sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Grandes Clássicos - Vasco x Fluminense 1994

Grandes Clássicos - Vasco x Fluminense 1994

Sábado de carnaval será dia de um grande clássico do futebol carioca: Fluminense x Vasco. Aproveitando a proximidade com este jogaço, a coluna Grandes Clássicos irá relembrar como foi a última rodada do quadrangular final do Campeonato Carioca de 1994, quando estes dois gigantes do nosso futebol se enfrentaram em busca do caneco.

O Cariocão de 94 foi daqueles que já iniciou com roteiro pronto. Foi o típico torneio do “todos contra um”, pois, após conquistar os Estaduais de 92 e 93, o Vasco era o time a ser batido na competição que se iniciava. Sempre quando uma equipe está em busca do Tri, a história mostra que os adversários se esforçam ao máximo para impedi-la. Já consciente das pedras que teria pelo caminho, o Gigante da Colina resolveu se reforçar para buscar seu primeiro Tri-Campeonato Carioca na história. E nem de longe eram reforços para compor o elenco. Para o setor defensivo, o Cruzmaltino contratou um zagueiro cuja a solidez que mostrava em campo era comprovada por seu próprio nome: Ricardo Rocha. Já experiente, com título brasileiro pelo São Paulo, passagem pelo Real Madrid e uma Copa do Mundo disputada com a Seleção em 1990, Ricardo Rocha chegava para se tornar o grande líder da defesa vascaína. Logo em sua apresentação ele já mostrou o seu espírito ao proclamar: “Com a minha chegada, o Vasco assegura o Tri”*. Já na linha de frente, o Vasco trouxe uma das maiores, talvez a maior, revelação do futebol brasileiro naquele momento. Com apenas 22 anos de idade e surgido na Portuguesa, o garoto Dener era daqueles que incendiava até partida em inverno russo. Descrições como “dono do futebol mais moleque que o torcedor brasileiro pôde ver desde Garrincha”**, apenas mostram o seu potencial e sua qualidade técnica. Resumo da ópera: chegavam para se juntar à base vascaína Bi-Campeã Estadual um zagueiro e um atacante que teriam vaga em quase todas as equipes do mundo.

Existe um velho ditado, que todos no mundo do futebol já escutaram ao menos uma vez, que diz que toda grande equipe começa por um grande goleiro. E o Vasco de 94 não desobedecia em nada estas palavras. Vestindo a camisa 1 da Colina estava o excelente Carlos Germano, um goleiro sóbrio e de uma segurança imensa que, aos 23 anos apenas, passava uma tranquilidade para equipe que poucos seriam capazes. Se a defesa sabia que atrás Carlos Germano tomaria conta de tudo, a proteção na frente não deixava nada a desejar. A dupla de volantes formada por Leandro Ávila, um prata-da-casa que caiu como uma luva na equipe mostrando excelente senso de marcação e bom passe para a saída de jogo, e Luisinho, um verdadeiro cão-de-guarda que já havia conquistado nada menos do que 4 títulos cariocas (Bi com o Botafogo em 89/90 e Bi com o Vasco em 92/93) e, na época, era jogador de Seleção Brasileira. Falando em Seleção Brasileira, o meia Yan, que comandava as ações ofensivas vascaínas com muita criatividade, havia acabado de se sagrar Campeão Mundial de Juniores com a camisa amarela, em 1993. A missão de Yan era bastante facilitada pela imensa qualidade da dupla de ataque cruzmaltina. Ao lado de Dener, estava o já bastante conhecido Valdir “Bigode”. Aos 22 anos de idade, Valdir já havia feito dupla com o eterno ídolo vascaíno Roberto Dinamite no título de 1992 e se sagrado artilheiro do Estadual na campanha vitoriosa de 1993. Apesar da pouca idade, Valdir já mostrava que possuía muito futebol e personalidade para ser um dos principais jogadores vascaínos. Em 1994, as defesas adversárias sofreriam muito com a velocidade e tiro certeiro do “Bigode”.

Logo na 1ª fase do Cariocão, o Vasco não deu chance para seus adversários. Das 11 partidas disputadas, o Gigante da Colina venceu 8 e empatou 3, fora os bailes que Flamengo (3 x 1) e Botafogo (2 x 0) levaram. Para fechar com chave-de-ouro a 1ª etapa do torneio, uma chinelada de 4 x 1 no Fluminense do goleador Ézio, na disputa pela Taça Guanabara. Um verdadeiro show da dupla Dener/Valdir, com direito à jogadas que deveriam estar expostas no Museu Nacional.

Para a disputa da fase final, que contaria com dois duelos entre todos os 4 classificados (Vasco, Fluminense, Flamengo e Botafogo), os rivais precisavam abrir os olhos com urgência, ou o Vascão seria, assim como em 1992, campeão invicto. Após as duas primeiras rodadas, o Vasco ainda se mantinha na liderança devido aos 2 pontos extras conquistados por ter sido a melhor equipe da 1ª fase, porém o Flamengo, com vitórias de 3 x 1 sobre Fluminense e Botafogo, começava a mostrar recuperação. Contando com uma dupla de ataque formada por Charles Baiano, que seria o artilheiro do torneio ao lado de Túlio Maravilha, do Fogão, e com o jovem e endiabrado Sávio, o Rubro-Negro vinha com tudo para impedir o Tri de seu rival. Quando, enfim, alguma equipe mostrava capacidade de tirar o título do Vasco e, para deixar o torneio ainda mais emocionante, as duas próximas rodadas seriam duelos entre Fla e Vasco, uma tragédia atingiu São Januário. Ou melhor, o futebol brasileiro. Em um acidente de carro morria, aos 23 anos, o genial Dener. Não é nem necessário falar o quanto os jogadores vascaínos sentiram a perda do amigo. A equipe, claro, ficou psicologicamente destruída, mas a luta não podia parar. Era a hora de homenagear o companheiro que tanto queria o título. Apesar da derrota para o Fla em um dos duelos, a primeira do time no campeonato, o Vasco chegava à última rodada dependendo somente suas forças para conquistar o caneco. O rival seria o Fluminense, que havia acabado de sapecar 7 x 1 no Botafogo e vencer o Flamengo.

Após estes dois triunfos seguidos do Tricolor, ninguém era mais capaz de dizer que o Campeonato estava no papo do Vasco. E tem mais! Com a vitória do Fla sobre o Fogo, por 2 a 0, a situação ficou a seguinte: Vasco e Fluminense se enfrentariam e o vencendor levaria o caneco para casa, porém em caso de empate o Flamengo ficaria com o título. Um final de torneio simplesmente espetacular. O Fluzão vinha para o jogo apostando nos gols daquele que ficou para a história como um de seus maiores ídolos: “Super Ézio”. Ézio chegou ao Fluminense em uma época em que rareavam títulos e dinheiro no clube e sempre mostrou uma dedicação impressionante dentro de campo e fora dele, além de um amor incondicional ao Tricolor. O Flu ainda contava com o fôlego do Alfinete, o canhão do Branco, a experiência do Jandir, as arrancadas do Luiz Henrique e a velocidade do Mário Tilico. O Fluminense possuía sim suas armas para derrotar o Vasco e levar o caneco para as Laranjeiras.

O dia 15 de maio de 1994 amanheceu com todos os vascaínos desejando a conquista inédita do Tri-Carioca. Os jogadores cruzmaltinos tinham em seus pés a oportunidade de conquistar algo que craques do calibre de Ademir Menezes, Roberto Dinamite e Romário não haviam conseguido. Consciente desta oportunidade de marcar o nome na história, Valdir e cia entraram em campo voando. Apenas três minutinhos após o juiz autorizar o início da partida, o lateral-deireito Pimentel é derrubado na área e o Vasco tem a chance de abrir o marcador na cobrança de pênalti. Porém, Yan bate a cobrança nas mãos do goleiro tricolor Ricardo Cruz e desperdiça a oportunidade de colocar sua equipe em vantagem. Geralmente, após um pênalti perdido, uma equipe tem seu rendimento prejudicado e vê seu oponente crescer. Não foi o que ocorreu. Logo aos 6 minutos, após lindo contra-ataque, Valdir recebe a pelota na esquerda, cruza para a área e o herói do dia aparece pela primeira vez. Ao escorar para o fundo do gol o cruzamento do “Bigode”, o esguio centroavante Jardel fez o Vasco colocar uma mão na taça do Cariocão. Um gol logo após perder um pênalti era tudo que o Gigante da Colina precisava. Até o final da 1ª etapa, o Vasco sempre teve as rédeas do jogo. Defensivamente, Ricardo Rocha e seus companheiros não deixavam Ézio sequer ver a cor da bola e, no ataque, os passes de Yan e a movimentação de Valdir infernizavam os tricolores. Vale ressaltar a versatilidade do camisa 7 vascaíno Valdir. Após atuar durante praticamente todo o torneio, de maneira excelente, ao lado de um jogador veloz e ágil como o Dener, Valdir agora cumpria, também com muita qualidade, o papel de parceiro do Jardel, um centroavante de enorme estatura e pouca mobilidade.

Tentando ganhar o controle do meio-campo e, consequentemente, o da partida, Delei, treinador do Flu, colocou em campo o lateral-esquerdo Lira e passou o Branco para a meiúca. E foi justamente pelo setor esquerdo da defesa tricolor que o Vasco voltou pressionando. Usando e abusando da ofensividade do lateral Pimentel e dos inúmeros buracos na defesa adversária, o Vasco quase ampliou a vantagem por quatro vezes. Isso mesmo, em 15 minutos, o Vasco criou um caminhão de oportunidades de balançar as redes. Cabeçada de Yan que assustou Ricardo Cruz, cabeçada de Jardel que acertou o travessão, chute longo de Valdir e, por último, finalização de Jardel, de dentro da área, que fez todo tricolor prender a respiração. “O Vasco dá um show. Taticamente falando, o Vasco dá um show. Movimenta todo o time do Fluminense ao seu bel-prazer.”, assim foi definida, naquele momento, a atuação vascaína, pelo comentarista da TV Bandeirantes Gérson “Canhotinha de Ouro”.

Para endereçar de vez o caneco para São Januário, o iluminado Jardel aproveita a arrancada de William e, aos 17 minutos, sacode o barbante. 2 a 0 Vascão! Era impossível controlar a festa cruzmaltina na arquibancada. O Fluminense ainda assustaria duas vezes. Primeiro, Mário Tilico, que nas vésperas da partida prometeu que o Flu venceria o campeonato, mas na hora do jogo pouco fez para cumprir suas palavras, perdeu um gol cara a cara com Carlos Germano. Mais tarde, Lira cobrou falta com muita categoria e carimbou a trave. Estes dois lances, porém, em nada diminuíram a força dos gritos de Tri-Campeão que já ecoavam pelo Maraca.

Faltando 15 minutos para o fim da partida, os gritos de “Tri... Tri... O Vasco é Tri... Tererê...” deram lugar às homenagens aos campeões. Todos eles tiveram seus nomes gritados pelos eufóricos vascaínos. Por fim, honras àquele que não pôde estar presente na festa. “Ê cafuné... Ê cafuné... O Dener é a mistura do Garrincha com o Pelé...”

Vasco 2 x 0 Fluminense
15 de maio de 1994
Maracanã – Público: 66121 pagantes
Gols: 1º tempo: Jardel (Vas) aos 6´; 2º tempo: Jardel (Vas) aos 17´.
Vasco: Carlos Germano; Pimentel, Ricardo Rocha, Alexandre Torres e Cássio; Leandro Ávila, Luisinho, William e Yan; Valdir e Jardel. Técnico: Jair Pereira.
Fluminense: Ricardo Cruz; Alfinete, Rau, Luís Eduardo e Branco; Jandir, Cláudio (Lira), Luiz Antônio e Luís Henrique; Mário Tilico e Ézio. Técnico: Delei.

*Revista Placar – Grandes Reportagens de Placar – Vasco
** Mini-Enciclopédia do Futebol Brasileiro – Lance!

2 comentários:

  1. Foi um jogo maravilhoso que tive a felicidade de assistir , e até hoje tenho saudades daquela época em que meu Vascão era soberano e ninguém ousava derrubar a tradição cruzmaltina , espero que todos mostrem empenho e dedicação e coloquem o Vasco no lugar que ele merece , no caminho das conquistas , a fila machuca qualquer um fanático como eu,sou Vascão até morrer !!!!!!!!!!!!!!!!

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    1. Nem me fale desse vasco , hoje. Passo mal com essa diretoria que só nós envergonha

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