quarta-feira, 28 de novembro de 2012

GUARDIOLA NA SELEÇÃO BRASILEIRA X PENSAMENTO RETRÓGRADO

A escolha de Pep Guardiola para comandar a Seleção Brasileira no Mundial em que será mandante, assim como a de Abel Braga, Felipão, Muricy Ramalho, Paulo Autuori, Tite ou Vanderlei Luxemburgo, tem suas vantagens e desvantagens. Porém, encarar a nacionalidade de Guardiola como um contra é voltar ao lado mais segregador dos primórdios do futebol.

Quando o esporte bretão ainda engatinhava em terras tupiniquins, existiam clubes como o Rio Cricket e o São Paulo Athletic Club, que eram verdadeiras colônias inglesas. O Rio Cricket, por exemplo, não contou com sequer um brasileiro desde sua fundação até sua extinção. Bradar que Guardiola não pode treinar a Seleção Brasileira porque é espanhol – ou catalão, está cada dia mais difícil saber – é um golpe em tudo o que o futebol brasileiro caminhou até se tornar um esporte de todos e para todos. E uma forma agressiva de ignorar o que nomes como o uruguaio Ondino Viera, o húngaro Bella Gutman, o argentino Filpo Nuñez e outros grandes treinadores fizeram pela consolidação da forma brasileira de jogar futebol.

Qual seria a coerência em idolatrar Carlitos Tévez, Petkovic e Darío Conca, só para citar craques que recentemente foram proclamados os melhores jogadores do nosso principal torneio nacional, e, por outro lado, não aceitar que um estrangeiro treine a Amarelinha? Ainda mais se lembrarmos que este estrangeiro foi um dos principais pilares de um esquadrão que jogou, e ainda joga, um futebol que encanta grande parte da torcida brasileira. Encanta e massageia as suas melhores lembranças.

O pior da rejeição a um treinador estrangeiro é constatar que uma já longínqua – vivemos uma era onde dois anos é uma eternidade – entrevista do Andrade, ídolo e ex-treinador do Flamengo, pode ser consistente. Em dezembro de 2010, Andrade, Campeão Brasileiro um ano antes, com todos os méritos de quem foi essencial para a conquista, buscava nas suas cor e raça a explicação para estar desempregado desde abril. Negar Guardiola por suas origens é fortalecer a tese de Andrade, pois xenofobia e preconceito racial caminham lado a lado.

É claro que as cabeças que comandam o nosso futebol – infelizmente estas não nos passam muita confiança e segurança – devem colocar na mesa todas as possibilidades da contratação de Guardiola. Um vitorioso nato que possui experiências apenas em instruir um mesmo grupo. Um dos mentores de um estilo que abalou as estruturas táticas atuais, mas que não teria tempo hábil para o implantar numa equipe que se encontra apenas algumas horas por mês. Um sedento por treinar o maior símbolo do futebol mundial sem nunca ter visto in loco uma partida do Campeonato Brasileiro.

Não são poucas as análises para serem levadas em consideração antes de incluir Guardiola em um dos momentos mais importantes da história da Seleção Brasileira. Sua nacionalidade, porém, não é e nem pode ser uma destas.

Um comentário:

  1. Fizeste uma bela linha cronológica para sustentar a tese. Assino embaixo! A escolha de Felipão é lamentável sob todos os aspectos. Pra não ser repetitivo e falar em xenofobia, orgulho e coisas do gênero, penso "apenas" nos aspectos técnico e de marketing.

    A CBF perdeu oportunidade, talvez única, de sacudir o futebol nacional e a própria Seleção. Mas como brasileiro tem memória curta - tem memória? - se o fracasso vier, o mesmo que aplaude a entrada de Scolari bradará pela sua saída. Por aqui AINDA é assim. Até quando?

    Felipão = Dunga + Mano. Entenda no blog: http://www.futebronca.com.br/2012/11/b734-oportunidade-perdida.html

    Saudações!!!

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