segunda-feira, 30 de junho de 2014

COPA DO MUNDO 2014 - OITAVAS DE FINAL


A Holanda foi buscar dois gols contra o México no fechar das cortinas de um confronto sem trégua solar. Diante de uma Nigéria de peito aberto, a França cortou um dobrado por 79 minutos, até o goleiro elástico Enyeama cometer duas falhas imperdoáveis. A Alemanha encheu galões de suor para superar na prorrogação uma Argélia muito boa de bola. Se todos estes favoritos comeram o pão que o diabo amassou para avançar às quartas de final, por que a sensação é a de que o Brasil é quem digere a maior bisnaga infernal? A resposta se encontra no estilo de jogo. Ou na falta dele.

A Holanda pagou todos os seus pecados sob o sol cearense contra os confiantes mexicanos. Mas, mesmo ensopados de suor, os laranjas não deixaram de lutar ferozmente para fechar o meio-campo e, com a bola, de procurar o imparável Robben o mais rápido possível. Até quando partiram para a blitz final os holandeses não demonstraram desespero, tendo, inclusive, sacado o atacante van Persie.

Contra uma Nigéria cheia de ímpeto e de vontade de ser feliz, a França se viu diante de seu maior desafio até o momento. O encarou, porém, com muita bola nos pés dos meio-campistas e trocas de passes objetivas, além de sempre chamar o atacante Benzema para o jogo. Em outras palavras, venceu a Nigéria com as mesmas armas que apresentara na primeira fase.

Muito pelos sete jogadores do Bayern de Munique no onze inicial, a Alemanha já mostra um estilo Guardiola de ser. Schweinsteiger e companhia são menos pacientes e mais vigorosos e incisivos que os barcelonistas dos tempos de Guardiola, mas a bola de pé em pé em pé em pé em pé é o estilo da Alemanha. Foi assim que ela lutou e se entregou pela vitória contra a Argélia.

O Brasil foi o único a vencer nos pênaltis, levou uma bola na trave aos 14 minutos do segundo tempo da prorrogação e encharcou o gramado de lágrimas. No entanto, a vitória verde e amarela foi a mais dramática de todas porque o Brasil deu a impressão de que não tinha ideia do que precisava para triunfar, enquanto Holanda, França e Alemanha, mesmo nos momentos mais delicados, sabiam o que faziam.

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HISTÓRIA DA COPA DO MUNDO
A Escócia é a seleção que mais participou da Copa do Mundo sem nunca ter passado para a segunda fase, com oito aparições. Na Copa do Mundo de 1974, por exemplo, a Escócia foi eliminada na fase de grupos de maneira invicta, após vencer o Zaire e empatar com Brasil e Iugoslávia.

domingo, 29 de junho de 2014

COPA DO MUNDO 2014 – OITAVAS DE FINAL


Aos míseros 22 anos, o colombiano James Rodríguez encanta os saudosistas. Quando a brazuca se acomoda em seus pés, o futebol parece retornar aos tempos clássicos. Às vezes a impressão é até a de que a imagem da TV ficou preta e branca. Não existe um tipo de passe que não conste em seu repertório. Lança e toca curto com a mesma categoria. Joga rápido e cadencia com a mesma beleza. Faz seu time rodar e o adversário tontear com a tranquilidade dos sábios.

Não satisfeito somente em comandar de forma sublime a orquestra colombiana, James Rodríguez se mostra um solista de raro brilho. Dos 11 gols cafeteros no Mundial, o camisa dez fez cinco e participou diretamente de outros cinco. Uma pena que a Colômbia não tenha um pintor em sua delegação para retratar em quadros a arte que James Rodríguez tem feito nos gramados. A vivida no peito e o arremate de bailarino que abriu o placar contra o Uruguai mereciam circular em museus pelo mundo.

Toda categoria que vive nos pés de James Rodríguez vira fogo nos pés de Robben. O carequinha holandês tem um estilo tão próprio de jogar que diante de uma partida da Laranja se tornou comum a pergunta: “Quantas arrancadas o Robben já deu?”. E que arrancadas! São rápidas até nas imagens televisivas em super slow motion. E mais impressionante é que no ápice de sua velocidade, mesmo que seus olhos enxerguem apenas vultos ao redor, ele consegue pensar. “Mas ele só corta para a esquerda”, vão gritar alguns. Não tem adiantado saber o que ele vai fazer.

O marcador do Robben é alguém que fica de skate, parado na esquina, à espera para perseguir uma Ferrari que com certeza vai fazer a curva. Os lances de Robben ignoram a lei da ação e reação. Robben age, mas seu marcador não consegue reagir a tempo. Quando ele parou na linha do fundo diante de Rafa Márquez, o mexicano sabia que ele iria cortar para a esquerda. Todo mundo sabia. E daí? Pênalti e vitória laranja. James Rodríguez e Arjen Robben. Tão futebolisticamente diferentes e tão brilhantemente iguais.

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HISTÓRIA DA COPA DO MUNDO
Capitanear a seleção de seu país em um Mundial deve ser muito honroso para um jogador. Na Copa de 1990, dois goleiros estabeleceram recordes em relação à braçadeira. Enquanto o norte-americano Tony Meola, com 21 anos e 109 dias, se tornou o mais jovem capitão em uma Copa, o inglês Peter Shilton, com 40 anos e 292 dias, sagrou-se o mais velho. Cabe ao argentino Maradona a marca de mais partidas como capitão na história do torneio: 16 jogos entre 1986 e 1994.

sábado, 28 de junho de 2014

COPA DO MUNDO 2014 - OITAVAS DE FINAL - BRASIL X CHILE


A sensação após o sufocante triunfo nos pênaltis contra o Chile é a de desgaste extremo. A tremedeira retorna só de lembrar que levamos uma bola na trave aos 14 minutos do segundo tempo da prorrogação. Não foi só o coração que veio à boca, mas todos os órgãos pareceram trocar de lugar, tamanho rebuliço interior. Esperava-se muito dos chilenos, mas eles fizeram bem mais. Esperava-se mais do Brasil, mas nós fizemos bem menos, e precisamos que Júlio César nos lembrasse que já foi o melhor goleiro do planeta.  

Assim como os mexicanos na fase de grupos, os chilenos colocaram para fora todo o seu potencial, enquanto nós não passamos nem perto disso. O Chile jogou mais no Mineirão do que o muito que já havia jogado no Maracanã, na histórica vitória diante da Espanha. Além de uma capacidade mental que o deixou à vontade diante do turbilhão de emoções e da entrega máxima (o heroísmo de Medel lembrou a inesquecível atuação do paraguaio Gamarra, contra a França, em 1998), o Chile foi taticamente sublime. Os 30 primeiros minutos chilenos na etapa final foram os mais perfeitos em termos táticos de todo este Mundial, com uma marcação por pressão tão encaixada e intensa que obscureceu o Brasil.

Somente quando o gás chileno acabou que o Brasil conseguiu afrouxar a corda do pescoço e voltou a assumir a iniciativa de atacar, assim como fizera durante boa parte de um primeiro tempo em que foi superior, marcou adiantado, colocou o Neymar no jogo, fez um a zero (gol contra do Jara) e deu mole ao deixar Sánchez empatar. Nos melhores (mas não tão bons) momentos brasileiros no primeiro tempo e na prorrogação, faltou consistência. O Brasil atacou, mas não se impôs. Pressionou, mas não dominou. Cresceu, mas não se agigantou. Assustou, mas não atemorizou. Uma vez mais, o Brasil explodiu no hino, mas não explodiu no jogo. Ainda assim avançamos. Em enorme parte graças ao emocionado e emocionante guardião Júlio César.  

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HISTÓRIA DA COPA DO MUNDO
Entre as Copas do Mundo de 1962 e 1994, a Bulgária ficou 17 partidas consecutivas sem sequer uma vitória. Por outro lado, o Brasil, somados os Mundiais de 2002 e 2006, triunfou 11 vezes seguidas.

sexta-feira, 27 de junho de 2014

COPA DO MUNDO 2014 - OITAVAS DE FINAL - PARTE 2


O primeiro dia em mais de duas semanas sem brazuca rolando amedronta: existirá vida após a Copa do Mundo? Veremos. Enquanto isso, é hora de seguir matutando sobre o bicho que certamente vai pegar nas oitavas de final.

A Holanda é forte demais. Em todos os sentidos. São sete jogadores sólidos como chumbo e que fazem das tripas coração para recuperar a bola e a entregar rapidamente para um trio que sabe demais (Sneijder, van Persie e o imparável Robben). Pela frente, um México que às vésperas do Mundial era desconfiança pura e, hoje, caminha nas nuvens pela autoridade com que avançou, tendo batalhado em iguais condições – no campo e nas arquibancadas – com o Brasil.

Costa Rica era a seleção que ninguém se lembrava do grupo da morte e acabou por ser a mais mortífera de todas. A Grécia levou uma sapatada na estreia e mostrou disposição hercúlea para se recuperar. Nada parecia tão impossível para costarriquenhos e gregos do que chegar às oitavas. Agora, nada parece mais possível do que chegar às quartas. E a possibilidade de algo tão grande atemoriza. Será um duelo de francos atiradores receosos em atirar a primeira pedra.

O que pode pegar para a Argentina é que sua retaguarda não é lá estas coisas e alguns suíços, como Shaqiri e Drmic, sabem tratar a pelota. Porém, ao ver um Messi em estado de graça e louco para fazer história e uma defesa suíça tão esburacada quanto um queijo suíço (viva os trocadilhos!) é impossível não apontar os argentinos como favoritos.

A Bélgica e seu craque Hazard mostraram pouco do que podem, e este pouco foi suficiente para uma campanha 100%. É uma seleção com potencial para o estilo carrossel e com individualidades que resolvem. Os Estados Unidos possuem menos variantes táticas e técnicas, mas têm conseguido usar bem seu líder técnico, Dempsey, e mostraram alguns momentos de um futebol intenso e eficiente.

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HISTÓRIA DA COPA DO MUNDO
Em três oportunidades a Copa do Mundo viu uma vitória pela estratosférica diferença de nove gols. Em 1892, a Hungria sapecou 10 x 1 em El Salvador naquela é a maior goleada da história dos Mundiais. Nesta partida, o húngaro Lazslo Kiss se tornou o único reserva a conseguir marcou três em um mesmo jogo. A mesma Hungria, em 1954, chinelou 9 x 0 na Coreia do Sul, mesmo placar do triunfo da Iugoslávia sobre o Zaire, na Copa do Mundo de 1974.

quinta-feira, 26 de junho de 2014

COPA DO MUNDO 2014 - OITAVAS DE FINAL - PARTE 1


Chegou a hora de a cobra trocar o cigarro pelo charuto cubano. A hora em que cada seleção pode acordar na Copa do Mundo e ir dormir fora dela. A sexta-feira não terá bola rolando e, como disse uma vez Luis Fernando Veríssimo, “nada melhor para discutir futebol do que a ausência de futebol”. Assim, amigos, vamos conversar aqui sobre quatro dos duelos das oitavas de final. Na próxima postagem, papearemos sobre os outros embates.

O Brasil terá um meio mais sólido e fluido com Fernandinho, os zagueiros podem lançar a força de Hulk atrás dos pequeninos chilenos, a marcação por pressão promete dar resultado e Neymar sabe como encontrar espaços diante de um time que mais se preocupa em jogar do que em não deixar jogar. A dinâmica e as bolas de pé em pé do Chile atordoam e encantam, mas o Brasil tem poder de fogo e alternativas para vencer.

A punição ao vampiro Suárez torna o Uruguai a maior das incógnitas. Os celestes entrarão em campo sonolentos como diante da Costa Rica (quando Luisito não jogou) ou com sangue nos olhos por se sentirem injustiçados? Por parte da Colômbia, fica a expectativa em saber se a alegria do “armeration”, o esplendor de James Rodíguez e o assanhamento do Cuadrado darão as caras em uma partida que pode virar uma batalha encardida.

Nenhuma seleção produziu mais “melhores momentos” do que a França. Os laterais e os volantes azuis vão à frente simultaneamente e os avantes, liderados por Benzema, criam sozinhos e em conjunto. Mesmo que não queira, a Nigéria será acuada pela França e precisará defender a meta do bom goleiro Enyeama. O estilo de jogo francês e o receio de ser atropelado como a Suíça obrigarão a Nigéria a apostar nos contra-ataques.

Contra a Alemanha, a Argélia vai se agarrar ao direito que o mais fraco tem de se defender contra um adversário titânico, mas tem homens na frente (Feghouli, Brahimi e Slimani) que podem fazer fumaça quando se juntam ou em bolas paradas. Os alemães trocarão trilhões de passes, atacarão em massa, esbanjarão autoridade e buscarão um gol o mais rápido possível para repetir com os argelinos o que fizeram com os portugueses.

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HISTÓRIA DA COPA DO MUNDO
A Espanha de 2010 foi a campeã mundial que menos vezes balançou as redes: apenas oito. Por outro lado, a Alemanha de 1954 conquistou o caneco tendo anotado 25 gols, a maior marca obtida por uma seleção campeã.

quarta-feira, 25 de junho de 2014

COPA DO MUNDO 2014 - FASE DE GRUPOS


Uma das ideias mais sem cabimento de todo o futebol é: “Se fulano não vai à Copa do Mundo, azar da Copa do Mundo”. Às vésperas deste magnífico Mundial com o qual nos deliciamos diariamente, o sueco Ibrahimovic´ e o galês Bale foram os principais fulanos da vez. Grandes jogadores, sem dúvida, mas não foram bem sucedidos como líderes técnicos de suas seleções e são eles que perdem por não disputar o Mundial.

Deixemos Neymar, Messi e Robben de fora desta discussão e vamos ficar apenas com as seleções que, assim como aconteceria com a Suécia de Ibra e o País de Galês de Bale, não chegaram à Copa do Mundo como protagonistas. Após o corte de Falcao Garcia, o camisa dez (e ele pode mesmo dizer que é um camisa dez) James Rodríguez assumiu com autoridade a função de líder técnico da Colômbia. Jogo após jogo Rodríguez esbanja o mais variado repertório de passes, arma seu time de tudo quanto é canto, anota gols e, de quebra, ainda faz isso com um quê de arte.

No dinâmico, fluido e entrosado Chile, todo mundo sabe jogar bola, mas ninguém tem jogado mais e chamado mais o jogo do que Sánchez, que demonstra uma maturidade que não era visível no Barcelona. Volta para organizar a saída de bola, sofre faltas em sequência, não se intimida, parte para cima, parte para os lados, parte em diagonal... Shaqiri foi decisivo e marcou três gols em Honduras quando a Suíça precisava de uma vitória ampla. O goleiro costarriquenho Keylor Navas não só não cometeu sequer uma falha até o momento como realizou defesas que mereciam ser emolduradas. Rafa Márquez, aos 35 anos, lidera o México como se fosse um Beckembauer azteca. Hazard ainda não jogou a bola redonda que sabe, mas os gols das duas vitórias belgas nasceram de suas assistências e inteligência.

Ao invés de se valorizar os que não estão no Mundial pelo que não fizeram dentro das quatro linhas, dizendo que a Copa tem azar por estas ausências, devemos elogiar efusivamente algumas brilhantes atuações de quem tem feito no Mundial o que de Ibrahimovic´ e Bale se esperava nas Eliminatórias.

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HISTÓRIA DA COPA DO MUNDO

O húngaro Sándor Kocsis (1954), o francês Just Fontaine (1958) e o alemão Gerd Müller (1970) são os únicos a terem conseguido dois hat-tricks em uma mesma edição da Copa do Mundo. O argentino Batistuta também chegou à marca de três gols em uma mesma partida em duas oportunidades, porém o fez uma vez no Mundial de 1994 e outra no de 1998.

terça-feira, 24 de junho de 2014

COPA DO MUNDO 2014 - FASE DE GRUPOS


Pirlo e Balotelli de um lado, Suárez e Cavani de outro. Sem dúvida jogadores capazes de desequilibrar tecnicamente um embate tão decisivo quanto o Itália versus Uruguai que valia vaga nas oitavas da Copa do Mundo. No entanto, se tal confronto não primou pelo brilhantismo técnico, foi um prato cheio para análises táticas, psicológicas e físicas.

A primeira etapa foi uma ilustração mais clara impossível de como esquemas táticos podem ser iguais nos números da prancheta e completamente diferentes em estilo. A Itália e o Uruguai tinham três zagueiros, dois alas, um tripé de meio-campistas e uma dupla de ataque. Em números, um 3-5-2 pra lá e outro pra cá. Em conteúdo, porém, era uma Itália de troca de passes e de cadencia e um Uruguai de marcação cerrada e de busca rápida ao ataque. Estilos tão diferentes quanto o do arquiteto italiano Pirlo e o do doberman uruguaio Arévalo Ríos.

O Uruguai conhece tanto o seu estilo próprio de jogo que mesmo obrigado a vencer possui a mente no lugar para não se lançar ao ataque como se não houvesse amanhã. Os celestes só tomaram a iniciativa com uma hora de partida, após a expulsão do italiano Marchisio. A partir daí, chamou a atenção a fraqueza física italiana, que pagou caro por ter de encarar seus três jogos na região norte-nordeste, sendo dois deles à uma hora da tarde. O Uruguai soube se impor e coube ao zagueiro Godín marcar mais um gol consagrador em sua carreira.

Todo refinamento técnico ausente na peleja entre os campeões mundiais esteve nos pés de James Rodríguez, que não deixa Robben e Neymar monopolizarem a briga pelo posto de craque da Copa. O camisa dez colombiano entrou no intervalo contra o Japão, quando o escore apontava um a um, e desfilou seu repertório de passes curtos e longos, lentos e rápidos, rasteiros e flutuantes. Deu duas assistências de visionário e fez um gol tão lindo que deu dó do zagueiro nipônico Yoshida. Dos nove gols colombianos no Mundial, Rodríguez anotou três e participou diretamente de outros cinco. Isso que é liderança técnica!

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HISTÓRIA DA COPA DO MUNDO
Ao entrar em campo para os minutos finais contra o Japão, nesta terça-feira, o goleiro colombiano Mondragón, com 43 anos e três dias, se tornou o jogador mais velho a disputar um jogo de Copa do Mundo. O antigo detentor do recorde era o atacante camaronês Roger Milla (42 anos e 39 dias), que, no entanto, segue como o mais velho a ter marcado um gol no torneio.