quarta-feira, 15 de outubro de 2014

CONTRA-ATACAR NÃO É PECADO


 
Além de dar mais corpo à nova caminhada do Dunga no comando da Seleção, os triunfos contra Argentina e Japão também serviram para enfraquecer uma crença que ganhou muitos adeptos nos últimos anos: a de que o futebol bem jogado é somente aquele que prioriza a posse de bola.
 
Os espetáculos do nem tão antigo Barcelona de Guardiola, os anos de domínio da Espanha no Planeta Bola e a chinelada alemã que sofremos no último Mundial fizeram, ou melhor, fazem com que muitos classifiquem qualquer estratégia que não seja a de valorização da posse de bola como uma forma de anti-futebol. Para estes, priorizar no contra-ataque é um pecado mais grave do que beber cachaça no cálice de Cristo. Pois as quase duas dezenas de lances incisivos e imprevisíveis que a Seleção criou diante de Argentina e Japão mostram que não é bem assim, que é possível ser refinado sem ter a bola por muito tempo nos pés.
 
Nomes como Diego Tardelli, Willian, Oscar, Kaká, Robinho e, principalmente, Neymar, o melhor jogador de seleção do mundo, são tão imprevisíveis tática e tecnicamente que não precisam de muito tempo para encontrar espaços. Espaços que surgem ainda mais facilmente quando a opção por contra-atacar encaixa, como ocorreu após a primeira meia hora contra a Argentina e em todo o embate diante do Japão. Com um repertório que inclui alternâncias de posições, toques curtos, dribles paranormais e capacidade de construir tramas requintadas e letais em segundos, a Seleção pode colocar a valorização da posse de bola como algo secundário. 
 
Vejam bem, amigos, disse secundário, e não descartável, pois quando o adversário não permitir espaços para o contra-golpe ou quando as imprevisibilidades táticas e técnicas não encaixarem, uma Seleção da magnitude da brasileira tem a obrigação de ter no seu repertório a capacidade de trocar de passes de pé em pé em pé em pé em pé até que estes espaços apareçam. Assim como saber contra-atacar deve fazer parte do cardápio de um grande time que priorize a posse de bola, saber trocar passes é fundamental para um grande time que aposte mais nos contra-golpes.

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