sábado, 15 de junho de 2013

COPA DAS CONFEDERAÇÕES 2013 - ALIENANTE?

Brasil 3 x 0 Japão – Estádio Mané Garrincha, Brasília (DF)

Sem ser espetacular, o Brasil jogou bem, foi às redes com rara beleza – que golaço, Neymar! – e deu a impressão de que a nova “Família Scolari” deu um passo a mais na sua formação. Mas diante das sonoras vaias direcionadas pela torcida a Presidente Dilma Roussef – tão sonoras que o Presidente da FIFA, Joseph Blatter, chegou até a pedir respeito e “jogo limpo” – as análises técnicas, táticas, físicas e psicológicas do que ocorreu nos 90 minutos perderam espaço.

Uma vertente conhecida pelo termo reducionista classifica o futebol como somente um agente alienante. Segundo ela, basta que a pelota estufe o barbante para que o torcedor esqueça todas as mazelas que assolam o país e os governantes, que teriam controle sobre a “ferramenta de dominação” chamada futebol, ganhem carta-branca para dar sequência a uma estrutura social hierarquizada onde eles, os governantes, estão sempre próximos ao topo. O estrondoso apupo que ecoou pelo Estádio Mané Garrincha e acanhou Dilma a ponto de a fazer querer se livrar do microfone o mais rápido possível durante o discurso de abertura, mostra que reduzir o futebol somente a “ópio do povo” é uma atitude que precisa ser refletida.

Roberto DaMatta, uma palavra que merece ser ouvida quando o assunto é o papel social do futebol, clareou da maneira que lhe é peculiar a relação entre Seleção Brasileira e alienação. Há exatos 15 anos, o antropólogo se perguntava e se respondia: “Alienar como, se a imensa paixão é pelo Brasil? Como alienar, se a densidade do elo torcedor-Brasil se faz justamente pelo fato de o Brasil ser o que é: um país que só faz manchete internacional por suas vergonhas? [...] Fosse o país uma Suíça em tamanho grande, a paixão seria por outras coisas. Mas é o fato de o Brasil ser o que é e ter o que tem tido que desperta tudo isso”.


Minutos antes do apito inicial no Mané Garrincha, a torcida estava a imaginar o que viria pela frente. “O que estes japoneses podem aprontar?”, se perguntavam uns. “Eles já estão garantidos na Copa do Mundo”, lembravam outros. “Estreia é sempre perigoso”, alertavam. Isto não é alienação, é viver o momento. Como se vive um momento íntimo de casal, um filme no cinema ou um livro na varanda de casa. Aí, surge no telão, de microfone em punho, a Presidente do Brasil. Naquele momento, para a maioria dos presentes, ela representava as condições precárias de saúde, educação e transporte, o aumento no preço dos alimentos, a falta de segurança... Livres de um suposto ópio, os torcedores soltaram as vaias. Justamente no estádio que custou mais de 1,5 bilhão aos cofres públicos.

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