Mês sim, outro também,
pipocam debates acerca da utilização da tecnologia para decisões dentro das
quatro linhas. É bola com chip, computador marcando impedimento, uso de
replay... Esta automatização, que diminuiria consideravelmente a subjetividade
das regras e o poder do árbitro, poderia começar a ser pensada também para
resolver muitos dos casos que chegam ao STJD, infelizmente o nome mais falado no
futebol brasileiro nos últimos dias.
À primeira vista,
parece bem claro que Portuguesa e Flamengo merecem ser punidos pela escalação, na
última rodada, de jogadores que estavam suspensos. Não importa a irrelevância
do jogo entre do Flamengo e Cruzeiro ou que Héverton, escalado pela Lusa, nada
tenha acrescentado em seus menos de 15 minutos em campo contra o Grêmio. Nada parece
mais lógico do que um jogador previamente suspenso não poder estar em campo. No
entanto...
Basta uma pequenina
volta ao passado, coisa de meses, para encontrarmos casos parecidos – nunca
iguais, pois para o Direito dois casos nunca são exatamente iguais – em que
clubes que escalaram jogadores suspensos ou irregulares não foram punidos com a
perda de pontos. Cria-se, assim, uma sensação de subjetividade bem maior do que
deveria existir em casos do tipo e, junto com esta subjetividade, vêm os
indícios de favorecimento do mais forte politicamente, do mais querido pela
mídia, do mais poderoso financeiramente... Por que não uma punição automática
para casos de uma mesma, digamos, categoria? Algo do tipo: todo o clube que
escalar um jogador previamente suspenso ou irregular perderá x pontos. Tudo no
automático. Sem apelação. Escalou, perdeu.
A mesma automatização
poderia ser utilizada para decidir quantos jogos de suspensão um jogador pegaria
após receber um cartão vermelho, lembrando que, atualmente, ainda existe a
possibilidade de o jogador ir a julgamento mesmo sem ter sido expulso. Estamos
diante de uma subjetividade ao quadrado. Primeiro, o juiz do jogo decide se um
jogador receberá cartão e qual será a cor deste. Depois, nos tribunais,
engravatados se encontram para definir a gravidade da infração cometida dentro
do jogo, gravidade esta que já havia sido definida, anteriormente, pelo juiz.
Para os cartolas que
comandam o futebol brasileiro na base da politicagem, é essencial o
funcionamento de toda esta máquina jurídica, através da qual os clubes (todos
eles!) ficam à espera de uma brecha para poder levar vantagem. E quanto mais
poder de decisão os homens do STJD e outros engravatados tiverem, mais brechas
vão aparecer, e menos veremos o jogo terminar quando o juiz apitar.
Para quem manda a burocracia é um alimento gostoso. Muito racional esse seu artigo.
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