quinta-feira, 31 de julho de 2014

ESTAGNADOS NO TEMPO


No futebol brasileiro, todos nós sabemos, o treinador de um time hoje será o de outro time amanhã e voltará para o primeiro time depois de amanhã. A rotatividade dos mesmos nomes é tão intensa que é uma tarefa árdua lembrar a ordem dos últimos técnicos de cada clube ou dos últimos clubes de cada técnico. A coluna do Mauro Beting no jornal Lance! desta quinta-feira trouxe uma ilustração claríssima sobre o assunto: há quase 20 anos, em 1995, assim como hoje, Vanderlei Luxemburgo treinava o Flamengo, Levir Culpi o Atlético Mineiro, Abel Braga o Internacional e Luiz Felipe Scolari o Grêmio.

Esta semelhança, que está longe de ser uma coincidência, pode levantar diversos assuntos. O mais atual talvez seja o seguinte: taticamente, o que Luxemburgo, Levir, Abel e Scolari podem oferecer hoje e que não poderiam há 19 anos. Em outras palavras, o que este quarteto evoluiu em termos táticos no passar de quase duas décadas? A resposta, curta e um pouco grossa, é: nada. Nenhum dos quatro treinadores aqui citados estudou o suficiente para ter condições de promover, num futuro próximo, qualquer diferencial tático em suas equipes. Flamengo, Atlético Mineiro, Internacional e Grêmio podem até alcançar resultados positivos, principalmente os gaúchos, mas os triunfos que vierem estarão mais associados a fatores técnicos, físicos e psicológicos do que táticos.

Muitos definiam as visões do treinador, cronista e comentarista esportivo João Saldanha como adiantadas em relação ao seu tempo. Na apresentação do livro Na Boca do Túnel, lançado em 1968, há quase meio século, Saldanha dizia que o futebol, “em sua evolução vertiginosa, apoiado pela ciência, está agora desafiando diariamente os técnicos. Aquele que estagnar ficará superado”. Já na orelha do livro Tática Mente, do jornalista Paulo Vinicius Coelho, lançado neste ano de 2014, Luiz Felipe Scolari diz que seu negócio no futebol nunca foi “essa coisa de ler livros e tal”. Bom, em se tratando do tema treinadores de futebol no Brasil, parece que João Saldanha era não só adiantado ao seu tempo, mas também ao tempo dos nossos técnicos de hoje.

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