sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

GRANDES CLÁSSICOS - FLUMINENSE X MADUREIRA 1942

Olá amigos do FUTEBOLA!

Neste domingo, pela última rodada da fase de grupos da Taça Guanabara, Fluminense e Madureira se enfrentarão em duelo pelo Grupo B. O Flu está na briga contra o Botafogo pela liderança do grupo, enquanto o Madureira quer se recuperar de um início ruim e sabe que, para isso, nada melhor do que vencer o atual Campeão Brasileiro. Nas vésperas deste duelo, o FUTEBOLA relembra como foi o mais marcante jogo entre Fluminense e Madureira da história dos Cariocas.

No início da década de 40, o futebol brasileiro estava vivendo uma fase de ouro. Era difícil escolher um nome para citar como melhor jogador do país. Seria o “Diamante Negro” Leônidas da Silva? Seria o “Divino Mestre” Domingos da Guia? Seria Romeu Peliciari, o “homem que passava meses sem errar um passe”? Missão impossível escolher um só. E mais... Devido à Copa do Mundo de 1938, realizada na França, na qual terminamos na 3ª colocação e apresentamos um jogo que encantou os europeus, o futebol brasileiro começava também, nesta década de 40, a se consolidar como uma grande potência do futebol mundial.

Se atualmente estamos acostumados com nossas estrelas atuando fora do país e com os Campeonatos Estaduais cada vez menos valorizados, nos anos 40 ocorria justamente o inverso. Era a época em que nossos ídolos “eram nossos” e os Estaduais estavam com a bola toda, ocupando boa parte do nosso calendário. E, como no Rio de Janeiro não poderia ser diferente, este era o panorama do futebol carioca em 1942, ano em que, além da perda de Leônidas da Silva, que trocou o Flamengo pelo São Paulo, do surgimento da primeira torcida organizada, a Charanga do Flamengo, e da consolidação de Heleno de Freitas como um dos maiores jogadores do país, deixou para a história um duelo entre Fluminense e Madureira.

O Campeonato Carioca de 1942 foi disputado por 10 clubes em três turnos, com 9 jogos em cada um deles, e o Campeão seria aquele que totalizasse maior número de pontos ao final. Resumindo, um torneio de pontos-corridos. Maior favorito à conquista do caneco, o Fluminense começou a competição voando baixo, conquistando 8 vitórias e um empate no primeiro turno. E não era para menos, afinal o Tricolor era uma verdadeira Seleção que estava buscando o Tricampeonato, já que havia levantado o troféu em 1940 e 1941. Diz um ditado, com o qual eu concordo plenamente, que “todo grande time começa por um grande goleiro”. Assim sendo, o Fluminense começava da melhor maneira possível, pois quem tinha a missão de defender a meta tricolor era Batatais, também conhecido como “o arqueiro das mil mãos”. Contudo, a situação dos adversários do Fluzão era pior ainda, pois para ter a chance de encarar o Batatais, o ataque rival deveria passar por uma dupla de zaga que era uma verdadeira muralha. Não importava quais os dois o treinador uruguaio Ondino Vieira escolhesse dentre o seguro Norival, o “Pé de Ferro” Machado e o argentino Renganeschi, a equipe estaria em excelentes mãos, ou melhor, em excelentes pés. Se antes de chegar ao Fluminense, Machado havia se destacado junto com Batatais na Portuguesa e na Seleção Paulista, o raçudo Renganeschi fez o sentido inverso, mostrando seu grande futebol no Flu para, mais tarde, escrever seu nome em um clube paulista. Na decisão do Paulistão de 1946, disputada entre São Paulo e Palmeiras, Renganeschi estava em campo pelo Tricolor quando sofreu uma contusão e, para diminuir o impacto de sua perda, o pediram para ficar fazendo número na ponta esquerda. Resultado: após cruzamento de Bauer para a área alviverde, o goleiro Oberdan não conseguiu aliviar o perigo e Renganeschi empurrou a pelota pro fundo do barbante, marcando o gol que deu o título ao São Paulo.

E não era só o sistema defensivo tricolor que contava com diversos craques, afinal eram poucos os clubes brasileiros que possuiam uma linha-média formado por Bioró, Afonsinho e o raçudo argentino Spinelli, jogadores que além de baterem um bolão, estavam acostumados a conquistar títulos pelo Flu. Já a comissão de frente era de assustar qualquer adversário. Tudo bem que as saídas para o futebol paulista do meia Romeu Peliciari e do ponta-esquerda Hércules, que segundo o cronista esportivo Geraldo Romualdo da Silva possuía “um canhão no pé esquerdo e um míssil no direito”, enfraqueceram o Flu, porém a linha de ataque ainda era formada por nomes valorosos e valiosos. A começar por Adolpho Milman ou, como todos o conheciam, Russo, que nasceu no distante Afeganistão e veio a se tornar um dos maiores artilheiros do Fluzão com 150 gols marcados. Se Russo era o principal responsável por finalizar os ataques tricolores, Tim era quem tinha a missão de arquitetá-los. Para expor a capacidade de Tim em organizar jogadas ofensivas, nada melhor do que o seu apelido e as palavras de um jornal francês. Pelas atuações monumentais com a Seleção Brasileira no Sul-Americano de 1937, quando ainda vestia a camisa da Portuguesa Santista, Tim recebeu dos anfitriões argentinos o apelido de “El Peón”. O motivo? Pois assim como na Argentina “el peón” era aquele quem guiava milhares de cabeças de gado pelos pampas, Tim era quem guiava a equipe brasileira dentro de campo. Outro indicador da enorme qualidade de Tim ocorreu durante a Copa do Mundo de 1938. Surpreso por ver um craque do quilate de Tim como reserva, o jornal “Paris Soir” escreveu: “Tim é o mais perfeito atacante que jamais pisou os gramados da Europa”.

Outro jogador que escreveu seu nome no futebol brasileiro e também fazia parte deste Fluminense de 1942 foi Carreiro, o “Rui Barbosa do futebol”. Jogador de porte físico frágil – chegou a ser dado como incapaz para a prática do futebol – Carreiro tinha uma cabeça desproporcional ao corpo magro. Como forma de superar a desvantagem física, Carreiro se utilizava de truques dos mais diversos dentro das quatro-linhas, como por exemplo imitar o assobio do juiz, o que fazia com que o defensor parasse de correr, acreditando que Carreiro estivesse impedido, enquanto o atacante entrava livre, leve e solto na área adversária. Outra malandragem utilizada por Carreiro era, na hora do escanteio, prender o uniforme do goleiro em um dos ganchos que ligava a rede na trave, o que dificultava a vida do arqueiro na hora de sair do gol. Realmente este Carreiro foi um personagem único. Completanto a lista de foras-de-série do ataque do Fluzão estava o veloz Pedro Amorim, ponta-direita presente em dois dos maiores momentos já vividos pelo Fluminense: a final do Carioca de 1941, o famoso “Fla-Flu da Lagoa”, e a decisão do Supercampeonato Carioca de 1946 contra o Botafogo, ambas as partidas vencida pelo Flu.

E o Madureira? Quem eram os craques do Tricolor Suburbano neste inesquecível 1942 para o clube? Antes de falarmos dos craques individualmente, vale ressaltar que, como equipe, o Madureira vinha se apresentando como a quinta maior força do futebol carioca neste início de década de 40, atrás somente dos hoje chamados quatro grandes. Quem comprova esta boa fase vivida pelo Madureira são os próprios resultados dos Cariocas de 1940 e 1941, quando o clube terminou, ambos, na 5ª colocação. Um outro exemplo da força deste Madureira foi dada em 15 de junho de 1941, quando o Tricolor Suburbano bateu o Fluminense por 4 x 2 no jogo que marcou a inauguração do Estádio Aniceto Moscoso e estabeleceu o recorde de público do mesmo, com a presença de 10.762 torcedores.

No Cariocão de 1942 o Madureira seguia os mesmos passos das campanhas anteriores, alcançando resultados portentosos no 1º turno, como as goleadas de 5 x 1 contra o Vasco e de 9 x 2 sobre o Bangu, além da incrível marca de 35 gols marcados em 9 jogos, totalizando uma média de quase 4 gols por partida. O responsável principal por esta verdadeira chuva de gols era um trio que quem viu em campo não mede palavras para elogiar: Lelé, Isaías e Jair Rosa Pinto. Lelé era dono de um chute que, para o jornalista Mario Filho, “talvez não tenha havido outro igual”. O gol que melhor espelha o canhão que Lelé possuía nos pés foi marcado em um confronto entre Brasil e Uruguai, quando em uma falta do meio da rua o goleiro uruguaio Pereyra Natero decidiu não pedir barreira e – coitado – nem viu por onde entrou o tijolo mandado por Lelé. O arremate fora tão sensacionalmente forte que bastava a Seleção Brasileira ter um tiro de meta para o torcedor encher os pulmões e gritar: “Lelé! Lelé! Lelé!”.

Isaías era uma verdadeira máquina de fazer gols. Nos três primeiros Cariocas da década de 40 ele balançou as redes nada menos do que 68 vezes. Era um jogador veloz, habilidoso e que tinha em suas arrancadas, conhecidas na época como sprinter, uma arma poderosíssima. Completanto o trio, estava Jair Rosa Pinto, que, diga-se de passagem, foi, dos três, aquele que alcançou maior reconhecimento após a saída do Madureira, tendo disputado a Copa do Mundo de 1950 e conquistado títulos por Vasco, Santos e Palmeiras. Jair era um verdadeiro paradoxo. Quem olhava para o seu corpo franzino, suas canelas finas e seus pés de boneco poderiam até imaginar seus longos e precisos lançamentos, mas jamais a potência que tinham os seus chutes de canhota. O destaque alcançado pelos “três patetas”, como ficou conhecido o trio, foi tão grande que o Vasco foi buscá-los em 1943, quando o treinador Ondino Vieira, o mesmo que em 1942 comandava o Fluminense, iniciou a montagem do esquadrão que entraria para a história como “Expresso da Vitória”.

No dia 2 de agosto de 1942, Fluminense e Madureira se enfrentaram nas Laranjeiras em jogo válido pela 8ª rodada do 2º turno. Como foi citado anteriormente, o Fluzão vinha à campo brigando por pontos preciosos para quem sonhava com o Tricampeonato, enquanto o Madureira buscava, novamente, terminar a competição na metade de cima da tabela. Além de ter a vantagem de estar jogando em seus domínios, o Flu também contava com o fato de ter goleado o Madureira por 4 x 1 no 1º turno. De acordo com um jornal da época, seria “um treino leve para o Fluminense”. Porém, bastou o apito inicial para que o Fluminense recebesse um troco que não estava esperando.

Os ventos começaram a soprar a favor do Madureira cedo, com apenas um minutinho de jogo, quando o principal arquiteto das jogadas ofensivas do Flu, o meia Tim, sofreu uma fratura no perônio. Foi o início de um pesadelo para o Fluminense. Contando com atuações mais do que inspiradas de Isaías e Murilinho, o Tricolor Suburbano bateu um bolão e engoliu o adversário, devolvendo a goleada de 4 x 1 sofrida no 1º turno, com dois gols do Murilinho e dois do Isaías, tendo Magnones descontando para o Flu. Na realidade, o Madureira devolveu o placar do 1º turno com juros e correção monetária, pois um dos gols marcados pelo Isaías não foi um gol comum, mas um daqueles que entrou para a história do futebol brasileiro. Em uma de suas sensacionais e características arrancadas, Isaías foi deixando, um a um, seus marcadores para trás, até driblar o goleiro Gijo e, sem um pingo de humildade, finalizar de letra para o fundo do barbante. A nobre torcida do Fluminense foi a loucura com o que consideraram um deboche sem tamanho do Isaías e, segundo o folclórico massagista Mário Américo, na época profissional do Madureira, o estádio se transformou num tumulto só. Apesar de ainda não ter encontrado tal afirmação entre livros, muitos consideram que este gol deu origem ao termo “gol de letra”, que teria sido inventado pelo jornalista Mario Filho para descrever o lance no qual o Isaías fez um X com as pernas. Mais de 60 anos após ter marcado este gol que deixou o torcedor do Fluminense com as veias do pescoço pulando, de tanta raiva, Isaías voltaria a ser lembrado pela mídia esportiva nacional. O motivo? Na decisão do Campeonato Carioca de 2003, o segundo gol do Vasco sobre o Fluminense, que deu ao clube a vitória por 2 x 1 e o título estadual, surgiu após um cruzamento de letra do Léo Lima, bisneto de Isaías, que terminou com o atacante Souza colocando a bola no fundo do gol.

Tudo bem que em um Campeonato de pontos corridos, seria um equívoco julgar toda uma campanha por um jogo só. No entanto, esta goleada de 4 x 1 do Madureira sobre o Fluminense, com direito à gol histórico do Isaías, pode ser usada perfeitamente como símbolo de um Carioca no qual o Fluminense não conseguiu conquistar o sonhado Tricampeonato, deixando o caneco parar nas mãos do rival Flamengo, e o Madureira terminou na destacada quarta colocação, à frente até do Vasco da Gama.

Fluminense 1 x 4 Madureira
2 de agosto de 1942
Laranjeiras – Público: 3.385 torcedores
Gols: Isaías (2) e Murilinho (2), para o Madureira, e Magnones para o Fluminense
Fluminense: Gijo, Norival e Renganeschi; Ruy, Spinelli e Afonsinho; Maracaí, Pedro Nunes, Magnones, Tim e Carreiro.
Madureira: Herrera, Jaú e Rubem; Otacilio, Spina e Esteves; Jorge, Godofredo, Isaias, Jair e Murilinho.

Referências
sitedalusa.com
flumania.com.br
O Negro no Futebol Brasileiro
Memórias de Mário Américo, o Massagista dos Reis

4 comentários:

  1. Olá Diano, td bem???

    Obrigada pelo e-mail, seu blog também é bem bacana...e bom que vou poder acompanhar as novas do futebol do Rio...

    Já adicionei seu blog na coluna dos nossos parceiros...

    Beijo

    ResponderExcluir
  2. O seu link já está adicionado no nosso blog. Obrigado pelo interesse e parabéns também ao seu blog. Você cita fatos históricos de que nunca soubemos, como a história divertida desse jogador chamado Carreiro.

    Equipe Blog Gol de Mão
    www.bloggoldemao.blogspot.com

    ResponderExcluir
  3. Olá, Diano.

    Reecebi seu e-mail. Muito obrigado pelos elogios e pela visita ao meu blog. Aliás, gostei muito do seu blog, posts bem escritos e com um conteúdo excelente. Parabéns!

    Aceito sim a parceira. Já estou te seguindo e coloquei seu link na minha página.

    Grande Abraço!

    www.blogfutebolnaveia.blogspot.com

    ResponderExcluir
  4. Agradeço a todos pelos elogios e pelas parcerias. Realmente estou muito feliz em ser parceiro de todos.

    Um grande abraço!

    ResponderExcluir