terça-feira, 23 de outubro de 2012

É PROIBIDO VENCER


“Se vocês querem conhecer um povo, examinem o seu comportamento na vitória e na derrota...” – Affonso Romano de Sant’anna

Uma das maiores peculiaridades do futebol é que, para muitos, torcer contra um rival é tão ou mais saboroso do que comemorar as glórias do próprio clube de coração. Seria possível negar a genuína alegria de milhões de flamenguistas quando o Vasco perdeu a final do Mundial Interclubes de 1998 para o Real Madrid? Ou a de todos os não rubro-negros diante das seguidas derrotas com requintes de crueldade que o clube da Gávea sofreu na Libertadores? Não, não seria possível. O torcer contra atingiu um nível tal que os religiosos pedem com toda a fé e dedicação para uma força superior colocar os maiores pedregulhos no caminho do outro. E não se sentem pecando, pois o futebol permite isso.

No entanto, em tempos recentes, um novo modo de torcer contra ganhou força. Não basta mais criar novas torcidas como a Fla-Madrid, vestir máscaras do Cabañas ou comprar a camisa da LDU. A moda é desmerecer e negar ao máximo os méritos do rival. E os últimos dois Brasileiros são o maior exemplo. O Corinthians foi o time que mais vitórias alcançou no campeonato de 2011, e os rivais, sem provas, gritam que o Andrés Sanchez manipulou tudo. Tite organizou uma defesa capaz de sofrer uma média de apenas 1,02 gol por jogo, e os adversários sem nem pensar uma única vez, se esgoelam: “Mutreta de bastidores!”

Neste ano, o Fluminense realiza a maior campanha da história dos pontos corridos, perdeu apenas três de 32 jogos, conta com o melhor goleiro, a defesa menos vazada e o artilheiro da competição. E não são poucos os que insistem que é por causa de manipulação de arbitragem. A criatividade é tanta para menosprezar a histórica caminhada de Cavalieri, Fred e companhia que chegaram a inventar uma tal de CBFlu, como se o tricolor estivesse cheio de esquemas com a Confederação Brasileira de Futebol.

Aí, no jogo mais emocionante, empolgante, fervoroso do ano, a torcida do Atlético Mineiro, que não vê seu time jogar uma bola tão redonda há mais de uma década – para não dizer desde Toninho Cerezo e Reinaldo – prefere fazer um mosaico da tal da CBFlu do que prestigiar os ídolos.

De um lado, cartolas e políticos acabam com a geral do Maracanã, impedem a entrada de bandeiras nos estádios e colocam os preços dos ingressos em três digitos. De outro, as comissões de arbitragem começam um processo de padronização das comemorações dos gols, algo do tipo: só vale imitar o boneco da rede de televisão mais poderosa do país. Para completar, os próprios torcedores preenchem, cada dia mais, o ato de torcer com pensamentos negativos, menosprezo, desprezo.

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