sexta-feira, 29 de novembro de 2013

NILTON SANTOS, O INQUESTIONÁVEL

Quanto mais procuro, mais certeza eu tenho. Nunca existiu um nome tão respeitado no futebol brasileiro quanto o de Nilton Santos. Diria ser impossível encontrar alguém que fale uma vírgula contra ele. É chamado de Enciclopédia do Futebol, e nenhuma alma questiona que naquele corpo havia todos os conhecimentos deste esporte. Muitos deuses da bola como Maradona, Garrincha e até Pelé são questionados. Uns pouco, outros menos ainda, mas são. Já Nilton Santos é inquestionável.

São inúmeras histórias que contam as glórias de Nilton Santos com as camisas botafoguense e brasileira, e todas contribuem para a construção de sua intocabilidade. Destas histórias, duas são definitivas.

A primeira delas teve origem com a genialidade de Garrincha. Mané, companheiro eterno de Nilton, dava um baile como poucas vezes o futebol havia presenciado no argentino Vairo. O jogo chega ao intervalo e o magnífico Nestor Rossi se aproxima de Vairo, seu colega de time, a esta altura todo estropiado, com os olhos vermelhos, trêmulos, esbugalhados. Estava em frangalhos, e sua imagem era de dar dó. Pois Nestor Rossi, com um tom professoral e amigável, o aconselhou: “Está vendo aquele ali? É o Nilton Santos, lateral-esquerdo como você. Preste atenção nele. O uniforme está limpo, parece engomado. Olhe seus cabelos penteados. Ele joga em pé, pleno de classe, como convém aos deuses da bola. Vá até lá e passe as mãos nas pernas dele, pois ali está o melhor futebol de todos os zagueiros do mundo”.

Das palavras do craque dos campos Nestor Rossi para as do craque das crônicas Armando Nogueira. O Poeta da Bola conta que Nilton Santos, antes de começar sua carreira – e que carreira! – no Botafogo – e que Botafogo! – tentou um teste no São Cristóvão. Acreditava haver treinado bem, mas o treinador Arquimedes não pensou igual e acabou por dispensá-lo. Ao ver a história contada, Arquimedes se defendeu e disse não ter dispensado Nilton Santos, no que Armando Nogueira respondeu com um brilhantismo sem igual: “Pois, meu bom Arquimedes, se a lenda existe, o culpado é você mesmo. Se fosse o outro Arquimedes, o de Siracusa, ao ver Nilton Santos com a bola, teria saído nu, pela Rua Figueira de Melo, a gritar para o mundo: eureca, eureca! Você ficou na moita, resultado: nem descobriu o princípio da hidrostática, nem descobriu o princípio do futebol”.


Pois este foi Nilton Santos. A Enciclopédia. O dono do melhor futebol de todos os zagueiros do mundo. O princípio do futebol. O inquestionável.  

Um comentário:

  1. Pena que a geração Playstation, não tenha a dimensão do que foi esse jogador.

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