domingo, 22 de março de 2009

Grandes Clássicos - Vasco x Flamengo 1988

Grandes Clássicos - Vasco x Flamengo 1988

Olá amigos do FUTEBOLA!

Nesta quarta rodada da Taça Rio de 2009, teremos mais um “Clássico dos Milhões”. Nem é preciso falar que é uma das maiores, talvez a maior, rivalidade entre clubes brasileiros. Para este jogo, o Vasco entra completamente empolgado devido as suas recentes vitórias e boas atuações. Situação muito semelhante ocorreu no duelo que valia o título do Campeonato Carioca de 1988. É sobre esse jogão de bola que eu falo, agorinha, com vocês.

No final dos anos 80, o nosso futebol vivia uma fase de transição daquelas. Os jogadores da lendária geração da Copa do Mundo de 1982, que não venceram mas convenceram, haviam se tornado veteranos e líderes de uma nova geração que surgia. E que geração estava nascendo! Em São Paulo tínhamos o Guarani do jovem xerife Ricardo Rocha, do perigosíssimo ponta João Paulo, do ótimo meia Boiadeiro e do atacante Evair, um dos melhores que nosso país já criou. Este jovem timaço do Bugre perderia a final do Campeonato Brasileiro de 1986 para o, também jovial, São Paulo. Conhecida pelo apelido de “Menudos do Morumbi”, em referência a uma badalada banda da época, a equipe tricolor também era recheada de promessas. Quem se deu bem foi o mais que completo centroavante Careca. O trio de moleques (no bom sentido, claro ) que o ajudava a marcar seus gols era composto pelo veloz Sidney, pelo extremamente habilidoso Silas e por Muller, um dos maiores “garçons” de nosso futebol. Como o Careca se deu bem! Se no futebol paulista brotavam futuros craques em grande quantidade, no Rio de Janeiro vivíamos o mesmo processo. E é neste contexto que Flamengo e Vasco fizeram um duelo histórico pelo Campeonato Carioca de 1988.

A disputa do Carioca de 1988 se iniciava com Flamengo e Vasco polarizando a briga pelo posto de favorito a levantar o caneco. O Flamengo chegava para o torneio sustentado pelo título da Copa União de 1987, o Brasileirão daquele ano ( prefiro não entrar, agora, na questão sobre se é o Flamengo ou o Sport o verdadeiro campeão ), e com um verdadeiro timaço. Não se assustem com tanta qualidade, mas observem a nova geração com a qual o Flamengo contava: Jorginho, Aldair, Leonardo, Zinho e Bebeto. Agora verifiquem a escalação da Seleção Brasileira na estréia da Copa do Mundo de 1994, que terminamos levantando a taça. Pois é, o quinteto rubro-negro, todo ele, esteve em campo. As promessas rubro-negras eram o futuro do Brasil. De todos esses garotos, Bebeto já se mostrava único. Sua técnica, velocidade, passe e chute, eram especiais. Junte a estas características, uma estrela que poucos possuem. Na sua curta carreira, já havia marcado gols em final de Carioca ( 1986 contra o Vasco ) e de Brasileiro ( 1987 contra o Internacional ). O pesadelo dos adversário, porém, não era o Flamengo ter Bebeto. Era o Flamengo ter Bebeto e Renato Gaúcho. Renato começava o ano de 1988 sendo, simplesmente, o melhor jogador do futebol nacional. Vencedor do prêmio Bola de Ouro ( dado pela revista Placar ao melhor jogador do Campeonato Brasileiro ) em 1987, Renato estava em um dos seus ápices. Nem sei se é correto falar que um jogador teve vários ápices, mas é a única explicação que encontro para definir Renato Gaúcho. Ele havia conquistado o Campeonato Mundial de Clubes em 1983 pelo Grêmio, era, como citado, o melhor jogador do país no início de 1988 e ainda teria tempo para, ajudado por sua barriga, chegar novamente aos céus em 1995, com a camisa tricolor do Fluminense.

O Flamengo estreou no Campeonato vencendo o Vasco por 1 a 0 com gol de Bebeto em um jogo estranho. Por problemas com iluminação o jogo foi interrompido aos 21 minutos do 2º tempo. Enquanto os profissionais responsáveis tentavam reparar os refletores, o time do Vasco decidiu abandonar o campo, mesmo que o tempo de paralisação ainda estivesse dentro dos limites ditados pelo árbitro. A atitude vascaína se tornou ainda mais grave pois o clube perdeu a Taça Guanabara ( 1º turno ), para o Flamengo, por apenas um pontinho. Mas para uma boa equipe se recuperar, nada melhor que o tempo. E o Vasco era uma boa equipe? Não. Era uma extraordinária equipe. A dourada geração cruzmaltina não devia nem um quilate à rubro-negra. Na lateral-esquerda Mazinho mostrava a categoria que o faria, pouco tempo mais tarde, atuar pelo meio-de-campo. No ano anterior, 1987, ele havia sido considerado o melhor de sua posição durante o Campeonato Brasileiro, fato que se repetiria tanto em 1988 quanto em 1989. No meio campo um verdadeiro gênio organizava o Vasco. Conhecido simplesmente por “Pequeno Príncipe”, Geovani era pequeno apenas no tamanho. Sua habilidade, técnica e classe eram gigantescas. E havia ainda mais um jovem de destaque. Na verdade, estou cometendo uma heresia das grandes ao chamá-lo de “mais um”. Me corrigindo: ainda havia “O Cara”. Ainda havia Romário.

Por motivos de contusão, o Vasco raramente contou com a presença de seu maior ídolo, Roberto Dinamite, durante o ano de 1988. Mesmo já estando com 34 anos, Roberto ainda era importante para o time, como a vice-artilharia obtida na campanha do título Estadual de 1987 provara. Em 1987, apenas um jogador marcou mais gols que ele no Cariocão. Apenas Romário. Hoje em dia é muito fácil elogiar Romário após tudo que ele fez na carreira, assim como também já era fácil elogiá-lo quando estava começando. Com apenas 22 anos, o baixinho iniciava o torneio com mais de 100 gols no caderninho. Não! Não estou contando os gols pelo infantil, juvenil ou juniores. Somente gols como profissional. Desde cedo ele já mostrava sua incomensurável capacidade de decisão.

A perda da Taça Guanabara por um mísero ponto realmente não afetou a equipe vascaína e por este motivo, vale ressaltar, também, a capacidade do treinador vascaíno Sebastião Lazaroni, que soube controlar o ego e as individualidades de alguns jovens craques como Romário e Geovani. A equipe venceu a Taça Rio ( 2º turno ) e o terceiro turno ( que contou ainda com Flamengo, Fluminense e Americano ), chegando assim a decisão contra o Flamengo em vantagem. A decisão seria uma melhor de 4 pontos ( na época cada vitória valia dois pontos para o vencedor e o empate um ponto para cada time ) e a vantagem vascaína era de começar com um ponto.

No primeiro jogo da decisão, Romário deu mais uma amostra de como era decisivo. Com o jogo empatado em 1 a 1, o baixola fez um golaço histórico, após lindo lençol no goleiro flamenguista Zé Carlos, dando a vitória ao Vasco. O momento era de total euforia vascaína e preocupação rubro-negra, pois bastava um empate para o Vasco se sagrar campeão. Mas o Flamengo não iria entregar os pontos facilmente. A batalha seria decidida, uma vez mais, no “Maior do Mundo”.

O dia 22 de junho de 1988 estava fadado a entrar para a história. Antes mesmo da bola rolar, já era possível fazer uma previsão de como seria a partida. Podendo jogar com o regulamento debaixo do braço, o Vasco não iria atacar com o ímpeto que lhe era característico. A responsabilidade de pressionar, atacar e fazer gols era toda do Flamengo. Ou seja, era um jogo daqueles de roer até o último tasquinho de unha. Desde o apito inicial, o que se viu foi o esperado. O Flamengo pressionava de todas as maneiras e o Vasco raramente tentava assustar o adversário nos contra-ataques. O coração dos vascaínos estava a prova. Era Renato Gaúcho chegando com velocidade, bola no travessão, o goleirão Acácio fazendo um milagre, Bebeto levando perigo, chute passando raspando, mais uma defesaça de Acácio, outra bola no travessão... Não dava pra piscar os dois olhos ao mesmo tempo. O Vasco muito recudado deixou o Flamengo crescer, colocando muitas pitadas de pimenta no jogo. Faltando aproximadamente 10 minutos para o final da partida, a torcida do Vasco começou a extravasar o nervosismo. “Dá-lhe, dá-lhe, dá-lhe, Vasco, seremos campeões”. A pressão não havia acabado, mais o torcedor precisava se libertar daquela prisão de nervos. Foi aí que entrou em cena o libertador. Para conter os avanços do lateral-esquerdo rubro-negro Leonardo, Sebastião Lazaroni optou por colocar o lateral reserva Cocada no lugar do ponta Vivinho. Mesmo tendo feito parte do time do Flamengo Campeão Brasileiro de 1983, Cocada era mais conhecido por ser irmão de Muller, aquele mesmo atacante são-paulino já citado anteriormente. Ele nem imaginava que sua vida estava prestes a mudar, que ele estava a minutos da história.

Após a entrada de Cocada, aos 41 minutos do 2º tempo, lances importantes se sucederam com impressionante velocidade. O Flamengo colocava suas últimas forças em campo quando, em um ataque vascaíno, Cocada arrancou com a bola desde antes do meio campo, até alcançar a marcação de Edinho. Com uma ginga de corpo e um drible, o lateral vascaíno puxou a bola para sua perna esquerda e, mesmo com Romário entrando pelo meio da área, resolveu mandar a bomba. Golaço! Golaço histórico! Cocada alucinado tira a camisa e corre em direção ao banco flamenguista, para mostrar ao treinador rubro-negro Carlinhos, que o havia dispensado anos antes do Flamengo, do que ele era capaz. O seu golaço e sua atitude deram início a uma pancadaria digna de filme de Jackie Chan. Chute pra lá, tapa na cara pra cá e, acreditem, voadoras. Torcedores, dirigentes e repórteres invadiram o campo e tudo que se imagina foi falado nos microfones. O volante do Flamengo Andrade dizia que o Vasco não estava acostumado a ganhar títulos, Cocada mandava na lata: “É uma resposta ao Carlinhos!” e Romário chamava Renato Gaúcho de muleque e safado. Quando acabou toda a estupidez dos jogadores, uma atitude coerente: o árbitro mandou pra fora do jogo os flamenguistas Renato Gaúcho e Alcindo e os vascaínos Cocada, Romário e Paulo César ( goleiro reserva ). O jogo reiniciou, mas já nem era necessário. A torcida cruzmaltina aguardava o apito final com o grito de “Bi-campeão! Bi-campeão!”. Fim de jogo. A valorosa geração vascaína coloca mais um título no currículo e Cocada seu nome na história. “Daqui a 20 anos meu nome estará sendo lembrado como o jogador que fez o gol do título.” - disse o herói. Bem Cocada, você se enganou. Vinte anos foi muito pouco tempo pra torcida vascaína esquecer do seu golaço.

Vasco 1 x 0 Flamengo
22 de junho de 1988
Maracanã – Público: 31816 pagantes
Gols: 2º tempo: Cocada ( Vas ) aos 44´
Flamengo: Zé Carlos; Jorginho, Aldair, Edinho e Leonardo; Andrade, Ailton (Julio César) e Alcindo; Renato Gaúcho, Bebeto e Zinho.
Vasco: Acácio; Paulo Roberto, Donato, Fernando e Mazinho; Zé do Carmo, Geovani e Henrique; Vivinho (Cocada), Romário e Bismark.

4 comentários:

  1. Realmente so tinha craques, e o Vasco contou tambem com a sorte e competencia do seu goleiro, infelizmente na epoca so tinha 06 anos e nao tinha noção, porem hj podemos retratar o historico recente de vitorias Rubro-Negras em finais contra nosso maior rival, e posso dizer me orgulho em ser rubro-negro, e voces podem estarem se perguntando, esse flamenguista sabe se expressar rs rs rs

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  2. nem tomamos conhecimento do terceio lugar do menguinho no brasileiro de 1987(ano que tambem fomos campeoes em cima deles)bi-campeao

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  3. Engraçado é alguém falar de "menguinho" quando o mesmo não perde decisão pro "vascão" desde essa época... aliás esse ano o "vascão" completou(perdendo a taça rio para o "menguinho") 8 anos sem ganhar NADA!!! em 1988 o Rio de Janeiro não tinha sequer linha vermelha, nem linha amarela, a vilã da novela das oito era Odete Hoittiman, o Zico ainda jogava no Flamengo... hoje o cocada deve ser bisavô! SRN

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  4. Aliás olhando a escalação, faz tanto tempo que TODOS os jogadores da época estão APOSENTADOS!!! Coisa de vascaínos: perderam completamente a noção do tempo, ficar oito anos sem ir a final do carioca é coisa de time pequeno! O Vasco hoje se apequenou e só consegue se alegrar com as glórias de um passado bem distante, afinal, no bi do Vasco em cima do Flamengo eu tinha dez anos, hoje já estou com 33!!! O Vasco é rival apenas pelo histórico de jogos emocionantes e disputatos, mas quando tem um troféu à beira do gramado, o Vasco é apenas mais um! Estava mais fácil o Flamengo perder o título de 2011 para o Olaria do que pro Vasco!!! Pobre "rival".

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