quinta-feira, 16 de agosto de 2012

BATE-PAPO COM O CRAQUE-CIGANO ELÓI


Campeão do Mundo e Europeu, Bola de Prata em 1981, época onde nossos maiores craques ainda jogavam por aqui, integrante de times inesquecíveis do América e do Ceará, passagens por gigantes como Botafogo, Fluminense, Vasco, Internacional, Santos. Este é o craque Elói, que nas linhas abaixo conta sua trajetória no futebol para os amigos leitores do FUTEBOLA.  

1) Primeiramente, você poderia contar como foi sua passagem pelas categorias de base, até estrear no profissional do Juventus-SP? Participou de muitos testes em outros times até chegar ao "Moleque Travesso"? Quando teve a certeza de que seria jogador de futebol?

Eu comecei a jogar futebol em Andradina (SP). Na época, não tinha jogos ao vivo na TV e era quase impossível acompanhar um ídolo. Tinha o Rivelino como referência, pois meu pai era corintiano, e na Copa do Mundo de 70, a primeira ao vivo, me apaixonei definitivamente pelo futebol e a sonhar em jogar num time grande do Brasil. Andradina disputava a 3ª Divisão de São Paulo, mas por um amigo, Wilson Periquito, que jogava no Araçatuba, fui indicado para jogar no AEA. Aí, quando o Juventus foi fazer uma partida amistosa contra o AEA, eu joguei muito bem e o treinador Milton Buzzeto me levou para o “Moleque Travesso”. Fui ter a certeza de que seria um jogador conhecido quando comecei a sonhar com situações na carreira como: jogar no Maracanã, receber um prêmio, o Motorádio, que era dado na década de 70 para o melhor jogador em campo, receber a Bola de Prata. E devido a minha aplicação nos treinamentos e com a graça de Deus, consegui uma carreira que para mim foi quase perfeita.

2) Depois de um tempinho na Portuguesa, você chegou ao Internacional de Limeira e, no Brasileiro de 1981, apesar de sua equipe não ter realizado um grande Campeonato, você conquistou o prêmio Bola de Prata da Revista Placar. Quais foram os principais motivos para você ter se destacado tanto neste Brasileirão?

O Inter de Limeira tinha um bom time e contava com um dos melhores meias com quem já joguei, chamado Toinzinho (ex-jogador do Santos). Como eu morava do lado do campo ficava praticando mesmo depois dos treinos acabarem, e este foi o grande segredo.

3) Em 1982, ao lado de grandes nomes como o zagueiro Duílio e o centroavante Luisinho Guerreiro, você conquistou a Torneio dos Campeões e a Taça Rio com o América. Como foi fazer parte de um dos maiores times da história do Ameriquinha?

Era o capitão do Santos e gozava de prestígio no clube e, por isso, me acharam louco quando optei pelo América. Porém, tinha um sonho de jogar no Maracanã e esta era a primeira oportunidade do sonho se realizar. Por sorte minha foi o time mais família que joguei na vida, jogadores sempre juntos com as esposas, com a família, e isso ajudou a ser uma equipe muito unida. Ter sido Campeão em dois campeonatos pelo América foi muito gratificante, pois ficamos na história do clube, além de eu ter sido o capitão e o artilheiro nas competições.

4) O bom futebol do América continuou no Vasco da Gama, onde você atuou por apenas seis meses. Tempo suficiente para realizar um ótimo Brasileirão de 1983 e chamar a atenção do Genoa (ITA). Como foi o curto período no Vasco, ao lado do Roberto Dinamite, e o que faltou para você conseguir desenvolver seu grande futebol na Itália?

Foi um grande orgulho ter jogado no Vasco com um ídolo como o Roberto Dinamite. O presidente, Antônio Soares Calçada, não queria me vender para Itália, mas me falou que seria injusto me segurar, já que os valores, na época, eram insuperáveis para o Brasil. Quando fui para a Itália, iria para o Milan, pois havia feito um torneio espetacular com o Santos, em Milão, contra o próprio Milan, Internazionale, Peñarol... Fiz um gol antológico que deixou o estádio de pé, aplaudindo. Porém, veio uma pedida muito alta do Santos e acabei não vendido na janela seguinte. Aí veio o Genoa, que eu não sabia que era uma equipe que lutava para não cair. Por isso a minha dificuldade de jogar num time sem objetivo nenhum, com jogadores velhos e desinteressados, e o pouco sucesso. Fiz muitos gols por lá, mas, infelizmente, o objetivo não foi alcançado.

5) Em Portugal, com a camisa do Porto, apesar de não ter sido titular absoluto, você conquistou os títulos mais renomados de sua carreira: a Copa dos Campeões da Europa e o Mundial Interclubes de 1987. O que tem para dizer sobre tão importantes conquistas?

O Porto fez um time igual ao Barcelona atual, com a contratação de dois grandes jogadores para cada posição. Foi o melhor time que fiz parte dos 20 clubes que eu tive o prazer de jogar. Era indiscutivelmente superior a todos na época. Acredito que jogamos 65 jogos no ano e perdemos quatro ou cinco. Quanto a não ser titular em todos os jogos, isto é natural na Europa. No Barcelona, por exemplo, três ou quatro jogam sempre e o resto faz um rodízio, coisa que brasileiros não gostam. Brasileiro é fominha e quer jogar todas. Voltei por isso e me arrependi depois, mas valeu.

6) Antes de ir para Portugal, em 1985, você vestiu a camisa do Botafogo. Depois que voltou, já em 1992, atuou pelo Fluminense. Como foram as passagens por estes dois gigantes cariocas?

Por Botafogo e Fluminense tenho lembranças de grandes clássicos no Maracanã e belos gols por ambas as equipes. E jogar no Fluminense me fez acreditar que nunca é tarde para sonhar, pois joguei no Tricolor Carioca com 38 anos.

7) Com quase 40 anos, em 1994, você esteve em campo em todas as partidas da grande campanha vice-campeã do Ceará na Copa do Brasil, onde o "Vovô" eliminou o Palmeiras e o Internacional e vendeu caro a derrota na decisão para o Grêmio. Conte um pouquinho deste inesquecível momento vivido no Ceará e qual o segredo para jogar em alto nível até os 40 anos.

No Ceará vivi uma experiência muito boa, pois antes eu tinha sido artilheiro cearense jogando pelo Fortaleza, com gols espetaculares no Castelão. Pelo Ceará, só não fomos Campeões da Copa do Brasil porque a diretoria era muito amadora e não quis me ouvir. Antes do primeiro jogo decisivo contra o Grêmio, no Castelão, uma quarta-feira, jogaríamos contra o Fortaleza no domingo. Era um jogo importante para o Fortaleza, mas não para nós, e pedi para eles deixarem o time descansar para enfrentar o Grêmio. Resultado: o jogo contra o Fortaleza foi duríssimo, teve quatro expulsões, o Ceará ficou muito desgastado e só conseguiu um empate por 0 a 0 contra o Grêmio, em casa.

8)  Por último, se pudesse escolher um ano como o melhor de sua carreira, qual seria? E por qual motivo?

Na minha vida profissional e amadora no futebol seria injusto escolher um ano de destaque. Todos os meus anos de carreira foram de muita alegria e prazer. Agradeço a Deus por todos os anos da minha vida como jogador de futebol.

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