O Limite da estupidez
(Nota: Crônica sobre a eliminação do Brasil na Copa do Mundo de 1982, após a derrota para a Itália por 3 x 2.)
Tantos crimes contra o bom senso, contra o senso comum, não poderiam passar impunemente. O fato de possuirmos jogadores extra-série como Zico, Falcão, Sócrates, Júnior e Cerezo dava a falsa impressão de que éramos supreiores em tudo. Mas uma estupidez siderúrgica rondava nosso propósito de ganhar uma Copa, onde quem nos derrotou passou mal com o país do Camarões*. Inventaram uma tática no Brasil abandonando preciosos espaços de campo**. Ora, somente um primarismo infantil e teimoso poderia pensar que os adversários não iriam aproveitar o erro clamoroso.
Veio logo o primeiro jogo, o da União Soviética. Sim, foi uma falha de Valdir Peres e isto é uma outra questão. Mas o time soviético, quando se apertava, jogava a bola para seu lateral-esquerdo que sempre estava livre. Claro, raios que me partam, pois se não tínhamos ninguém ali. Leandro, sempre mal fisicamente, tentava suprir o extrema que não tínhamos.
No jogo da Itália, com mais quinze minutos sairia levado pelas enfermeiras não para um hospital, mas para um cemitério. Estava “morto de cansaço”. E o Cabrini folgava sempre. Era o jogador de desafogo do time italiano. Qualquer problema e bastava jogar a bola por ali. Fizeram o primeiro e, quando precisavam da cera, bastava segurar o jogo pelo lado onde tínhamos apenas o Leandro.
Sim, Zico, Sócrates, Júnior, Cerezo e este estupendo Falcão sempre estiveram muito bem. Mas até carregadores de piano cansam quando fazem esforços acima de sua capacidade. Nosso time, com a tão decantada preparação especial, estava muito cansado no final do jogo. De um lado, existe algo positivo, que é a desmistificação do charlatanismo. Os inventores do futebol que se recusam a ocupar espaços indispensáveis e que não percebem que se joga num retângulo, rigorosamente geométrico e querem jogar enviesado como se as balizas estivessem nos córneres.
Se chegamos a uma posição tão elevada, devemos à qualidade de quatro ou cinco jogadores excepcionais, mas cuja capacidade física também tem limites. A Copa não era difícil de ganhar. Mas a teimosia superou tudo. Culpar Serginho seria um erro. O jogador não tem culpa da teimosia, que ficou clara no primeiro jogo, mas infelizmente não foi aproveitada. Não deixo de assinalar que faltou um pouco de modéstia quando empatamos ontem em dois a dois. Alguém andou rebolando ali e o time italiano, que estava melhor fisicamente do que o nosso, veio para cima e pôde ganhar. Paciência. Mas a estupidez tem um limite de tolerância.
6 de Julho de 1982
* Itália 1 x 1 Camarões, pela fase de grupos
** Saldanha fala da ocupação do lado direito do setor ofensivo brasileiro.
(Nota: Crônica sobre a eliminação do Brasil na Copa do Mundo de 1982, após a derrota para a Itália por 3 x 2.)
Tantos crimes contra o bom senso, contra o senso comum, não poderiam passar impunemente. O fato de possuirmos jogadores extra-série como Zico, Falcão, Sócrates, Júnior e Cerezo dava a falsa impressão de que éramos supreiores em tudo. Mas uma estupidez siderúrgica rondava nosso propósito de ganhar uma Copa, onde quem nos derrotou passou mal com o país do Camarões*. Inventaram uma tática no Brasil abandonando preciosos espaços de campo**. Ora, somente um primarismo infantil e teimoso poderia pensar que os adversários não iriam aproveitar o erro clamoroso.
Veio logo o primeiro jogo, o da União Soviética. Sim, foi uma falha de Valdir Peres e isto é uma outra questão. Mas o time soviético, quando se apertava, jogava a bola para seu lateral-esquerdo que sempre estava livre. Claro, raios que me partam, pois se não tínhamos ninguém ali. Leandro, sempre mal fisicamente, tentava suprir o extrema que não tínhamos.
No jogo da Itália, com mais quinze minutos sairia levado pelas enfermeiras não para um hospital, mas para um cemitério. Estava “morto de cansaço”. E o Cabrini folgava sempre. Era o jogador de desafogo do time italiano. Qualquer problema e bastava jogar a bola por ali. Fizeram o primeiro e, quando precisavam da cera, bastava segurar o jogo pelo lado onde tínhamos apenas o Leandro.
Sim, Zico, Sócrates, Júnior, Cerezo e este estupendo Falcão sempre estiveram muito bem. Mas até carregadores de piano cansam quando fazem esforços acima de sua capacidade. Nosso time, com a tão decantada preparação especial, estava muito cansado no final do jogo. De um lado, existe algo positivo, que é a desmistificação do charlatanismo. Os inventores do futebol que se recusam a ocupar espaços indispensáveis e que não percebem que se joga num retângulo, rigorosamente geométrico e querem jogar enviesado como se as balizas estivessem nos córneres.
Se chegamos a uma posição tão elevada, devemos à qualidade de quatro ou cinco jogadores excepcionais, mas cuja capacidade física também tem limites. A Copa não era difícil de ganhar. Mas a teimosia superou tudo. Culpar Serginho seria um erro. O jogador não tem culpa da teimosia, que ficou clara no primeiro jogo, mas infelizmente não foi aproveitada. Não deixo de assinalar que faltou um pouco de modéstia quando empatamos ontem em dois a dois. Alguém andou rebolando ali e o time italiano, que estava melhor fisicamente do que o nosso, veio para cima e pôde ganhar. Paciência. Mas a estupidez tem um limite de tolerância.
6 de Julho de 1982
* Itália 1 x 1 Camarões, pela fase de grupos
** Saldanha fala da ocupação do lado direito do setor ofensivo brasileiro.
Belo texto,parabéns!
ResponderExcluirAbs,
Central do Pitaco