias, menos derrotas e absurdos 72,4% de aproveitamento – praticamente todos
os jogos do 2º turno do Fluminense foram de deixar o coração a bater na goela.
E aí está o grande paradoxo tricolor. O mesmo responsável por
disparar na liderança e tirar a graça das últimas rodadas de um campeonato como
o Brasileiro, que desde 2008 nunca teve um vencedor com mais do que três pontos
de vantagem em relação ao vice, foi também responsável por partidas que
representam ao pé da letra o quão o futebol pode ser emocionante.
Para facilitar a ilustração, fiquemos somente no período
citado anteriormente, desde o qual o Fluzão começou a transformar o caneco em
realidade e uma reviravolta atleticana em milagre, ou seja, a partir da 29ª
rodada. De todos os jogos do Flu desde então – contra Bahia, Ponte Preta, Grêmio,
Atlético Mineiro, Coritiba, São Paulo e Palmeiras – apenas o empate com o Sampa
foi tranquilo. Os outros seis duelos foram batalhas monumentais, daquelas de
desnortear qualquer um nas arquibancadas ou poltronas e decididas apenas no
último trilar do apito. O apelido de “Guerreiro” foi justificado rodada após
rodada.
Com o Fluzão em campo, não existiu aquele tão famoso “vou ver
um futebolzinho para relaxar”. Foi sempre dose pura de adrenalina na veia. E
foi essa adrenalina de cada jogo tricolor que salvou um campeonato o qual a sua
própria avassaladora campanha fez de tudo para deixar sem graça. E que bom que
não conseguiu!
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