Se o bíblico embate entre Davi e Golias tivesse ocorrido em
um estádio brasileiro, todo o apoio dos presentes estaria com Davi. Invariavelmente
o torcedor brasileiro estabelece uma empatia com o que aparenta maior
fragilidade. Ou, no mais extremo, com aquele que sabidamente será derrotado. Um
exemplo fiel, como escreveu o jornalista Sandro Moreira, ocorreu em 1982,
quando os brasileiros presentes à Espanha para acompanhar a Copa do Mundo foram
a uma tradicional tourada e, para espanto dos espanhóis, torceram
ensandecidamente pelo touro.
E assim também foi durante a campanha do Taiti na Copa das
Confederações. Todos sabiam que os carismáticos goleiros taitianos se cansariam
de buscar bolas no fundo das redes. Mas não importava. No Mineirão, no
Maracanã, na Arena Pernambuco, na televisão de bares e lares, independentemente
do adversário, o apoio brasileiro era total. E a interação entre torcida e
Seleção Taitiana se tornou ainda mais forte porque os jogadores – todos
amadores, com exceção do meio-campista Vahirua – demonstravam em campo uma
vontade enorme de fazer o melhor. De “jogar com o coração”, como pedia o
treinador, Eddy Etaeta.
Os que não viam o Taiti em campo exclamavam diante dos
placares elásticos. Principalmente as mulheres, sempre mais doces: “Tadinhos...
Seria melhor nem ter viajado...”. Um enorme engano. Quem assistiu aos jogos
taitianos saiu com a sensação de que eles estavam tão felizes com os aplausos e
incentivos vindos das arquibancadas que, se possível, jogariam um terceiro
tempo, quarto tempo, quinto tempo... Eles queriam absorver cada segundo daquela
experiência maravilhosa dos aplausos num país que respira futebol.
Para os que apenas olham a tabela, o Taiti termina a Copa das
Confederações com um saldo total de 24 gols sofridos e apenas um marcado, além
de levar um 10 a 0 que iguala a maior derrota já sofrida em sua história e é a
mais acachapante goleada já ocorrida em um torneio organizado pela FIFA. Isto
para quem se agarra a frieza dos números, pois quem acompanhou os aplausos dos
mais de 110 mil presentes aos três jogos, a alegria incontrolável diante do gol
marcado contra a Nigéria, os gritos de “Olé!” nas trocas de passes, os berros
de “expulsa” diante de uma falta dura sofrida – principalmente pelo veloz e
arisco Chong Hue –, os pênaltis perdidos por Espanha e Uruguai, a volta
olímpica na Arena Pernambuco com bandeiras brasileiras e a faixa escrita
“Obrigado, Brasil”... aquele que presenciou estes momentos sabe que poucos
presentes à Copa das Confederações têm mais motivos para sorrir do que os
taitianos.
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