O gol de Fred, o quinto da goleada sobre o Horizonte que
classificou o Fluminense para a segunda fase da Copa do Brasil, foi um gol
qualquer se levarmos em consideração apenas o que acontece dentro das quatro
linhas, pois o jogo já estava decidido e ele nasceu de uma jogada caduca. Mas
para o futebol brasileiro como um todo, foi um verdadeiro gol de placa. Foi um
gol que simbolizou o rompimento de um dos maiores nomes da história recente (e
não recente) do Tricolor Carioca e o torcedor organizado.
Quando o arremate de Fred cruzou a linha fatal, os torcedores
que não fazem parte das organizadas (e que o centroavante nomeou de “torcedores
do bem”) comemoraram e entoaram o famoso “O Fred vai te pegar!”. Os torcedores
organizados, porém, arredondaram a boca e vaiaram o centroavante. No momento que
o escritor Eduardo Galeano magistralmente chamou de o “orgasmo do futebol”,
quem mandou a bola para a rede foi vaiado.
Fred anunciou o rompimento com a torcida organizada do
Fluminense após ser perseguido, no meado da semana, por cerca de 20 marmanjos.
Não é a primeira vez que estes fundamentalistas da bola se fazem valer de
violência (física ou não) para demonstrar insatisfação com as atuações e a vida
privada do camisa nove. Desta vez, para o bem do futebol, Fred decidiu
enfrentar os malfeitores.
Abre parêntese. Nem todos os torcedores organizados são
prejudiciais ao futebol, mas seria impossível, em termos de atitude, romper apenas
com os que são. Fecha parêntese.
A atitude do artilheiro de dedicar seus gols apenas aos “torcedores
do bem” é mais do que simbólica. De agora em diante, toda vez que Fred fizer um
gol (e ele ainda fará muitos), os amantes da violência, os principais responsáveis
pelo esvaziamento dos estádios, os sanguessugas disfarçados de apaixonados
saberão que aquele gol não foi para eles.
Se mais jogadores abraçarem a causa – e se todos os jogadores
abraçarem a causa! –, nunca mais estes destruidores sentirão o doce gosto de
comemorar uma rede balançada, uma defesa milagrosa, um carrinho perfeito, um drible
mágico, um passe precioso... E assim, partirá dos jogadores a atitude de
enfrentamento que dirigentes de clubes e entidades futebolísticas e autoridades
políticas jamais tiveram coragem para tomar.
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