“Se
vocês querem conhecer um povo, examinem o seu comportamento na vitória e na
derrota...” – Affonso Romano de Sant’anna
Uma das
maiores peculiaridades do futebol é que, para muitos, torcer contra um rival é
tão ou mais saboroso do que comemorar as glórias do próprio clube de coração.
Seria possível negar a genuína alegria de milhões de flamenguistas quando o
Vasco perdeu a final do Mundial Interclubes de 1998 para o Real Madrid? Ou a de
todos os não rubro-negros diante das seguidas derrotas com requintes de
crueldade que o clube da Gávea sofreu na Libertadores? Não, não seria possível.
O torcer contra atingiu um nível tal que os religiosos pedem com toda a fé e
dedicação para uma força superior colocar os maiores pedregulhos no caminho do
outro. E não se sentem pecando, pois o futebol permite isso.
No entanto, em tempos recentes,
um novo modo de torcer contra ganhou força. Não basta mais criar novas torcidas
como a Fla-Madrid, vestir máscaras do Cabañas ou comprar a camisa da LDU. A
moda é desmerecer e negar ao máximo os méritos do rival. E os últimos dois
Brasileiros são o maior exemplo. O Corinthians foi o time que mais vitórias
alcançou no campeonato de 2011, e os rivais, sem provas, gritam que o Andrés
Sanchez manipulou tudo. Tite organizou uma defesa capaz de sofrer uma média de
apenas 1,02 gol por jogo, e os adversários sem nem pensar uma única vez, se
esgoelam: “Mutreta de bastidores!”
Neste ano, o Fluminense realiza
a maior campanha da história dos pontos corridos, perdeu apenas três de 32
jogos, conta com o melhor goleiro, a defesa menos vazada e o artilheiro da
competição. E não são poucos os que insistem que é por causa de manipulação de
arbitragem. A criatividade é tanta para menosprezar a histórica caminhada de
Cavalieri, Fred e companhia que chegaram a inventar uma tal de CBFlu, como se o
tricolor estivesse cheio de esquemas com a Confederação Brasileira de Futebol.
Aí, no jogo mais emocionante,
empolgante, fervoroso do ano, a torcida do Atlético Mineiro, que não vê seu
time jogar uma bola tão redonda há mais de uma década – para não dizer desde
Toninho Cerezo e Reinaldo – prefere fazer um mosaico da tal da CBFlu do que
prestigiar os ídolos.
De um lado, cartolas e
políticos acabam com a geral do Maracanã, impedem a entrada de bandeiras nos
estádios e colocam os preços dos ingressos em três digitos. De outro, as
comissões de arbitragem começam um processo de padronização das comemorações
dos gols, algo do tipo: só vale imitar o boneco da rede de televisão mais
poderosa do país. Para completar, os próprios torcedores preenchem, cada dia
mais, o ato de torcer com pensamentos negativos, menosprezo, desprezo.
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