Os olhos brasileiros são induzidos a buscar sempre a arte no
futebol. Um drible desconcertante, uma tabela no instinto, um toque de classe,
uma matada que dá vida à bola e, claro, gols em profusão. Para estes olhos
sedentos por poesia, a Copa do Mundo tem sido o maior dos colírios. Mas não
apenas para eles. Existem também os olhos que anseiam por jogadas tão viris quanto
leais, por duelos táticos que dão um quê de xadrez ao jogo, por almas deixadas
em campo. Também para estes olhos desejosos de intensidade, o Mundial tem sido
capaz de curar qualquer miopia.
Que roteiro o de Argentina versus Irã! Os alvicelestes avançavam pela esquerda com Rojo e Di María
e nada. Os zagueiros e atacantes subiam para tentar na bola parada, e nada. Messi
tentava e não conseguia se desvencilhar do mar vermelho. Os iranianos se
postavam tão bem atrás da linha da bola que gerava dúvidas se realmente eram
apenas onze em campo. Aí, de repente, quando tudo apontava para mais Argentina
em busca de saídas, ou melhor, de entradas, o Irã se enche de valentia, coloca
de lado o direito do mais fraco de se fechar contra o time do Messi, e
transforma o arqueiro argentino Romero no melhor homem em campo. Uma postura
iraniana que ninguém esperava. E quando não se esperava mais nada da Argentina,
Messi, de quem mais se espera, assumiu o protagonismo e decretou a vitória azul
e branca.
Mal havíamos tido tempo de aliviar a cabeça da intensidade proporcionada
por argentinos e iranianos no Mineirão e alemães e ganeses já botavam fogo no
Castelão. A necessidade da vitória tirou de Gana qualquer temor em atacar,
postura que desgovernou um pouco os alemães. O fogo do primeiro tempo virou
incêndio no segundo. Gol da Alemanha. Gol de Gana. Gol de Gana. Gol da
Alemanha. Este de Klose, agora maior artilheiro da história da Copa do Mundo
com 15 gols, ao lado de Ronaldo. A chuva de bolas nas redes durou 25 minutos,
mas os 20 restantes foram tão espetaculares quanto, mesmo sem alterações no
placar. Impossível saber quem desejava mais a vitória, em outro jogo de fase de
grupos com cara de mata-mata. Que vida tem essa tal de Copa do Mundo.
----------------------------------------
HISTÓRIA DA COPA DO MUNDO
O inglês Peter Shilton e o francês Fabian Barthez são os
goleiros que mais partidas disputaram sem sofrer gols em Mundiais: 10 jogos
intransponíveis. Já o italiano Walter Zenga passou 517 minutos seguidos sem ser
vazado na Copa do Mundo de 1990, o recorde quando o assunto é tempo consecutivo
sem buscar a bola no fundo das redes.
Nenhum comentário:
Postar um comentário