sábado, 11 de abril de 2009

Grandes Clássicos - Vasco x Botafogo 1970

Grandes Clássicos - Vasco x Botafogo 1970

Olá, amigos leitores do FUTEBOLA!

Neste sábado, Botafogo e Vasco se enfrentam pela semi-final da Taça Rio em um duelo onde ambos possuem chances de conquistar o título. Em 1970, ano em que o futebol brasileiro esteve em festa, o fato foi diferente. O clássico foi disputado com um dos times querendo se sagrar campeão e o outro colocar água no chopp do rival. É sobre esta empolgante disputa que o Grandes Clássicos de hoje vai falar.

O Campeonato Carioca de 1970 se iniciou no final de junho, em pleno carnaval. Calma lá! Carnaval em junho? Isso mesmo, não fiquei maluco. No dia 27 de junho, Bangu e Portuguesa entravam em campo para dar início ao torneio estadual menos de uma semana após o Brasil se sagrar Tri-campeão Mundial, no México, ou seja, o Rio de Janeiro e todo o Brasil estavam em festa. Se hoje em dia nós nos acostumamos a ouvir a frase “o campeonato está nivelado por baixo”, em 1970 o Carioca que se iniciava também era nivelado, mas por alto. Muito alto. Nas nuvens.

Pelo Maracanã passariam jogadores da melhor qualidade e cinco times poderiam conquistar o certame naquele ano sem ninguém gritar: “Nossa! Que zebra!”. O Flamengo já havia conquistado dois títulos antes mesmo do Carioca se iniciar e contava com excelente equipe. As vitórias no Torneio Internacional de Verão (durante o qual aplicou uma sonora goleada de 6 a 1 no Independiente, da Argentina) e na Taça Guanabara (que ainda não valia pelo 1º turno do Campeonato Carioca) apontavam o Flamengo como um dos candidatos ao título. O maior destaque dos rubro-negros ficava por conta da dupla de gringos formada pelo clássico zagueiro paraguaio Reyes e o argentino ponta-direita, sinônimo de raça e perigo, Doval. Entre os dois, atuando pelo meio-campo, Zanata mostrava toda sua categoria. Já a força do Botafogo era simples de se explicar, pois na linha de frente alvinegra encontraríamos Jairzinho e Paulo Cézar Caju. Jairzinho acabava de retornar da Copa do Mundo com o cartaz de ter marcado gols em todos os jogos da campanha que nos deu o título. Esta mesma Copa do Mundo serve para ilustrar a qualidade de Paulo Cézar. Na duríssima vitória contra a Inglaterra por 1 a 0, o Caju foi titular e considerado por muitos cronistas como o melhor homem em campo, possuindo apenas com 20 anos de idade. Um time que contasse com esses dois atacantes seria favorito a qualquer conquista.

E o campeão do Carioca de 1969? Havia mantido a mesma base? Sim, o Fluminense apostava suas fichas, para o Carioca de 1970, na base que levantara o toféu um ano antes. E o tricolor tinha um timaço, que já começava com o goleiro Tri-campeão do Mundo, Félix. Do goleiro Félix até o valente ponta-esquerda Lula, o Fluzão passava por craques como o ofensivo e incisivo lateral-esquerdo Marco Antônio (também Campeão do Mundo no México), o volante Denílson, que devia ter a palavra “segurança” integrada em seu nome, tamanha proteção que dava à defesa tricolor, e o centroavante Flávio, que chegara do Corinthians com mais de 150 gols marcados e em seu primeiro Carioca disputado pelo Flu, em 1969, já havia sido o artilheiro. Ainda tinha mais cachorro grande na briga. O América contava com uma das maiores equipes de sua história. O time rubro mostrava sua força até na sala da presidência, com Giulite Coutinho no comando do clube. Dentro de campo, era Edu Coimbra que encantava as arquibancadas. O baixinho Edu tinha um futebol gigantesco, onde se encontravam lindos dribles, preciosos passes e chutes perfeitos. O Ameriquinha ainda contava com dois jogadores que fariam história após sair do clube, o ponta Tarciso e o volante Badeco. Tarciso atuaria por treze anos no Grêmio, sendo um dos principais expoentes da gloriosa fase que o clube viveu entre os anos 77 e 83. Já Badeco faria história nos cinco anos em que atuaria na Portuguesa (SP), conquistando o Paulista de 1973 junto com o Santos (o árbitro Armando Marques se equivocou na contagem da disputa dos pênaltis e, após muita confusão, o título foi dividido).

Para completar a lista dos possíveis candidatos ao título, falemos do Vasco da Gama. O clube cruz-maltino não vivia uma situação, digamos, confortável, antes do início do torneio. Talvez o único torcedor que comemorava a conquista da Copa do Mundo pelo Brasil, com uma pulga atrás da orelha fosse o vascaíno. O motivo? Desde 1958 o Vasco não vencia um Campeonato Carioca. Para acabar com o jejum, o “Gigante da Colina” se sustentou em três pilares. Neste momento difícil que vivia a equipe, os jogadores precisavam, e muito, de fé. Essa fé, essa confiança, foi encontrada no massagista Eduardo Santana, conhecido por todos como Pai Santana. Além de fazer seu papel de massagista, cuidando dos jogadores, Pai Santana era também “Conselheiro Religioso”, sempre ajudando o clube e os jogadores com suas palavras e mandingas. Outro pilar que mantinha a base do Vasco forte era o treinador Elba de Pádua Lima. Conhecido simplesmente por Tim, o técnico vascaíno sabia tudo sobre futebol e era um estrategista de primeira. Podendo contar com jogadores experientes, Tim montou um time sólido e muito eficiente. O goleiro argentino Andrada, que será para sempre lembrado por ter sofrido o milésimo gol de Pelé mesmo sendo um grande arqueiro, o lateral-direito Fidélis, que em 1966 havia conquistado o Carioca com o Bangu e participado do grupo que defendeu o Brasil na Copa do Mundo, e o portentoso líder Alcir Portela, um verdeiro ícone do Vasco, eram exemplos da experiência vascaína.

O terceiro ponto de sustentação da equipe vascaína se encontrava dentro de campo. O ponta-de-lança Silva havia retornado ao Brasil após excelente passagem pelo Racing da Argentina, onde se sagrou artilheiro do Campeonato Nacional e ídolo do clube. Silva era um homem de frente quase completo, pois a mesma facilidade que possuía para marcar gols, era um exímio cabeceador, mostrava para organizar jogadas ofensivas. Essa capacidade de comandar o time em campo lhe rendeu o apelido de “Batuta”, devido ao instrumento usado pelo maestro para reger uma orquestra, apesar de alguns dizerem que o chamavam assim por ser um cara legal, gente fina, batuta.

O campeonato seria disputado em dois turnos. No primeiro, 12 clubes se enfrentariam em jogo único, com os 8 melhores passando para o turno seguinte. No 2º turno, os oito classificados novamente se enfrentariam em partida única e, ao final dos duelos, quem somasse mais pontos totais (1º e 2º turnos) seria o campeão. No turno inicial, o equilíbrio, como era esperado, prevaleceu. Flávio não se cansava de fazer gols, Edu era um espetáculo à parte e Silva mostrava que o período na Argentina só lhe fizera bem. Ao final das 11 rodadas, o Fluminense havia se sagrado Campeão do 1º turno com 18 pontos (na época a vitória valia 2 pontos), porém América e Vasco vieram logo atrás com 17.

Com o início do 2º turno, a história foi se modificando e o equilibrio desaparecendo. Um a um os adversários foram sucumbindo à fé, à força e à categoria do Vasco. Enquanto o Fluminense tropeçava ao empatar com o Olaria e o América levava uma goleada de 4 a 0 do Flamengo, o Vasco emplacava uma sequência de 5 vitórias seguidas. Nesta sequência de vitórias, foram 13 gols marcados e apenas 3 sofridos. O título estava próximo. Na penúltima rodada do 2º turno, o adversário do cruz-maltino, que em caso de vitória levaria o troféu por antecipação, seria o Botafogo. O Fogão contava com toda a torcida tricolor, já que o Fluminense era o único time em condições matemáticas de tirar a taça do caminho de São Januário. O fato é que, com ou sem apoio da torcida do Fluminense, os botafoguenses não queriam deixar o Vasco dar a volta olímpica diante dos seus olhos. Se o Vasco quer ser campeão, que seja na última rodada, diziam os torcedores do Glorioso.

Confiantes no fim do jejum de títulos, os vascaínos foram em massa ao Maracanã no dia 17 de setembro. Eles acreditavam que o fim do sofrimento estava próximo, porém não comemoravam antes do tempo. A concentração era proporcional à confiança, e no vestiário da equipe cruz-maltina o sentimento era semelhante. Pai Santana, completamente trajado de branco, utilizava-se de velas, cachaça e sal grosso, buscando ajudar a equipe com seus “poderes”. A concentração dos jogadores no vestiário era quase palpável, e foi neste ritmo que o Vasco entrou em campo.

Com o apito inicial do juiz pôde-se ver um Vasco cauteloso, afinal o Botafogo jogava sem nenhuma preocupação com o resultado e isso deixava-o mais solto. O sistema defensivo do Vasco, porém, se comportou de maneira exemplar, inclusive o jovem goleiro Élcio, que tinha o privilégio e a responsabilidade de substituir o lendário Andrada e atuava pela primeira vez no Maracanã. Com o passar dos minutos o Vasco foi ganhando mais corpo e tomou as rédeas da partida. Foi neste período, aos 32 minutos do 1º tempo, para ser mais exato, que o craque Silva fez bela jogada na entrada da área e sofreu falta. Gilson Nunes na bola, a barreira armada, o goleiro botafoguense Ubirajara posicionado e... Golaço do Vasco! O estufar das redes fez explodir a galera cruzmaltina nas arquibancadas e Gilson Nunes no campo, pois ele era vascaíno de coração e sentia que o fim do jejum estava próximo.

O jogo foi para o intervalo com o Vasco vencendo por 1 a 0 e sua torcida cantando sem parar. Mas não se escutava ainda os gritos de “É campeão!!! É campeão!!!”, pois o placar estava apertado e o Botafogo não era um adversário qualquer. Na 2ª etapa, o técnico Tim deu mais uma prova do quanto entendia de futebol. Se um time que precisa da vitória para se sagrar campeão abre o placar, com raras exceções, ele adota a perigosa estratégia de recuar e jogar nos contra-ataques. Pois Tim não deixou sua equipe fazer isso e mandou-a continuar atacando para decidir o jogo. Foi assim que, aos 13 minutos, após mais uma jogada de Silva, o atacante Valfrido chutou para o gol e, antes de a bola sacudir o filó, a bola ainda desviou no meio do caminho, enganando o goleiro Ubirajara. Agora estava 2 a 0 Vasco e o troféu muito perto de São Januário.

Com a vantagem de dois gols no marcador, o Vasco, aí sim, decidiu tocar a bola e segurar o jogo. O tempo passando, a galera gritando e o sofrimento acabando. Ainda deu tempo de o Glorioso, com gol de Ferreti, diminuir o placar, mas a partida já estava fria o suficiente para o Botafogo tentar o empate. Ver a diferença diminuir não incomodou nem um pouco os vascaínos na arquibancada, que apenas esperavam o término da partida. Com o apito final, os gritos de “É campeão!!! É campeão!!!” foram, enfim, libertados. Foram quase 12 anos de espera por esse momento. O ídolo Silva erguido pelos torcedores que invadiram o campo e, mais tarde, após os jogadores já estarem nos vestíarios, Pai Santana acendendo velas no centro do gramado para agredecer pelo título são imagens que ficarão para sempre na memória de quem se sentiu mais livre após esse dia 17 de setembro.

Vasco 2 x 0 Botafogo

17 de setembro de 1970

Maracanã – Público: 59110 pagantes

Gols: 1º tempo: Gilson Nunes (Vas) aos 32´; Moisés (Bot), contra, aos 13´.

Vasco: Elcio; Fidélis, Moacir, Renê e Eberval; Alcir e Buglê; Luis Carlos (Ademir), Vafrido, Silva e Gilson Nunes

Botafogo: Ubirajara Motta; Moreira, Moisés, Leônidas e Waltencir (Botinha); Nei Conceição e Careca; Zequinha, Nílson Dias (Ferretti), Jairzinho e Paulo Cézar

3 comentários:

  1. Eu me lembro de Cau, Moreira Zé Carlos. Leonidas e Waltensir, Carlos Auberto, Careca, Rogerio, Roberto, Jairzinho, Paulo Cezar cajú

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  2. Vivi o bom futebol brasileiro, vi esse time do Botafogo, do Cruzeiro e do Santos. O resto era resto, mesmo ganhando títulos.

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  3. O Botafogo era um gigante do futebol naquela época.
    Quantas saudades do Fogão e do futebol carioca.

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