Quanto mais procuro, mais certeza eu tenho. Nunca existiu um
nome tão respeitado no futebol brasileiro quanto o de Nilton Santos. Diria ser
impossível encontrar alguém que fale uma vírgula contra ele. É chamado de
Enciclopédia do Futebol, e nenhuma alma questiona que naquele corpo havia todos
os conhecimentos deste esporte. Muitos deuses da bola como Maradona, Garrincha
e até Pelé são questionados. Uns pouco, outros menos ainda, mas são. Já Nilton
Santos é inquestionável.
São inúmeras histórias que contam as glórias de Nilton Santos
com as camisas botafoguense e brasileira, e todas contribuem para a construção
de sua intocabilidade. Destas histórias, duas são definitivas.
A primeira delas teve origem com a genialidade de Garrincha.
Mané, companheiro eterno de Nilton, dava um baile como poucas vezes o futebol
havia presenciado no argentino Vairo. O jogo chega ao intervalo e o magnífico
Nestor Rossi se aproxima de Vairo, seu colega de time, a esta altura todo
estropiado, com os olhos vermelhos, trêmulos, esbugalhados. Estava em
frangalhos, e sua imagem era de dar dó. Pois Nestor Rossi, com um tom
professoral e amigável, o aconselhou: “Está vendo aquele ali? É o Nilton
Santos, lateral-esquerdo como você. Preste atenção nele. O uniforme está limpo,
parece engomado. Olhe seus cabelos penteados. Ele joga em pé, pleno de classe,
como convém aos deuses da bola. Vá até lá e passe as mãos nas pernas dele, pois
ali está o melhor futebol de todos os zagueiros do mundo”.
Das palavras do craque dos campos Nestor Rossi para as do
craque das crônicas Armando Nogueira. O Poeta da Bola conta que Nilton Santos,
antes de começar sua carreira – e que carreira! – no Botafogo – e que Botafogo!
– tentou um teste no São Cristóvão. Acreditava haver treinado bem, mas o
treinador Arquimedes não pensou igual e acabou por dispensá-lo. Ao ver a
história contada, Arquimedes se defendeu e disse não ter dispensado Nilton
Santos, no que Armando Nogueira respondeu com um brilhantismo sem igual: “Pois,
meu bom Arquimedes, se a lenda existe, o culpado é você mesmo. Se fosse o outro
Arquimedes, o de Siracusa, ao ver Nilton Santos com a bola, teria saído nu,
pela Rua Figueira de Melo, a gritar para o mundo: eureca, eureca! Você ficou na
moita, resultado: nem descobriu o princípio da hidrostática, nem descobriu o
princípio do futebol”.
Pois este foi Nilton Santos. A Enciclopédia. O dono do melhor
futebol de todos os zagueiros do mundo. O princípio do futebol. O
inquestionável.
Pena que a geração Playstation, não tenha a dimensão do que foi esse jogador.
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