terça-feira, 30 de setembro de 2014

CRUZEIRO, PONTOS CORRIDOS E JUSTIÇA


Um dos debates mais agradáveis do nosso futebol é aquele que coloca na balança as vantagens e as desvantagens de se ter um Brasileirão por pontos corridos ou realizado no formato que engloba uma fase inicial classificatória para um mata-mata. E este campeonato de 2014, que caminha para seu último terço, apresenta um dado interessantíssimo para se discutir tal assunto: líder absoluto desde a sexta rodada, o Cruzeiro possui um desempenho pífio quando enfrenta as equipes que brigam para terminar entre as quatro melhores.

Até o momento, o Cruzeiro disputou oito partidas contra Internacional, São Paulo, Atlético Mineiro, Grêmio, Fluminense e Corinthians, os seis clubes que, nesta ordem, o seguem na tabela de classificação. Destes oito embates, a Raposa venceu apenas dois, empatou outros dois e perdeu quatro, retrospecto que resulta em um aproveitamento de 33,3%, o mesmo que hoje possui o Palmeiras, primeiro time na zona de rebaixamento.

Como possui uma campanha magnífica diante dos adversários que se encontram abaixo da sétima colocação (14 vitórias, 3 empates, nenhuma derrota e 88,2% de aproveitamento), o Cruzeiro se dá ao luxo de não precisar encarar os jogos mais encardidos como se fossem de vida ou morte. E pode-se dizer que muito da liderança da Raposa se dá por ter entendido que, num campeonato por pontos corridos, um jogo contra o lanterna vale os mesmos três pontos que um jogo contra o vice-líder.

É neste ponto que a discussão se torna ainda mais interessante, pois começamos a perceber que o conceito de justiça não tem nada de absoluto. Enquanto os que preferem os pontos corridos bradam que esta é a forma mais justa de disputa, pois todos os times recebem e visitam os mesmos adversários, os amantes do mata-mata não veem um pingo de justiça na possibilidade de um campeão não precisar mostrar seu valor contra os rivais mais fortes.

No próximo sábado, o Cruzeiro enfrenta o Internacional, vice-líder, e uma vitória colorada poria não só mais fogo no torneio como também neste interminável e prazeroso debate.

domingo, 28 de setembro de 2014

CAMPEONATO BRASILEIRO 2014 – 25ª RODADA – BOTAFOGO X GRÊMIO


Botafogo 0 x 2 Grêmio – Maracanã, Rio de Janeiro (RJ)

Goleiro botafoguense Jefferson tem grande atuação, mas não consegue parar o artilheiro Barcos, que marca duas vezes e dá vitória ao Grêmio no Maracanã.

Antes do apito inicial, o Grêmio ocupava o posto de segundo pior ataque da competição e ostentava a sequência de sete partidas sem sofrer sequer um gol, dados que demonstram como o poder ofensivo não é a principal força do time. Porém, a postura botafoguense de se fechar na defesa e esperar a oportunidade de contra-atacar, fez com que os tricolores tivessem que sair do seu estilo e tomassem a iniciativa. Pois não só a tomaram como deram um trabalho do cão ao goleiro Jefferson. Corrigindo: ao goleiraço Jefferson.

Se os perdidos defensores botafoguenses não conseguiram conter a dinâmica de Dudu e Luan e os avanços de Ramiro e Zé Roberto, Jefferson fez de tudo, desde saídas felinas nos pés adversários até encaixadas seguras em arremates médios e longos. Foi muito pelas qualidades do arqueiro que o Grêmio só conseguiu transformar a sua superioridade em bola na rede após o intervalo. Aos 3 minutos – logo depois do Bota quase fazer um gol antológico em passe de letra de Ramírez e voleio do Sheik –, o infinito Zé Roberto roubou uma bola no meio-campo e apareceu no fundo para encontrar Barcos, que fez um a zero.

Estar em vantagem era tudo que o Grêmio mais queria e, por outro lado, o Botafogo parecia não ter muita ideia do que fazer com a bola que agora passava mais tempo em seus pés. Enquanto o treinador alvinegro Vágner Mancini mudava os seus homens de frente e nada conseguia produzir, Scolari trocava seus jogadores impetuosos por mais segurança no meio-campo e, mesmo assim, o Grêmio não parava de atazanar a vida do Jefferson, que nada pôde fazer quando, aos 31, Barcos apareceu sozinho na sua frente para ampliar. E olha que antes do apito final o Pirata ainda arrumou tempo e espaço para acertar o travessão.

Tanto quando quis contra-atacar, como quando teve que tomar a iniciativa, o Botafogo foi dominado e quase nada criou. De bom no domingo o fato de se manter fora da zona da degola.

Botafogo: Jefferson; Dankler (Carlos Alberto), Bolívar, André Bahia e Julio Cesar; Airton e Gabriel; Emerson Sheik, Rogério (Ferreyra) e Ramírez; Zeballos (Wallyson). Técnico: Vágner Mancini.

Grêmio: Marcelo Grohe; Pará, Geromel, Rhodolfo e Zé Roberto; Walace e Fellipe Bastos (Riveros); Ramiro, Dudu (Matheus Biteco) e Luan (Alan Ruiz); Barcos. Técnico: Luiz Felipe Scolari.

sexta-feira, 26 de setembro de 2014

JOGOS INESQUECÍVEIS DO BRASILEIRÃO – SANTOS 2 X 1 GOIÁS - 2004


Santos 2 x 1 Goiás

Campeonato Brasileiro 2004 – 41ª rodada

Data: 14 de novembro de 2004

Estádio Eduardo José Farah, Presidente Prudente (SP)

Santos: Mauro; Leonardo, Ávalos e André Luís (William); Paulo César, Fabinho, Elano (Marcinho), Flávio (Luís Augusto) e Léo; Basílio e Deivid. Técnico: Vanderlei Luxemburgo.

Goiás: Harley; André Dias, Renato e Asprilla; Paulo Baier (Tiago), Danilo Portugal, Josué, Rodrigo Tabata e Jadílson; Alex Dias (Douglas) e Leandro (Cléber). Técnico: Celso Roth.

Gols: Paulo Baier (Goiás), aos 10’ do primeiro tempo; Basílio (Santos), aos 39’, e William (Santos), aos 40’ do segundo tempo.

Faltavam sete minutos para o apito final do embate contra o Goiás e a situação santista era de enorme tensão. O placar apontava vitória de um a zero para os esmeraldinos, gol do infinito Paulo Baier. Os autofalantes anunciavam em sequência os gols do líder do campeonato, o Atlético Parananese, que sapecava meia dúzia no Criciúma. O dia anterior vira um triunfo acachapante do São Caetano sobre o Cruzeiro, que, com os três pontos, ia tomando a segunda posição do Peixe. Para completar o drama, Robinho e Elano, principais figuras da equipe praiana, não estavam em campo: o primeiro liberado por problemas particulares (mais tarde seria revelado o sequestro de sua mãe) e, o segundo, havia sido substituído por contusão ainda no primeiro tempo.

Caso a derrota para o Goiás se concretizasse, as chances santistas de seguir na briga pelo caneco do Brasileirão sofreriam um golpe e tanto. E isso estava bem próximo de acontecer, pois, mesmo com um homem a mais desde a etapa inicial (o zagueiro goiano Renato Silva havia sido expulso), o Santos não conseguia colocar a bola na rede. Parecia bater com água mole em pedra dura. Água mole... Pedra dura... Ué, não diz o ditado que tanto bate até que fura? Pois furou. Em dois minutos que se tornariam históricos na campanha santista, Basílio e Willian marcaram, o Peixe virou o placar e seguiu firme e forte rumo ao título. Título que acabaria por conquistar pouco mais de um mês depois.

quinta-feira, 25 de setembro de 2014

CAMPEONATO BRASILEIRO 2014 – 24ª RODADA – SÃO PAULO X FLAMENGO


São Paulo 2 x 2 Flamengo – Morumbi, São Paulo (SP)

Flamengo sai atrás, cresce no jogo, vira o placar e, no fim, com um homem a mais, deixa uma vitória maiúscula diante do São Paulo escapar.

O São Paulo começou o embate com toque de bola e marcação pressão que deixaram o Flamengo acuado e sem saída. Posicionado em peso no campo de ataque, o Tricolor abriu o placar aos 16, com Rogério Ceni convertendo pênalti nascido de uma tabela magistral entre Kardec e Pato e cometido por Márcio Araújo.

Rogério Ceni que, sabe-se lá o porquê, pois tem muita qualidade com a bola nos pés, não seguiu o padrão do time de fazer a bola rolar na grama e exagerou nas ligações diretas. Quanto mais o goleiro rifava a redonda mais o Flamengo crescia e avançava pelo seu lado esquerdo. E foi por ali, em jogada de Gabriel sobre Auro, que Everton aproveitou uma paçocada de Rogério Ceni para, aos 34, igualar o escore.

Neste momento, a cara do jogo já era outra, com o Tricolor a trocar passes de maneira infértil e o Rubro-Negro mais solto para atacar. Uma penalidade pessimamente marcada a favor do São Paulo com apenas alguns segundos da etapa final (a bola bateu na mão do zagueiro Samir fora da área) poderia ter dado mais tranquilidade aos anfitriões. Desta vez, porém, Paulo Victor levou a melhor sobre Rogério Ceni.

A escapada do momento adverso deu forças ao Fla. Comandado por Everton – que tem jogado tudo que jogou pelo Atlético Paranaense e mais um pouco – o Rubro-Negro encheu o peito, tomou conta das ações paulistas e passou a rondar a área adversária. Um dos resultados do domínio foi a entrada cavernosa de Michel Bastos que tirou Everton do jogo e lhe rendeu a expulsão.

Com um a mais, mas sem seu melhor jogador, o Flamengo só foi se encontrar quando Canteros cobrou córner e Alecsandro subiu para virar o escore. Faltavam uns cinco minutos e o triunfo rubro-negro parecia definitivo. Apenas parecia, pois Luís Fabiano arrumou tempo e espaço para devolver o empate ao marcador. Um empate ruim para o Sampa, em termos de tabela, e ruim para o Fla, que teve a vitória nas mãos.  

São Paulo: Rogério Ceni; Auro, Antônio Carlos, Edson Silva e Michel Bastos; Denílson e Souza; Ganso (Osvaldo) e Kaká; Alexandre Pato (Luís Fabiano) e Alan Kardec (Reinaldo). Técnico: Muricy Ramalho.

Flamengo: Paulo Victor; Léo Moura, Wallace, Samir (Chicão) e João Paulo; Cáceres (Arthur), Canteros, Márcio Araújo e Everton (Luiz Antônio); Gabriel; Alecsandro. Técnico: Vanderlei Luxemburgo.

terça-feira, 23 de setembro de 2014

CORAGEM, REPÓRTER!


Pipocam pelas TVs programas cujo principal objetivo é fazer o entrevistado, geralmente uma “celebridade”, passar vergonha. O intuito é jogar a maior quantidade de sal possível na ferida do outro para ganhar mais ibope. Apesar de não ser fã do gênero, confesso sentir falta deste estilo por parte da imprensa esportiva.

Dentre os convocados por Dunga na última semana, os nomes mais surpreendentes foram justamente as duas novidades: os laterais Dodô e Mario Fernandes, este jogador do CSKA de Moscou desde 2012. Tenho uma forte impressão de que Dunga (assim como a maioria dos treinadores brasileiros) não acompanha os principais campeonatos europeus. Esta forte impressão se torna certeza absoluta quando a liga em questão é a russa. Por que diabos nenhum repórter tem a coragem de perguntar ao Dunga quantos dos 58 jogos que Mario Fernandes fez com a camisa do CSKA ele assistiu antes de decidir pela convocação?

Da Seleção para o Brasileirão. No último fim de semana, a vitória de virada do Corinthians sobre o São Paulo foi repleta de lances para os comentaristas de arbitragem exalarem, por horas e mais horas, o bom senso que eles não exibiam tão vigorosamente quando vestiam preto. Com dois pênaltis e um cartão vermelho contra, os tricolores cuspiram abelhas africanas e, Mano Menezes, treinador corintiano, soltou que “os árbitros erram e acertam, a favor e contra”. Logo Mano Menezes, que passa os 90 minutos e mais os acréscimos tentando apitar o jogo da área técnica e não aguenta uma derrota de sua equipe sem culpar os árbitros. Cadê o peito de algum jornalista para questionar o Mano sobre o assunto, ali mesmo, ao vivo, diante de tudo e de todos?

Sem dúvidas criticar nas páginas do jornal, nas ondas do rádio e nos programas televisivos é válido, mas já passou do momento da imprensa esportiva não aceitar calada algumas falácias de jogadores que simulam e juram não, de treinadores que não sabem perder e dirigentes que não sabem fazer nada.

domingo, 21 de setembro de 2014

CAMPEONATO BRASILEIRO 2014 – 23ª RODADA – FLAMENGO X FLUMINENSE


Flamengo 1 x 1 Fluminense – Maracanã, Rio de Janeiro (RJ)

Emocionante Fla-Flu termina empatado,mantém rubro-negros na meiúca da tabela e afasta tricolores da zona de classificação para a Libertadores.

O Flamengo não foi um time que desejou trocar passes, mas sim resolver rapidamente suas tramas ofensivas. O Fluminense, mesmo com Conca, Cícero e Wágner no meio-campo, também não primou pela bola de pé em pé e baseou seus ataques nas jogadas pelo alto. E mesmo sem trabalhar muito a redonda, rubro-negros e tricolores lutaram muito pela vitória e conseguiram criar ótimas chances para consegui-la.

A etapa inicial foi um retrato do ótimo Brasileirão que vem realizando o flamenguista Everton e o tricolor Cícero. Pela esquerda e com muita velocidade, Everton desnorteou o volante Jean desde o comecinho, quando, com apenas dois minutos, soltou uma bomba para defesa de Cavalieri. Depois, aos 26, o pequeno rubro-negro avançou e cruzou para Eduardo da Silva aproveitar pane geral na zaga tricolor e abrir o placar.

Antes do Fla inaugurar o escore, o meia Cícero (cada vez mais meia-atacante), já mostrara sua cara em duas oportunidades, uma delas uma linda bicicleta na trave que fora mal anulada por impedimento. Em desvantagem, o Flu aumentou seu volume ofensivo com mais bolas alçadas sobre a área rival. Numa delas, aos 44, em falta sofrida por Cícero e cobrada por Conca, Fred, de cabeça, igualou.

O gol no fim do primeiro tempo fez um bem enorme ao Fluminense, que voltou ligado do intervalo e em menos de 20 minutos esteve perto da virada em três oportunidades. Na melhor delas, Fred soltou o pé e Paulo Victor realizou um milagre. Neste período de domínio tricolor, o Fla até arriscou alguns contra-ataques, mas as verdadeiras chances que o clube da Gávea criou para vencer vieram nos últimos 15 minutos, os seus melhores na partida.

Até a última apitada a sensação era a de que o placar poderia ser alterado, como quase o foi quando Everton, aos 46, finalizou a queima-roupa para defesa de Cavalieri. No fim, porém, a igualdade permaneceu. Pior para o Flu, que, pelo menos em termos de tabela, é um time com mais expectativas que o rival.  

Flamengo: Paulo Victor; Léo Moura, Chicão, Wallace e João Paulo; Cáceres, Márcio Araújo, Luiz Antônio (Gabriel) e Everton; Eduardo da Silva (Mugni) e Alecsandro (Elton). Técnico: Vanderlei Luxemburgo.

Fluminense: Diego Cavalieri; Bruno, Henrique (Marlon), Elivelton e Carlinhos; Valecia (Rafinha) e Jean; Cícero, Conca e Wágner (Gustavo Scarpa); Fred. Técnico: Cristóvão Borges.

quinta-feira, 18 de setembro de 2014

CAMPEONATO BRASILEIRO 2014 – 22ª RODADA – PALMEIRAS X FLAMENGO


Palmeiras 2 x 2 Flamengo – Pacaembu, São Paulo (SP)

Em jogo fraco tecnicamente, mas repleto de reviravoltas, Flamengo e Palmeiras empatam no Pacaembu. Pior para o Alviverde, que termina a rodada na zona da degola.

Curto e sem ser grosso: o Flamengo foi para o intervalo em vantagem por ter sido consciente o bastante para usar sua força nos ataques pelas bordas e eficiente o bastante para converter as únicas duas chances que criou em gols, enquanto o Palmeiras passou a etapa inicial sem ter sequer ideia do que fazer com a bola.

A inauguração do placar se deu aos 12 minutos, quando João Paulo avançou pela esquerda e cruzou para Canteros, após falha bisonha de Juninho, completar. Já o lance do segundo gol, aos 32, nasceu pelo outro lado e com o outro lateral: Léo Moura começou, Alecsandro participou, o arqueiro Deola paçocou e Eduardo da Silva concluiu.

Diante da enorme inoperância palmeirense, era óbvio que Dorival Júnior mexeria na equipe no intervalo. Allione e Valdívia entraram para tentar dar alguma vida ao ataque paulista, mas o primeiro gol alviverde surgiu de uma jogada que parecia morta: logo aos 2 minutos, Lúcio deu uma bicuda para os céus e Diogo aproveitou bobeada de Léo Moura para fazer a bola beijar a bochecha da rede.

O Palmeiras cresceu e se lançou à frente. Luxemburgo, que já havia trocado o doberman Cáceres pelo pit bull Amaral, sacou o avante Eduardo para colocar Luiz Antônio fechando o lado direito. Pois nem Amaral marcou o meia Valdívia nem Luiz Antônio o lateral-esquerdo Victor Luis e, aos 23, com passe do primeiro e gol do segundo, o Alviverde teve sua melhora de desempenho ser recompensada.

Se não chegou a pressionar de forma incandescente na busca pela virada, o Palmeiras seguiu melhor em campo até Valdívia, de forma estúpida, pisar em Amaral e ser expulso. Com cerca de 10 minutos por jogar, o Flamengo viu a vitória passar perto por duas vezes: um arremate de Elton que foi salvo quase sobre a linha e uma bomba do Alecsandro que explodiu na trave. Um final emocionante para um jogo que, se passou longe de ser refinado, foi bem divertido.

Palmeiras: Deola; João Pedro, Lúcio, Nathan e Victor Luis; Renato e Juninho; Mouche (Valdivia), Diogo e Cristaldo (Patrick Vieira); Henrique (Allione). Técnico: Dorival Júnior.

Flamengo: Paulo Victor; Léo Moura, Chicão, Wallace e João Paulo; Cáceres (Amaral), Canteros, Márcio Araújo (Elton) e Everton; Eduardo da Silva (Luiz Antônio) e Alecsandro. Técnico: Vanderlei Luxemburgo.