A
conquista de um caneco estadual nos primeiros meses do ano não é essencial nem
pré-requisito para que, em dezembro, um clube esteja a celebrar uma grande
campanha no Brasileirão. O motivo é simples: bem mais da metade dos
integrantes de qualquer torneio estadual não possui a força necessária para
estar na 1ª Divisão Nacional. O que não justifica, porém, dizer que um título
após superar os maiores rivais locais, dar a volta olímpica no estádio lotado e
comprar o pôster de campeão na banca de jornal no dia seguinte não tenha o seu
valor.
Mas se
nos Estaduais existe toda uma justificativa tradicional e histórica para duelos
onde times de primeiro escalão entram em campo apenas para roubar doces de
crianças, não existe um mísero motivo que explique o porquê de a Seleção Brasileira, em sua
fase de preparação para um Mundial, ou melhor, um Mundial como mandante,
enfrente, em sequência, adversários quase amadores. No exato intervalo de um
ano, a Seleção pegou Costa Rica, Gabão, Egito, Bósnia-Herzegovina, África do
Sul, China e Iraque, só para ficar nos exemplos mais extremos. Sete jogos, sete
datas jogadas no lixo. E que não poderão ser recicladas ou reaproveitadas.
Em que
estes mais de 600 minutos de futebol foram úteis? Entrosamento para a equipe?
Que nada! Um coletivo entre quatro paredes, sem a presença da imprensa, seria
mais valioso para o encaixe dos jogadores. Confiança? Que nada ao quadrado! Neymar
não ficou nem um fim de cabelo mais confiante para exercer seu papel de líder
técnico da Seleção após o 8 a 0 sobre a China. Deixar de lado os rivais “de
categoria” por incapacidade em vencê-los nada mais é do que jogar a poeira para
debaixo do tapete. Se não fomos – e talvez ainda não sejamos – capazes de
vencer França, Holanda, Alemanha e Argentina, fugir, com certeza absoluta, não
é o melhor caminho.
A
sustentação desta estratégia de enfrentar “fracos e oprimidos” se baseia
pilares falsos. Um deles diz que em época de Eliminatórias pelo mundo fica
difícil arrumar adversários fortes disponíveis. Balela! No dia em que o Brasil
chinelava 6 a 0 no Iraque, a França estava de folga das Eliminatórias Europeias
e disputava um amistoso contra o Japão. Poderia ser contra o Brasil, mas a
direção e a comissão técnica da CBF não querem. A esta altura do campeonato, eles preferem
golear quem não se importa em ser goleado do que enfrentar um Campeão Mundial.
Outra
falsa defesa para o esburacado planejamento consiste na importância social da
Seleção Brasileira como símbolo, como forma de fazer o país se expressar nos
mais diversos cantos do planeta. Daí visitar Gabão e Costa Rica. Conversa pra
boi dormir. Não o papel social da Seleção Brasileira, que é assunto seríssimo e
merece sim ser muito discutido, mas dizer que algo além do dinheiro que a
CBF arrecada é levado em conta na hora de marcar os amistosos atuais.
No bater do martelo
e em poucas palavras, enquanto Argentina e Uruguai batalham num estádio lotado e
pulsante e França e Espanha lutam no “Velho Continente”, o Brasil passeia no
bosque e perde a chance de se acostumar a uma pressão que, em 2014, será de uma
magnitude poucas vezes vista.
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